Levantei-me da cama, o coração martelando contra as costelas. Ricardo ainda dormia profundamente, o rosto sereno, sem saber do pesadelo que nos esperava. Fui até a cozinha e comecei a preparar o café da manhã. O cheiro de ovos e bacon encheu a casa, um aroma de normalidade que contrastava violentamente com a tempestade dentro de mim.
Pedro e Paulo desceram as escadas pouco depois. Eles estavam em casa para o fim de semana da universidade.
"Bom dia, mãe", disse Paulo, com um sorriso sonolento.
"Bom dia, querida", disse Pedro, dando-me um beijo na bochecha.
O toque dele fez minha pele se arrepiar. Tive que usar toda a minha força de vontade para não recuar. Em vez disso, forcei um sorriso.
"Bom dia, meus amores. Dormiram bem? Preparei o café da manhã favorito de vocês."
Sentei-me à mesa com eles, observando cada movimento, cada expressão. Eu precisava ver os sinais que perdi na minha vida anterior.
"Então, como estão as aulas?", perguntei, tentando soar casual.
"Cansativas", respondeu Paulo, colocando uma grande porção de ovos no prato. "Mas estamos indo bem."
"É, a faculdade é puxada", acrescentou Pedro. Ele parecia um pouco pálido. Seus olhos tinham olheiras sutis.
Eu continuei a conversa, falando sobre banalidades, mas meus olhos estavam fixos em Pedro. Eu lembrava da minha própria gravidez, dos enjoos matinais, da sensibilidade a certos cheiros.
Decidi fazer um teste.
"Ah, quase esqueci!", exclamei, levantando-me. "Comprei aquele peixe que vocês gostam. Vou fritar um pouco para vocês levarem para a faculdade."
Fui até a geladeira e tirei um pacote de sardinhas. O cheiro forte e oleoso se espalhou pela cozinha assim que abri a embalagem.
Observei a reação de Pedro pelo canto do olho.
Ele engoliu em seco. Sua mão foi discretamente até a boca, como se estivesse tentando conter uma ânsia. Ele empurrou o prato de ovos para longe, a palidez em seu rosto se acentuando.
"Mãe, acho que... acho que não precisa", disse ele, a voz um pouco trêmula. "Já estamos satisfeitos."
Paulo olhou para o irmão, uma expressão de preocupação em seu rosto.
Bingo.
Eu tinha confirmado minha primeira suspeita. A náusea. O sinal clássico.
Continuei meu teatro. Guardei o peixe e voltei para a mesa com um copo de água.
"Você está bem, meu filho? Parece um pouco pálido", disse eu, colocando a mão em sua testa, fingindo preocupação. "Não está com febre."
"Estou bem, mãe. Só não dormi muito bem esta noite", ele mentiu, forçando um sorriso.
Eu sabia que ele estava mentindo. O medo em seus olhos era quase imperceptível, mas para mim, que já conhecia o final da história, era claro como o dia. Eles estavam escondendo algo. A gravidez já estava em andamento.
Naquela noite, depois que todos foram dormir, sentei-me em frente ao meu computador. Ricardo roncava suavemente ao meu lado. O silêncio da casa era pesado, cheio de segredos.
Com as mãos firmes, digitei na barra de pesquisa: "mini câmeras espiãs com áudio".
Centenas de opções apareceram. Escolhi as menores e mais discretas, com bateria de longa duração e transmissão ao vivo para o celular. Paguei pelo frete mais rápido.
A caçada havia começado. Eu precisava de provas concretas. Eu precisava ver com meus próprios olhos o que eles faziam quando achavam que ninguém estava olhando.
E eu não ia parar até conseguir.