Eu postava fotos nossas, de viagens, de jantares, dos nossos sete anos de casados. Ele nunca curtia. Nunca comentava. Dizia que "não tinha tempo para essas besteiras".
Mas para Patrícia, ele tinha tempo.
Meu coração começou a bater mais devagar, um baque surdo e frio no peito.
Levantei os olhos do celular e olhei ao redor do escritório.
O ar estava pesado.
As pessoas cochichavam pelos cantos, lançando olhares na minha direção e depois desviando rapidamente quando eu as encarava. Eles já sabiam. Provavelmente sabiam há muito tempo.
Senti o calor subir pelo meu rosto, uma vergonha que não era minha, mas que me consumia. Eu era a esposa enganada, a última a saber, o assunto da fofoca na hora do café.
Fechei o aplicativo e tentei me concentrar no relatório à minha frente, mas as letras dançavam na tela. A imagem do sorriso de Marcos para Patrícia estava gravada na minha mente. A forma como ele a olhava, com uma admiração que eu não via dirigida a mim há anos.
Ele chegou em casa tarde da noite, como sempre.
O cheiro de um perfume feminino que não era o meu impregnava seu terno caro.
"Dia difícil?", perguntei, minha voz saindo mais calma do que eu esperava.
Ele jogou a pasta no sofá e afrouxou a gravata, soltando um suspiro cansado.
"Você não faz ideia, Sofia. A Patrícia está se matando de trabalhar naquele projeto novo, e eu tive que ficar para ajudar. Ela é muito dedicada."
A menção do nome dela foi tão natural que me causou um calafrio.
Mostrei o celular a ele, com a foto ainda na tela.
"Vi que vocês parecem bem próximos."
A expressão de Marcos mudou de cansaço para irritação em um segundo. Ele pegou o celular da minha mão com brusquidão.
"O que é isso? Você está me espionando agora? É só uma foto de colegas de trabalho, Sofia. Para de ser paranoica."
"Eu não sou paranoica, Marcos. Eu vejo como você a trata. Você curte as fotos dela, elogia o trabalho dela na frente de todos. E eu? Quando foi a última vez que você sequer notou o que eu faço?"
Ele riu, um som seco e sem humor.
"Ah, por favor. Não vamos começar com esse drama. A Patrícia é uma funcionária valiosa, é meu dever como chefe incentivá-la. Você está fazendo uma tempestade em copo d'água. Está com ciúmes porque ela é competente?"
A acusação me atingiu. Eu havia sacrificado minha própria carreira, meus próprios sonhos, para apoiar a ascensão dele. Abandonei meu mestrado para que ele pudesse fazer o dele. Trabalhei em empregos medíocres para que ele pudesse se arriscar em sua própria empresa. E agora, ele me acusava de ter ciúmes.
Senti o sangue ferver, mas mantive a compostura.
"Não se trata de competência, Marcos. Se trata de respeito. Respeito pelo nosso casamento."
Ele passou a mão pelo cabelo, impaciente.
"Olha, eu estou exausto. Não tenho cabeça pra isso agora. A gente conversa amanhã. Eu prometo que vou dar mais atenção pra você, tá bom? Vou te levar pra jantar naquele lugar que você gosta."
Era uma promessa vazia, e nós dois sabíamos disso. Era a mesma promessa que ele fazia sempre que eu tentava conversar sobre nós.
O celular dele tocou nesse exato momento.
Ele olhou para a tela e seu rosto se suavizou.
"Preciso atender. É importante, do trabalho."
Ele se afastou, indo para a varanda. Sua voz era baixa, mas eu pude ouvir fragmentos. "Não, tá tudo bem... ela só tá um pouco estressada... Sim, amanhã a gente resolve... Boa noite pra você também."
Ele desligou e voltou para a sala, evitando meu olhar. A conversa tinha sido interrompida, como sempre. A promessa, já esquecida.
Na manhã seguinte, o inferno se instalou.
Abri meu computador no trabalho e vi uma postagem de Patrícia no feed da empresa, visível para todos os funcionários.
Era um texto longo e vitimista.
Ela falava sobre como era difícil ser uma mulher dedicada em um ambiente de trabalho competitivo, sobre como "certas pessoas" interpretavam mal a amizade e o profissionalismo, e como a "insegurança alheia" estava tentando prejudicar sua carreira. Ela não citou meu nome, mas não precisava. Todos sabiam para quem era a indireta.
O pior veio em seguida.
Abaixo do post, um comentário de Marcos.
"Patrícia, ignore as mentes pequenas. Sua dedicação e talento são inquestionáveis. Como seu superior, garanto que nenhuma fofoca mal-intencionada irá afetar sua posição ou seu crescimento na empresa. Conte com meu total apoio."
Era uma declaração de guerra.
Ele não estava apenas a defendendo, estava me humilhando publicamente, usando sua posição de poder para me silenciar e me isolar. Os olhares no escritório se tornaram ainda mais intensos, misturando pena e desprezo.
Meu telefone vibrou. Era uma mensagem de Marcos.
"Espero que agora você entenda. Pare de criar problemas. Se continuar com essa palhaçada, quem vai se dar mal é você."
Li a ameaça e um sorriso frio surgiu nos meus lábios.
Eu não senti mais dor, nem raiva. Apenas um vazio gelado. Ele tinha feito sua escolha.
Peguei meu telefone e disquei o número do meu advogado.
"Olá, Dr. Almeida. Sou eu, Sofia. Acho que está na hora de usarmos aqueles papéis."
Do outro lado da linha, um silêncio, e depois uma voz calma. "Você tem certeza, Sofia?"
"Absoluta", respondi, olhando para a tela do computador onde o post de Patrícia e o comentário de Marcos brilhavam como um letreiro de neon anunciando o fim.
Digitei uma resposta para Marcos, curta e direta.
"Ok."
Ele não entendeu. Achou que era uma rendição.
Mas era o contrário. Era a minha aceitação do fim.
Eu estava cansada de lutar por algo que já estava morto. Ele tinha esquecido o nosso compromisso, mas, no processo, me fez lembrar de algo que eu havia esquecido há muito tempo: eu mesma.
Ele podia ficar com o apoio dela, com a empresa, com a imagem de sucesso.
Eu ficaria com a minha liberdade.
E, pela primeira vez em muito tempo, eu senti que estava fazendo a escolha certa.