O Retorno da Vingadora
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Capítulo 4

Na manhã seguinte, eu mal conseguia olhar para Ricardo ou para os meninos. Cada sorriso, cada palavra trocada na mesa do café da manhã era uma tortura. As imagens da câmera estavam gravadas na minha mente, repetindo-se em um loop infernal.

Assim que eles saíram, peguei as chaves do carro. Eu não tinha um plano claro, apenas um destino. Dirigi como uma louca, com uma raiva fria me consumindo. Eu precisava de respostas. Precisava saber quem mentiu para mim.

Cheguei ao orfanato. A pintura desbotada e o parquinho enferrujado pareciam zombar das memórias felizes que eu tinha daquele lugar. Entrei e pedi para falar com a Sra. Almeida, a assistente social que cuidou do nosso processo de adoção.

Levaram-me a uma pequena sala nos fundos. A Sra. Almeida era agora uma senhora de cabelos brancos e óculos grossos, mas eu a reconheci imediatamente. Ela sorriu quando me viu.

"Ana! Que surpresa agradável! Como você está? E os meninos? Devem estar enormes!"

Eu não sorri de volta. Sentei-me na cadeira em frente à sua mesa, minhas mãos cerradas em punhos no meu colo.

"Sra. Almeida, preciso que seja honesta comigo. Sobre Pedro e Paulo."

A expressão dela mudou, notando minha seriedade. "Claro, querida. O que houve?"

"Quando adotamos os gêmeos, vocês nos deram todos os documentos. Certidões de nascimento, histórico médico... tudo. Vocês nos disseram que eram dois meninos saudáveis."

"E eram", ela confirmou, franzindo a testa. "Lembro-me perfeitamente. Dois garotinhos adoráveis."

Eu respirei fundo. "Sra. Almeida... Pedro não é um menino."

Ela me olhou como se eu tivesse enlouquecido. "Ana, o que você está dizendo? Claro que ele é um menino. Eu mesma dei banho neles quando chegaram aqui. São gêmeos idênticos."

A convicção em sua voz quase me fez duvidar da minha própria sanidade. Mas eu tinha a prova.

Tirei meu celular do bolso, abri a galeria e coloquei o vídeo na mesa, virado para ela.

"Então me explique isso", eu disse, a voz baixa e perigosa.

Ela pegou o celular, hesitante. Seus olhos se arregalaram enquanto assistia à cena. A cor sumiu de seu rosto. Sua boca se abriu e fechou, mas nenhum som saiu. Ela soltou o telefone na mesa como se ele a tivesse queimado.

"Meu Deus...", ela sussurrou, a mão no peito. "Isso... isso não é possível. Não pode ser."

"É possível. Eu vi com meus próprios olhos", insisti. "Alguém mentiu. Ou o hospital mentiu, ou vocês mentiram. Quem foi?"

Ela balançava a cabeça, em choque profundo. "Nós nunca... Ana, eu juro, nós não sabíamos. Isso é... monstruoso."

Ela se levantou, cambaleando, e foi até um antigo arquivo de metal no canto da sala. Suas mãos tremiam enquanto ela procurava pela pasta com o nome deles. Finalmente, ela a encontrou e a colocou sobre a mesa, abrindo-a.

"Olhe", disse ela, apontando para um documento amarelado. "A certidão de nascimento original do hospital onde foram abandonados. E o nosso registro de entrada."

Inclinei-me para ver. E o que vi só aumentou minha confusão.

Nos documentos oficiais do hospital, eles estavam registrados como um casal de gêmeos: um menino e uma menina. Paulo, masculino. E "Petra", feminino.

Mas nos registros de entrada do orfanato, feitos algumas semanas depois, ambos estavam listados como meninos: Paulo e Pedro.

"O que é isso?", perguntei, apontando para a discrepância.

"Eu não sei", disse a Sra. Almeida, a voz fraca. "Lembro que, na época, o médico do orfanato fez o exame de admissão e disse que houve um erro de digitação do hospital. Ele confirmou que eram dois meninos. Nós... nós simplesmente corrigimos o nome de 'Petra' para 'Pedro' em nossos arquivos internos e seguimos com o processo. Ninguém nunca questionou."

Um erro de digitação. Uma "correção" casual.

Uma mentira que começou no berço e que agora tinha florescido em algo grotesco.

Ficou claro para mim que aquilo não foi um acidente. Alguém, há muitos anos, deliberadamente escondeu a verdadeira natureza de Pedro. O médico do orfanato. Por quê? Ele foi pago? Ameaçado? Ou era algo ainda mais complicado?

Eu saí do orfanato com mais perguntas do que respostas, e com uma certeza aterrorizante: a conspiração para esconder a verdade sobre Pedro era muito mais antiga e profunda do que eu imaginava.

                         

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