Justiça Distorcida
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Capítulo 4

Na manhã seguinte, a notícia de que eu, Sofia Alves, filha do Dr. Ricardo Alves e irmã da primeira noiva, me ofereci para casar com Pedro Silva se espalhou pela cidade como fogo em palha seca.

Eu me lembro do calor do abraço do meu pai quando eu era criança.

Lembro dele me ensinando a andar de bicicleta, sua mão firme nas minhas costas, sua voz cheia de incentivo. "Você consegue, filha! Não tenha medo!"

Ele me contava histórias antes de dormir, histórias de heróis e de justiça.

Onde estava aquele homem agora?

Aquele pai que me diria para não ter medo, agora me empurrava para o centro do meu maior medo.

A memória doía, uma ferida aberta contra a frieza do presente.

O telefone começou a tocar sem parar.

Primeiro, foram os vizinhos, depois amigos distantes da família.

A reação foi universal: choque, seguido de desprezo.

A campainha tocou.

Era um mensageiro da família Silva.

Um convite formal. Eles aceitaram minha "proposta".

Meu tempo estava se esgotando. Eu tinha que ir.

Quando saí de casa para ir até a mansão dos Silva, uma multidão já estava formada na rua.

Eles não estavam lá para me apoiar.

Estavam lá para julgar.

"Olha ela aí! A caçadora de fortunas!", gritou uma mulher.

"Não tem vergonha? A irmã dela mal esfriou no túmulo!", disse um homem. As palavras dele me atingiram como pedras.

"Ela é tão gananciosa quanto o resto deles!"

"Louca! Está indo para a morte por dinheiro!"

Os sussurros e acusações vinham de todos os lados.

As pessoas que um dia me viram crescer, que sorriam para mim na rua, agora me olhavam com ódio e nojo.

Eu andava de cabeça erguida, o colar da minha mãe frio contra a minha pele, o dinheiro pesado na minha bolsa.

Eu era a atriz no palco deles, desempenhando o papel que meu pai me designou: a mulher fria e calculista.

De repente, alguém jogou um ovo.

Ele se espatifou no meu ombro, a gema amarela escorrendo pelo meu vestido.

O cheiro era horrível.

A multidão riu.

Outros objetos começaram a voar. Um tomate podre atingiu minha perna. Lixo. Pedras pequenas.

Eu continuei andando, sem acelerar, sem olhar para eles.

Cada insulto, cada objeto atirado, era combustível para a minha raiva, para a minha determinação.

Eles não sabiam de nada.

Eles não sabiam da Clara. Não de verdade.

Eles não sabiam o que era viver oito anos com a imagem de um braço enrugado assombrando seus sonhos.

No meio da multidão hostil, eu o vi.

Meu pai.

Ele estava parado do outro lado da rua, parcialmente escondido por uma árvore.

Ele não estava gritando. Não estava jogando nada.

Ele estava apenas... observando.

Nossos olhos se encontraram por um segundo.

A expressão dele era indecifrável.

Não era ódio. Não era orgulho. Não era pena.

Era uma mistura complexa de dor, de medo e de algo mais, algo que eu só entenderia muito mais tarde.

Uma resolução sombria.

Ele deu um aceno de cabeça quase imperceptível.

E então, ele se virou e foi embora, desaparecendo na multidão.

Aquele olhar, aquele aceno.

Não foi um adeus.

Foi uma confirmação.

O plano, qualquer que fosse o plano dele, estava em andamento. E eu era a peça principal.

Com o coração pesado, mas com a espinha ereta, eu cheguei ao portão da mansão dos Silva.

O carro luxuoso que me esperava parecia um carro fúnebre.

Eu entrei, a porta se fechou, e o barulho da multidão desapareceu.

O silêncio dentro do carro era mais assustador do que os gritos lá fora.

Eu estava entrando na fortaleza do inimigo.

A noiva número nove.

E eu jurei a mim mesma que seria a última.

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