Decepção Amarga, Amor Verdadeiro
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Capítulo 1

Ricardo Silva verificou as passagens de avião pela décima vez naquela manhã.

Fernando de Noronha.

O destino que ele e Camila escolheram para celebrar cinco anos de casamento. Ele já conseguia imaginar o sol, a areia branca, o mar azul. Uma semana inteira, só os dois, longe da agitação de São Paulo, longe da empresa da família dela que consumia tanto de seu tempo.

Ele sorriu, guardando os bilhetes impressos em um envelope. Tudo estava perfeito. As reservas no hotel, os passeios, o restaurante especial para a noite do aniversário. Ele havia cuidado de cada detalhe.

Naquela noite, ele preparou o jantar favorito de Camila. A mesa estava posta, as velas acesas. Ele queria começar as comemorações mais cedo.

Camila chegou tarde, como sempre. Entrou apressada, jogando a bolsa no sofá.

"Ricardo, preciso falar com você."

A voz dela estava tensa. O sorriso de Ricardo desapareceu.

"Aconteceu alguma coisa no trabalho?"

"Aconteceu," ela disse, sem olhá-lo nos olhos. "Surgiu uma viagem de trabalho urgente. Preciso ir para a Europa amanhã de manhã. Uma feira de design, imperdível."

O silêncio na sala de jantar era pesado. O cheiro da comida, que antes parecia tão convidativo, agora era enjoativo.

"Amanhã?", ele repetiu, a voz baixa. "Mas e a nossa viagem? É o nosso aniversário, Camila."

"Eu sei, meu amor, eu sei", ela se aproximou, tentando abraçá-lo, mas Ricardo se enrijeceu. "É uma oportunidade única para a empresa. Eu não posso perder. A gente remarca Noronha, prometo. Assim que eu voltar, a gente vai."

Ele não disse nada. Apenas a observou enquanto ela falava sobre contratos e contatos importantes, sobre como aquilo seria bom para o futuro deles. As palavras dela soavam vazias, ensaiadas.

Na manhã seguinte, ele a levou ao aeroporto. O beijo de despedida dela foi rápido, frio. Ele a observou caminhar em direção ao portão de embarque, uma sensação ruim se formando em seu peito.

Sozinho em casa, o silêncio era esmagador. Ele pegou o celular, sem um motivo real, e abriu o Instagram. Foi quando ele viu.

Uma foto postada por uma amiga em comum.

A foto não era na Europa. Era em Fernando de Noronha.

Nela, Camila sorria, radiante. Ao lado dela, abraçando-a pela cintura, estava Lucas Mendes, seu ex-namorado da faculdade. Lucas usava uma pulseira de couro que Ricardo reconheceu na hora. Ele mesmo tinha visto Camila comprá-la online semanas atrás, dizendo que era para um primo.

O celular quase caiu da sua mão. Ele deu zoom na imagem. O sol, a areia, o mar azul. O mesmo cenário dos seus sonhos. Só que ele não estava lá.

A legenda da foto dizia: "O amor está no ar! Surpresa em Noronha com os pombinhos!"

Ricardo sentiu o ar faltar. A dor da traição era física, uma pressão no peito que o impedia de respirar. Ele se sentou no sofá, olhando para o vazio, a imagem gravada em sua mente. A viagem de trabalho urgente. A mentira descarada.

Ele passou o resto do dia e a noite em um torpor. Não comeu, não dormiu. Apenas ficou ali, revivendo cada mentira, cada desculpa, cada sinal que ele havia ignorado.

Dois dias depois, Camila ligou. A voz dela era animada, cheia de falsas saudades.

"Oi, meu amor! Como você está? Aqui está uma loucura, muito trabalho, mas estou pensando em você."

Ricardo respirou fundo. Sua voz saiu estranhamente calma, fria.

"Que bom que está aproveitando o trabalho, Camila."

"Ah, você não imagina. Mas e você? O que está fazendo?"

"Estou bem. Focando em alguns projetos," ele mentiu, a voz monótona.

Houve uma pequena pausa do outro lado da linha. A calma dele a desestabilizou. Ela esperava lamentações, cobranças.

"Você não parece bem, Ricardo. Está com raiva de mim? Eu já disse que a gente vai compensar."

"Não estou com raiva," ele disse. "Apenas ocupado. Tenho que desligar agora. A gente se fala."

Ele desligou antes que ela pudesse responder. A calma não era fingimento. Algo dentro dele havia se quebrado, e no lugar da dor e da raiva, havia apenas um vazio gelado.

Quando Camila voltou, uma semana depois, ela agia como se nada tivesse acontecido. Entrou em casa sorrindo, com uma caixa de presente na mão.

"Trouxe um presente para você! Para compensar."

Ela o abraçou, mas ele não retribuiu. Permaneceu parado, um corpo rígido em seus braços. Ela se afastou, sem graça.

"O que foi, Ricardo? Ainda está chateado?"

Ele olhou para a caixa que ela estendia. Era um relógio caro, de uma marca famosa.

"Onde você comprou isso?", ele perguntou.

"Na Itália, claro. Na loja oficial, durante a feira."

Ricardo pegou a caixa. Abriu. Olhou o relógio e depois olhou para a nota fiscal que estava discretamente dobrada no fundo. A nota era do free shop do aeroporto de Guarulhos. Comprado na volta.

Ele colocou o relógio de volta na caixa e a empurrou sobre a mesa, de volta para ela.

"Não quero."

"Ricardo, qual é o seu problema? Eu tento te agradar e você age assim?"

Ele a ignorou e foi até a própria gaveta, pegando um envelope. Jogou-o sobre a mesa, ao lado da caixa do relógio.

"Aqui está o seu presente de aniversário."

Camila abriu o envelope. Dentro, não havia um cartão carinhoso, nem a joia que ela esperava. Havia um cheque. Um valor alto, o suficiente para comprar vários relógios como aquele.

Os olhos dela se arregalaram, primeiro em surpresa, depois em fúria.

"O que é isso? Dinheiro? Você está me dando dinheiro?"

"É mais prático," ele disse, a voz sem emoção. "Assim você pode comprar o que realmente quer."

"Você enlouqueceu? Onde está o Ricardo que preparava surpresas, que escrevia cartas?"

"Ele provavelmente ficou em casa enquanto você estava em sua 'viagem de trabalho'," ele disse, e pela primeira vez, olhou diretamente para ela.

Ele apontou para o pescoço dela.

"Colar bonito. Novo?"

Camila instintivamente levou a mão ao pescoço, onde usava um delicado colar de concha. Seus olhos se encheram de pânico. Ela tinha esquecido de tirar. Era um presente de Lucas.

"Foi... foi um presente de uma cliente," ela gaguejou.

"Uma cliente chamada Lucas Mendes?", ele perguntou, a voz cortante.

O rosto de Camila perdeu toda a cor. Ela ficou sem palavras, a boca aberta em um "o" silencioso de puro choque e culpa. O jogo havia acabado. E Ricardo, pela primeira vez em muito tempo, sentia que estava no controle.

            
            

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