Eu mantive um sorriso calmo no rosto, respondendo a perguntas e apertando mãos. Por dentro, eu me sentia um ator em uma peça mal escrita.
No meio da festa, um dos organizadores subiu ao palco. "E agora, para um momento de nostalgia! Vamos abrir a cápsula do tempo que enterramos há cinco anos, na fundação da empresa!"
Houve um aplauso geral. Eu tinha esquecido completamente daquilo. Um grande caixote de madeira foi trazido ao palco. Dentro, havia cartas que cada um dos fundadores - incluindo eu, Alex e até mesmo Daniel, que era um dos sócios iniciais antes de vender sua parte - havia escrito para si mesmo no futuro.
As cartas foram distribuídas. A minha estava em um envelope amarelado, com meu nome escrito em minha própria caligrafia de cinco anos atrás. O organizador, um homem expansivo chamado Roberto, insistiu que lêssemos algumas em voz alta.
"Vamos começar com o nosso querido Leo!", ele anunciou, e todos os olhos se viraram para mim.
Meu coração gelou. Eu não me lembrava exatamente do que tinha escrito, mas tinha um mau pressentimento. Tentei recusar, mas a pressão foi grande demais. Com as mãos trêmulas, abri o envelope.
A voz de Roberto soou no microfone, lendo por cima do meu ombro.
"Querido eu do futuro", ele começou a ler. "Espero que você esteja feliz. Espero que finalmente tenha tido a coragem de dizer ao Alex o que sente. Eu o amo desde o primeiro dia em que o vi. Sei que ele está com o Daniel agora, e eles parecem perfeitos juntos. Mas uma parte de mim não consegue deixar de sonhar. Talvez um dia ele olhe para mim. Talvez um dia, eu seja suficiente. Se você estiver lendo isso e ainda não tiver dito nada, por favor, faça isso. A vida é curta demais para viver com medo."
Um silêncio mortal caiu sobre o salão. Eu podia sentir centenas de olhos em mim, cheios de pena, de choque, de fofoca. Meu rosto queimava de humilhação. Eu olhei para Alex. Ele estava pálido, seus olhos fixos em mim, a boca ligeiramente aberta. Ele parecia completamente perdido.
Aquele era meu segredo mais profundo, exposto para todo o mundo ver. O amor patético e não correspondido que eu nutri por uma década.
Alex deu um passo em minha direção, sua expressão indecifrável. "Leo, eu..."
Mas, como sempre, o destino interveio. O celular dele tocou. O som pareceu absurdamente alto no salão silencioso. Era Daniel.
Alex atendeu, seu rosto se contorcendo de preocupação. "O quê? Onde você está? Não se mexa, estou a caminho!"
Ele desligou e olhou para mim, depois para a multidão, completamente dividido. A escolha, no entanto, já estava feita. Ele sempre escolheria Daniel.
"Eu preciso ir", ele murmurou e saiu correndo do salão, me deixando sozinho no palco, sob os olhares de todos.
A festa acabou para mim naquele momento. Eu saí por uma porta lateral e vaguei pelas ruas, sem rumo. Horas depois, voltei para casa. A casa estava escura e vazia. Tomei um banho longo, tentando lavar a humilhação do meu corpo.
Não sei que horas eram quando ouvi a porta da frente se abrir. Alex entrou, seu terno estava amarrotado e havia um corte em seu lábio. Suas mãos estavam machucadas.
"O que aconteceu com você?", perguntei, minha voz sem emoção.
"O Daniel... ele se meteu em uma briga. Uns caras estavam o incomodando. Eu tive que intervir", ele disse, sua respiração pesada. Ele parecia exausto e perturbado.
Ele me contou os detalhes. Daniel, bêbado, tinha provocado um grupo de homens em um bar. Alex chegou bem a tempo de defendê-lo, trocando socos para proteger o homem que ele amava. A ferocidade que ele descreveu, a maneira como ele não hesitou em se machucar por Daniel, era algo que ele nunca faria por mim.
Eu o observei, uma sensação estranha de distanciamento tomando conta de mim. A dor e a humilhação de mais cedo tinham se transformado em uma calma fria. Eu vi a verdade da nossa relação exposta de forma brutal. Eu era o porto, mas o oceano dele sempre seria Daniel.
"Vou tomar um banho", ele disse, se aproximando de mim. Ele tentou tocar meu rosto, mas eu me afastei.
"Leo, sobre a carta...", ele começou a dizer.
"Não quero falar sobre isso", eu o cortei. "Estou cansado."
Fui para o quarto de hóspedes. Ele não me seguiu. Deitado na cama, eu ouvi o som do chuveiro. Eu sabia que, mesmo ali, debaixo da água, os pensamentos de Alex não estavam comigo, nem com a minha carta humilhante. Estavam com Daniel. Sempre com Daniel.