Pedro chegou em casa pela manhã, trazendo croissants frescos e seu café favorito. Ele agia como se nada tivesse acontecido, o perfeito noivo atencioso.
"Bom dia, dorminhoca. Pensei em começar o dia mimando minha futura esposa."
Ele a beijou, mas Laura se esquivou sutilmente. Quando ele a abraçou, ela sentiu um cheiro diferente nele. Não era o sabonete de sândalo que eles usavam em casa, mas um perfume floral, doce e enjoativo. O mesmo perfume que Sofia usava. Ele havia passado a noite com ela.
A bile subiu pela garganta de Laura, mas ela forçou um sorriso. "Obrigada, querido. Você é o melhor."
Naquela tarde, eles tinham um compromisso na loja de noivas mais exclusiva da cidade para a prova final do vestido de Laura. Um vestido que Pedro havia encomendado de um designer milanês, uma peça única, um presente extravagante, como tudo que ele fazia.
Enquanto esperavam, uma vendedora se aproximou. "Senhorita Laura, sou Sofia. Vou ajudá-la hoje."
Laura congelou. Era ela. Sua meia-irmã, parada ali com um sorriso profissional no rosto, mas com um brilho triunfante nos olhos. Laura olhou para Pedro. O rosto dele ficou pálido por uma fração de segundo antes que ele recompusesse sua máscara de calma.
"Sofia. Que coincidência", disse Pedro, sua voz um pouco tensa.
"Sim, o mundo é pequeno, não é?", respondeu Sofia, seu olhar fixo em Laura.
Dentro do provador, enquanto Sofia a ajudava com os botões delicados do vestido de seda, sua voz era um sussurro venenoso.
"É um vestido lindo. Pedro tem um gosto excelente. Ele sabe como tratar uma mulher. Todas as mulheres dele."
Cada palavra era uma provocação deliberada. Laura olhou para o reflexo das duas no espelho. Ela, a noiva traída, e Sofia, a amante triunfante, unidas por um vestido de noiva e pela traição do mesmo homem. Era uma cena grotesca.
Laura se lembrou de como Pedro podia ser controlador. No início do relacionamento, ele ficava com ciúmes de seus amigos, de seus colegas de trabalho. Ele a isolou sutilmente, fazendo-a acreditar que seu amor era tão grande que ele não conseguia compartilhá-la com ninguém. Na época, ela interpretou isso como paixão. Agora, ela via como possessividade, um desejo de controle total. Talvez ele nunca a amou, apenas a possuiu. E agora, ele estava possuindo Sofia também.
Ela saiu do provador. Pedro a olhou com uma adoração ensaiada.
"Você está... perfeita. A noiva mais linda do mundo."
Mas seus olhos se desviaram por um segundo, procurando por Sofia. Ele não estava preocupado com a beleza de Laura, mas com o que Sofia poderia dizer, com o medo de ser exposto. Sua preocupação não era por ela, mas por si mesmo.
"Acho que o vestido está um pouco apertado", disse Laura, sua voz fria e calma. "Sofia, você pode me ajudar a tirar?"
Ela se virou e voltou para o provador, forçando sua rival a segui-la, a continuar a farsa. A guerra silenciosa entre elas havia começado.