O Preço da Mentira
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, Sofia desceu para o café da manhã com uma calma assustadora. O rosto de Miguel estava iluminado, ele falava animadamente ao telefone sobre os preparativos para a festa de noivado, a voz cheia de uma alegria que feria Sofia fisicamente.

Ele desligou e sorriu para ela, um sorriso que antes aqueceria seu coração, mas que agora parecia gelado. "Bom dia, dorminhoca. Animada para a festa?"

"Claro", mentiu ela, forçando um sorriso em seus lábios. Cada músculo do seu rosto protestava.

"Laura virá mais tarde para decidirmos alguns detalhes da decoração. Sendo você uma arquiteta paisagista, talvez possa nos dar algumas ideias para o jardim", ele sugeriu, alheio ao turbilhão dentro dela. Ele via um problema de decoração, ela via o fim do seu mundo.

"Talvez", ela respondeu, a voz neutra.

"Você parece pálida, Sofia. Está tudo bem? Não está dormindo direito?" Ele franziu a testa, um lampejo de sua antiga preocupação protetora aparecendo.

"Só um pouco cansada. Muito trabalho na universidade", ela se esquivou, o coração batendo forte com medo de que ele pudesse ver através de sua mentira.

Miguel aceitou a explicação facilmente, sua mente já voltada para a noiva e o futuro brilhante que planejava. Ele não a via mais, não de verdade. Ela era apenas parte do cenário de sua vida, uma peça familiar no tabuleiro que ele agora estava reorganizando. Para ele, a conversa era sobre flores e luzes. Para Sofia, era uma despedida silenciosa.

Adeus, Miguel.

Ela passou o resto da manhã em seu quarto, fazendo uma ligação. A voz do outro lado da linha era profissional e sem emoção, agendando o procedimento para a tarde. Cada palavra que ela dizia parecia vir de outra pessoa, uma estranha fria e decidida que havia tomado posse de seu corpo.

Horas depois, ela estava deitada em uma mesa fria em uma clínica anônima, a luz forte do teto ofuscando sua visão. O cheiro de antisséptico enchia o ar, um cheiro limpo que contrastava com a sujeira que ela sentia em sua alma. Ela estava prestes a apagar a única conexão física que tinha com Miguel, o pequeno vislumbre de um "nós" que nunca existiria.

"Tem certeza disso, querida?", a enfermeira perguntou com uma gentileza que quase a quebrou.

Sofia engoliu em seco, o nó em sua garganta apertando. Ela pensou em Miguel e Laura, rindo juntos, planejando seu futuro. Uma lágrima solitária escorreu por sua têmpora e se perdeu em seu cabelo. "Tenho."

O médico entrou, seu rosto uma máscara de profissionalismo. Ele começou a explicar o procedimento, mas as palavras se transformaram em um zumbido distante. O frio da mesa parecia penetrar em seus ossos.

Foi então que seu telefone, deixado na mesinha ao lado, começou a tocar. O toque era o que Miguel havia definido para si mesmo anos atrás.

A enfermeira olhou para ela. "Quer que eu atenda?"

Sofia balançou a cabeça. Não. Ouvir a voz dele agora a destruiria. Ela fechou os olhos com força, tentando bloquear o som. Mas o toque continuou, insistente, uma tortura. Por que ele estava ligando para ela agora? Para pedir sua opinião sobre a cor dos guardanapos? Para dizer que Laura era a mulher da sua vida?

O telefone finalmente silenciou. O médico começou o procedimento.

Houve uma picada, um frio se espalhando por suas veias enquanto a anestesia fazia efeito. Sua última sensação consciente foi de vazio. Uma perda profunda e oca que ecoava em seu útero e em seu coração.

Quando ela acordou, sentia-se vazia. O pequeno caroço de vida, o segredo que ela carregou por semanas, havia desaparecido. Era apenas ela agora, sozinha. A enfermeira lhe deu um copo de água e alguns analgésicos.

No caminho para casa, no táxi, o mundo parecia cinza e sem cor. Ela não era mais a hera. Ela não era uma rosa. Ela não era nada. Apenas um espaço vazio onde algo precioso costumava estar.

            
            

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