A Vingança da Filha Abandonada
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Capítulo 3

O olhar da minha mãe era curioso, mas ainda não hostil. Eu precisava pensar rápido.

"É que... tem aranhas aí em cima. Tenho medo."

Foi a desculpa mais idiota que consegui inventar. Minha mãe riu, uma risada curta e sem humor.

"Aranhas? Desde quando você tem medo de aranhas? Deixa de bobagem, menina."

Ela se virou e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ficou na ponta dos pés e puxou a caixa de sapatos velha. A caixa escorregou e caiu no chão com um baque surdo, espalhando seu conteúdo pelo piso. Desenhos infantis, fotos antigas e... o envelope branco.

Ele ficou ali, no meio de tudo, o logotipo da universidade virado para cima, inconfundível.

O silêncio no quarto era total. Minha mãe olhou do envelope no chão para mim. A mudança em seu rosto foi instantânea e terrível. O calor desapareceu, a expressão de carinho se transformou em uma máscara de gelo. Aconteceu de novo.

"O que é isso?"

A voz dela era baixa, perigosa. Ela se abaixou lentamente e pegou o envelope. Seus dedos rasgaram o papel sem cuidado, e ela puxou a carta. Seus olhos correram pelas palavras, e a cada segundo, seu rosto ficava mais duro.

"Então era por isso o nervosismo."

Ela se levantou, a carta amassada na mão.

"Você não ia nos abandonar, não é? Você só escondeu a prova do seu crime em outro lugar."

Eu dei um passo para trás, o medo me paralisando.

"Mãe, não é isso. Me deixa explicar. É uma bolsa de estudos, eu não ia gastar nada. Eu ia poder mandar dinheiro, ajudar vocês..."

"Ajudar?"

Ela riu, um som feio e amargo.

"Você ia nos esquecer na primeira semana. Ia arrumar um namorado rico e ter vergonha da sua família pobre. Acha que eu não sei como essas coisas funcionam?"

As palavras dela eram como pedras, me atingindo uma a uma. Cada uma delas era uma distorção cruel da verdade.

"Isso não é verdade! Eu amo vocês!"

Minha voz era um sussurro desesperado.

Foi nesse momento que meu irmão, Bruno, apareceu na porta. Ele viu a cena: minha mãe furiosa, eu encolhida, e a carta na mão dela.

"O que está acontecendo aqui? Mãe, por que você está gritando com a Lara?"

Uma faísca de esperança se acendeu em mim. Bruno. Ele sempre foi o mais calmo, o mais racional. Talvez ele pudesse me ajudar. Ele se aproximou e colocou a mão no ombro da nossa mãe.

"Mãe, se acalma. O que tem nesse papel que te deixou assim?"

Ele pegou a carta da mão dela. Ele começou a ler, sua testa franzida em concentração. Por um segundo, ele pareceu confuso. Então, ele levantou os olhos e olhou para mim. A decepção em seu olhar foi mais dolorosa que o tapa da minha mãe.

"Então os boatos da Júlia eram verdade..."

Ele murmurou, mais para si mesmo do que para mim.

"Bruno, não..."

Ele me interrompeu, sua voz agora fria como a da minha mãe.

"Você ia mesmo embora, Lara? Ia fugir e deixar a gente se ferrando aqui? Com as dívidas do pai, com tudo?"

A máscara dele caiu. O irmão protetor, o aliado, desapareceu. Em seu lugar, havia apenas mais um deles. Mais um carrasco.

"Eu não ia fugir! Eu ia ajudar!"

Ele balançou a cabeça, um sorriso cínico nos lábios.

"Ajudar... Claro. A gente sabe que tipo de 'ajuda' você ia mandar."

Eu estava cercada. Não havia para onde correr. A sensação de déjà vu era esmagadora, uma onda de desespero que me afogava. Eu estava presa no mesmo pesadelo, e todas as portas de saída estavam se fechando, uma por uma. Minha família, as pessoas que deveriam me proteger, eram meus piores inimigos. E o pior ainda estava por vir. Eu sabia disso. O som do carro do meu pai estacionando na frente de casa foi como uma sentença de morte.

            
            

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