O Retorno da Vingadora
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Capítulo 3

As câmeras chegaram no dia seguinte, em um pacote discreto. O entregador nem imaginava a caixa de Pandora que estava me entregando. Passei a manhã lendo as instruções, testando os minúsculos dispositivos na minha mão. Eram menores que uma moeda, perfeitas para o que eu planejava.

Eu precisava de uma desculpa para ficar sozinha em casa.

Na hora do almoço, anunciei: "Ricardo, querido, vou encontrar a Sofia hoje à tarde. Coisa de mulher, sabe? Vamos colocar o papo em dia."

Ricardo sorriu. "Claro, meu bem. Divirta-se. Eu vou aproveitar para organizar a garagem."

Era o álibi perfeito.

Esperei os meninos saírem para o quintal para conversar com o pai. Com o coração batendo forte, subi as escadas e entrei no quarto deles. O quarto que eu mesma decorei, com pôsteres de bandas e livros espalhados. Um santuário da adolescência que escondia uma verdade podre.

Instalei a primeira câmera no detector de fumaça no teto, que tinha uma visão panorâmica do quarto. A segunda, eu a escondi dentro de um despertador digital na mesa de cabeceira entre as duas camas. A terceira foi para o banheiro deles, disfarçada em um purificador de ar. Eu me sentia suja fazendo aquilo, invadindo a privacidade deles, mas a lembrança do meu próprio corpo sem vida no asfalto me dava a força necessária. A privacidade deles acabou no momento em que planejaram destruir a nossa.

Saí de casa, mas não fui encontrar Sofia. Fui a uma cafeteria a alguns quarteirões de distância, pedi um café que mal toquei e abri o aplicativo da câmera no meu celular. A imagem era nítida. O áudio, cristalino.

A espera foi angustiante. Por quase uma hora, vi um quarto vazio. Então, a porta se abriu. Pedro e Paulo entraram.

Eles fecharam a porta e, por um momento, apenas ficaram ali, em silêncio. A atmosfera mudou instantaneamente. A fachada de irmãos despreocupados desapareceu.

"Ele suspeita de alguma coisa?", perguntou Paulo, a voz baixa e tensa.

"Acho que não. A mãe também não. Ela ainda é a mesma boba de sempre", respondeu Pedro, com uma frieza que me gelou a espinha.

Boba. Era assim que ele me via.

Então, eles se moveram. Pedro se aproximou de Paulo e o beijou. Não era um beijo fraternal. Era um beijo longo, profundo, apaixonado. Senti meu estômago revirar. A prova do incesto estava ali, na tela do meu celular. Era pior do que eu imaginava.

Mas o verdadeiro choque ainda estava por vir.

Depois do beijo, Pedro tirou a camisa. E eu vi.

Meu cérebro se recusou a processar a imagem por um segundo. Eu pisquei, dei zoom na tela, pensando que estava vendo coisas.

Não estava.

Pedro, meu filho, o menino que eu criei, tinha seios. Seios pequenos, mas inegavelmente femininos, em desenvolvimento.

O ar sumiu dos meus pulmões. O quê? Como? Minha mente girava, tentando encontrar uma explicação lógica, mas não havia nenhuma. Eu estava olhando para o corpo de uma pessoa que não deveria existir. Um corpo que era masculino e feminino ao mesmo tempo.

A cena no celular continuou, tornando-se ainda mais perturbadora. Eles se deitaram na cama. Suas ações não deixavam dúvidas sobre a natureza de seu relacionamento. E no meio daquele ato depravado, vi o corpo de Pedro com uma clareza horrível. Ele tinha ambos os órgãos sexuais.

Eu deixei o celular cair na mesa. O barulho fez algumas pessoas olharem para mim. Eu mal notei.

Meu corpo inteiro tremia. Um zumbido alto preenchia meus ouvidos.

Pedro não era um menino.

Ou talvez ele fosse um menino e outra coisa ao mesmo tempo.

A gravidez... A gravidez de ambos... De repente, uma possibilidade monstruosa, biologicamente impossível, começou a se formar na minha mente.

Eu sentia náuseas. Corri para o banheiro da cafeteria e vomitei. Apoiei as mãos na pia, olhando meu reflexo no espelho. O rosto que me encarava era o de uma estranha, uma mulher cujo mundo inteiro tinha acabado de ser virado de cabeça para baixo e estilhaçado em um milhão de pedaços.

A verdade era muito, muito pior do que a minha pior imaginação. E eu tinha acabado de arranhar a superfície.

            
            

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