Ela desceu as escadas lentamente, o coração batendo descompassado, pronta para confessar tudo, para implorar que ele a visse não mais como a menina que ele protegeu, mas como a mulher que o amava e carregava seu filho.
Mas seus passos congelaram no último degrau.
Miguel não estava sozinho. Ao lado dele, de mãos dadas, estava uma mulher deslumbrante, com um sorriso vitorioso. A luz do lustre da sala de estar parecia se concentrar nela, fazendo-a brilhar.
"Sofia, quero que conheça Laura", disse Miguel, seu tom era carregado de um carinho que Sofia raramente ouvia direcionado a si mesma. "Minha noiva."
A palavra "noiva" atingiu Sofia com a força de um soco no estômago. O ar lhe faltou. O teste de gravidez em seu bolso pareceu queimar contra sua pele. Ela olhou para o rosto radiante de Miguel, um rosto que ela conhecia melhor que o seu, e viu uma felicidade que não a incluía.
Laura se aproximou, seu perfume caro envolvendo Sofia, um cheiro de vitória e posse. "É um prazer finalmente conhecê-la, Sofia. Miguel fala tanto de você. Ele me disse que você é como uma irmãzinha para ele."
Cada palavra era um golpe. "Irmãzinha". Era assim que ele a via. Nada mais. A esperança que florescera em seu peito murchou e morreu instantaneamente.
"Prazer", Sofia conseguiu sussurrar, a voz rouca.
"Estamos planejando uma festa de noivado no próximo fim de semana", continuou Miguel, alheio à tempestade que se formava nos olhos de Sofia. "Quero que você esteja lá, claro. Você é família."
Família. A palavra soava como uma piada cruel. Ela era a guardiã de um segredo que poderia destruir aquela cena perfeita. Um filho. O filho dele. Um nó se formou em sua garganta, e ela apenas balançou a cabeça, incapaz de formular uma resposta.
Mais tarde, trancada em seu quarto, Sofia olhou para seu reflexo no espelho. Ela cresceu naquela casa, uma órfã acolhida pela bondade de Miguel depois que seus pais, amigos dele, morreram em um acidente. Ele era seu porto seguro, seu herói, seu tudo. Ela se lembrava de noites de infância, quando ele lia para ela até que adormecesse, das vezes que ele a defendeu na escola, do orgulho em seus olhos quando ela se formou em arquitetura paisagista.
Seu amor por ele cresceu em silêncio, como uma trepadeira se agarrando a um muro alto e inalcançável. Ela se contentava em ser a sombra dele, em viver sob sua proteção. Até aquela noite, um mês atrás. Uma festa na empresa, muito vinho, uma confusão de sentimentos e uma vulnerabilidade que os levou à cama dele. Para ela, foi a realização de um sonho secreto. Para ele, como ficava claro agora, fora um erro, um acidente a ser esquecido.
A notícia da festa de noivado foi o golpe final. A fantasia de que a gravidez poderia mudar tudo se desfez em pó. Ele iria se casar, construir uma família com Laura. E ela? O que ela seria? A "tia" solteira com um filho de origem misteriosa? A mancha em sua vida perfeita?
Ela não podia suportar essa humilhação.
Sofia olhou para as rosas que Miguel havia colocado em seu quarto no dia anterior, um gesto casual de carinho. Ela sempre se sentiu como uma rosa, cultivada com cuidado em seu jardim. Mas agora ela percebia a verdade. Ela não era a rosa, a rainha do jardim. Ela era a hera, a planta parasita que ameaçava sufocar a árvore que a sustentava.
Uma rosa podia viver por si mesma. A hera, uma vez cortada de seu suporte, morria.
Naquele momento, olhando para seu próprio rosto pálido e assustado no espelho, Sofia tomou outra decisão. Ela não seria a hera. Ela cortaria a si mesma fora, arrancaria suas próprias raízes, não importava o quão doloroso fosse. Ela iria embora. E levaria seu segredo com ela.