A indiferença dele era mais uma confirmação de que eu estava fazendo a coisa certa. Ele não se importava com a empresa que eu ajudei a construir, nem com os documentos que eu dizia serem importantes. Sua prioridade era, e sempre seria, Daniel.
Com uma calma assustadora, eu liguei meu notebook. Abri minhas redes sociais e comecei o processo de apagar nossa história. Foto por foto, postagem por postagem. A viagem para a praia, nosso aniversário de casamento, o jantar com amigos. Cada clique era um pequeno corte, liberando o passado.
Enquanto eu fazia isso, uma notificação apareceu. Alex havia acabado de postar uma foto. Era uma selfie dele com Daniel, sorrindo, em um bar. A legenda dizia: "Com meu irmão. Sempre juntos."
Meu coração se apertou. Ele estava com Daniel, se divertindo, enquanto eu estava em casa apagando os vestígios da nossa vida juntos. A ironia era cruel. Fechei o notebook com força. O barulho ecoou na sala silenciosa.
Meu aniversário chegou alguns dias depois. Eu não esperava nada, então não fiquei desapontado quando Alex saiu cedo sem dizer uma palavra. Passei o dia trabalhando, tentando me manter ocupado. À noite, Carla me ligou, desejando feliz aniversário e me convidando para sair, mas eu recusei. Eu só queria que o dia acabasse.
Quando eu estava prestes a ir para a cama, a campainha tocou. Era Alex, segurando um pequeno bolo com uma única vela acesa.
"Feliz aniversário, Leo", ele disse, com um sorriso cansado. "Desculpe o atraso, o dia foi uma loucura."
Por um momento, meu coração vacilou. Aquele era o Alex que me fazia ter esperanças. O Alex que, em raros momentos, parecia se importar. Ele colocou o bolo na mesa e começou a cantar "Parabéns pra Você" desafinadamente. Eu me vi sorrindo, apesar de tudo.
"Faça um pedido", ele disse, seus olhos brilhando à luz da vela.
Minha mente viajou para o meu aniversário do ano anterior. Tínhamos planejado uma viagem, apenas nós dois. Estávamos com as malas prontas quando o telefone dele tocou. Era Daniel, dizendo que estava sendo expulso do apartamento e não tinha para onde ir.
Alex não hesitou. "Eu preciso ir, Leo. Ele não tem ninguém."
"E eu?", perguntei, minha voz falhando. "É meu aniversário, Alex."
"Eu sei, me desculpe. Eu te compenso, eu prometo", ele disse, já pegando as chaves. Ele me deu um beijo rápido na testa e saiu.
Ele nunca compensou. Passei meu aniversário sozinho, desfazendo as malas. Foi naquela noite que eu entendi, de uma vez por todas, o meu lugar na vida dele. Eu era o plano B, a rede de segurança. O amor dele, a devoção dele, pertenciam a Daniel. Eu era apenas o cara que estava lá para cuidar da casa enquanto ele vivia sua verdadeira vida.
Aquele momento foi o ponto de virada. Eu percebi que todo o "bem" que ele me fazia, todos os gestos gentis, não eram amor. Eram migalhas de uma atenção que ele me dava por conveniência, por culpa, talvez. Eram doces roubados, e eu não queria mais viver de coisas roubadas.
De volta ao presente, a vela no bolo continuava queimando. Alex me olhava, esperando.
O celular dele tocou. O nome "Daniel" brilhou na tela.
Alex olhou para o telefone, depois para mim, com uma expressão de desculpas. "Eu preciso atender."
Ele se afastou, sua voz baixando para um sussurro preocupado. "O que foi agora, Dani? Calma, eu estou a caminho."
Ele desligou e se virou para mim, a mesma expressão de sempre no rosto. "Leo, me desculpe. O Daniel..."
"Eu sei", eu o interrompi. "Pode ir."
Ele hesitou por um segundo, depois pegou o casaco e saiu, me deixando sozinho com o bolo e a vela.
Eu olhei para a pequena chama dançante. Fechei os olhos. No ano passado, meu desejo foi que Alex me amasse. Que ele finalmente me visse.
Este ano, meu desejo foi diferente.
"Eu desejo nunca mais te amar", sussurrei para o silêncio.
E então, eu apaguei a vela.