"Sim", respondi, tentando manter a firmeza. "É o único jeito de descobrir o que aconteceu com a Clara."
Ele suspirou, um som longo e cansado.
Levantou-se e acendeu um pequeno abajur sobre a mesa.
A luz fraca iluminou seu rosto, e eu vi o quão velho ele parecia.
Oito anos de um luto silencioso e de um segredo pesado o haviam envelhecido décadas.
"Se você vai fazer isso", ele disse, abrindo uma gaveta de sua mesa, "você vai precisar disso."
Ele colocou um pequeno saco de veludo sobre a mesa.
Eu o abri.
Dentro, havia um maço de dinheiro e um pequeno colar de ouro com um pingente delicado.
Era o colar da minha mãe.
"Isso... isso é para quê?", gaguejei, confusa.
"Os Silva não aceitarão alguém que parece desesperada. Você precisa parecer que tem seus próprios recursos, que está fazendo isso por escolha, talvez por uma atração bizarra pelo poder deles", ele explicou, a voz ainda monótona, como se estivesse dando instruções para um procedimento médico. "O colar era da sua mãe. Use-o. Talvez te dê sorte."
Sorte.
A palavra soou como um insulto.
Minha mão tremeu ao tocar o colar.
Aquele gesto, que deveria ser de amor e proteção, pareceu frio, calculado.
Ele estava me equipando para a batalha, não tentando me salvar dela.
A raiva e a dor que eu segurei por anos explodiram.
"Pai!", minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. "Você não vai nem tentar me impedir? Você vai simplesmente me mandar para a morte, como fez com a Clara?"
O nome dela pairou no ar entre nós, uma acusação pesada.
Eu queria que ele gritasse de volta, que ele negasse, que ele me mostrasse um pingo daquele pai que um dia me protegeu de joelhos ralados e pesadelos.
Em vez disso, seu rosto se fechou.
A pouca emoção que havia ali desapareceu, substituída por uma máscara de frieza absoluta.
"Clara fez a escolha dela", ele disse, cada palavra uma faca gelada. "E você está fazendo a sua. Eu não posso te impedir."
"Escolha? Ela não teve escolha! Você a convenceu!", eu gritei, as lágrimas finalmente escorrendo pelo meu rosto.
"Eu não a forcei a nada", ele respondeu, virando-se para a janela, me dando as costas. "Ela era uma adulta. Assim como você."
A frieza dele era uma parede de gelo.
Impiedosa. Inexplicável.
Era como se ele estivesse falando com uma estranha, não com sua única filha restante.
"Eu não entendo você", sussurrei, a voz quebrada pela dor e pela confusão. "Você a amava. Você me amava. O que aconteceu com você?"
Ele não respondeu.
Apenas ficou ali, olhando para a escuridão lá fora, os ombros rígidos.
O silêncio era sua resposta.
Uma resposta que dizia que o pai que eu conhecia estava morto e enterrado, talvez junto com minha irmã.
Eu peguei o saco de veludo da mesa.
Meu coração estava em pedaços.
Eu vim até ele esperando um confronto, esperando uma luta, mas encontrei apenas um vazio.
Um abandono tão completo que doía mais do que qualquer golpe.
Eu me virei para sair.
Minha mão estava na maçaneta quando ele falou de novo, a voz ainda baixa, sem se virar.
"Sofia."
Eu parei, uma faísca de esperança idiota se acendendo em mim.
"Não confie em ninguém naquela casa. Especialmente em Pedro."
Foi tudo o que ele disse.
Não foi um "tome cuidado" de um pai preocupado.
Foi um aviso frio, quase um fato clínico.
Eu saí do escritório e fechei a porta atrás de mim, deixando-o sozinho com seus fantasmas e seu uísque.
Naquela noite, eu entendi.
Eu estava completamente sozinha nessa missão.
E meu próprio pai, por razões que eu não conseguia compreender, era agora parte do enigma que eu precisava resolver ou parte do monstro que eu precisava destruir.
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