Decepção Amarga, Amor Verdadeiro
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Capítulo 2

Nos dias seguintes, Ricardo se tornou um estranho em sua própria casa. Ele saía cedo para o escritório e voltava tarde, mergulhando no trabalho como um náufrago se agarra a um destroço. Evitava Camila a todo custo. As refeições eram silenciosas, as noites passadas em quartos separados. Ele trocou a fechadura do seu escritório em casa.

Numa sexta-feira, em vez de ir direto para casa, ele dirigiu até um bar que não frequentava desde antes do casamento. Ligou para seus velhos amigos da faculdade, aqueles que Camila sutilmente o afastara com a desculpa de que "não combinavam com o novo status social deles".

"Ricardo? Sumido! Aconteceu alguma coisa?", disse Pedro, seu melhor amigo, do outro lado da linha.

"Só quero tomar uma cerveja. Pode ser?", respondeu Ricardo, a voz mais leve do que estivera em semanas.

Quando chegou, Pedro e mais dois amigos, André e Tiago, já estavam em uma mesa. O abraço que recebeu foi genuíno, forte.

"Cara, você está com uma cara péssima", comentou André, direto como sempre.

"Problemas no paraíso?", perguntou Tiago, mais cauteloso.

Ricardo pediu uma cerveja e tomou um longo gole antes de responder.

"O paraíso era uma ilusão."

Ele contou tudo. A viagem, a mentira, a foto no Instagram, o colar. Contou sem emoção, como se estivesse narrando a história de outra pessoa. Seus amigos o ouviram em silêncio, a indignação crescendo em seus rostos.

"Aquela mulher...", começou Pedro, cerrando os punhos. "Eu nunca confiei nela."

"O que você vai fazer?", perguntou André.

"Eu vou me divorciar", Ricardo disse, a decisão soando alta e clara no barulho do bar. "Vou seguir em frente."

Dizer aquilo em voz alta foi libertador. Um peso saiu de seus ombros. Ele não era mais a vítima magoada, ele era um homem tomando as rédeas de sua vida.

Enquanto eles conversavam, o celular de Ricardo não parava de vibrar sobre a mesa. Mensagens e ligações de Camila. Uma atrás da outra.

"Você não vai atender?", perguntou Tiago.

Ricardo olhou para a tela, viu o nome "Camila" piscar e desligou o aparelho.

"Não."

Era irônico. Por anos, foi ele quem ligava, quem mandava mensagens, quem esperava ansiosamente por uma resposta dela enquanto ela estava "ocupada no trabalho". Agora, os papéis estavam invertidos. A sensação não era de prazer, mas de uma triste confirmação de tudo que ele havia perdido e, agora, estava recuperando: sua paz.

Eles pediram outra rodada de cerveja. Ricardo começou a rir de uma piada de Pedro, uma risada de verdade, que vinha do fundo. Fazia muito tempo que ele não se sentia tão leve.

Foi então que ele a viu.

Camila estava parada na entrada do bar, os olhos varrendo o local até encontrá-lo. Seu rosto mostrava uma mistura de alívio e irritação. Ela caminhou decidida até a mesa deles.

"Ricardo! O que você está fazendo aqui? Eu te liguei mil vezes! Fiquei preocupada!"

A voz dela era alta, performática, feita para que todos ao redor ouvissem o quanto ela era uma esposa dedicada.

Os amigos de Ricardo se calaram, o clima na mesa ficou tenso.

"Estou com meus amigos, Camila. Como você pode ver", ele respondeu, calmamente.

"Com eles?", ela disse, olhando para Pedro e os outros com desprezo. "Pensei que tivéssemos superado essa fase. E você nem me avisou. Eu preparei o jantar."

Ela tentou pegar a mão dele, um gesto de posse.

"Vamos para casa, querido. A gente conversa."

Ricardo puxou a mão de volta, o movimento brusco e definitivo.

"Não, Camila. Nós não vamos para casa. E não temos mais nada para conversar."

O rosto dela se contraiu.

"O que é isso? Uma cena de ciúmes por causa da viagem? Ricardo, não seja infantil."

"Ciúmes?", ele riu, uma risada sem humor. "Não se iluda, Camila. Ciúmes é para quem ainda se importa. Eu só estou cansado. Cansado das suas mentiras."

A palavra "mentiras" pairou no ar. Camila olhou ao redor, constrangida, vendo que algumas pessoas nas mesas próximas os observavam.

"Não vamos discutir isso aqui", ela sibilou, a voz baixa e furiosa. "Vamos embora. Agora."

"Eu não vou a lugar nenhum com você", ele disse, levantando-se. "Eu vou ficar com os meus amigos. Você pode ir."

Ele se virou, dando as costas para ela, um ato final de demissão.

Camila ficou parada por um momento, chocada com a rejeição pública. Ela o seguiu quando ele se dirigiu ao banheiro.

"Ricardo, pare com isso! Você está me envergonhando!"

Ele continuou andando, sem olhar para trás.

"Isso não é sobre você, Camila. É sobre mim. Sobre eu não querer mais viver uma farsa."

Ele entrou no banheiro masculino e fechou a porta na cara dela. Podia ouvi-la do outro lado, batendo e chamando seu nome, a voz misturada com raiva e uma ponta de desespero. Ele encostou a testa na porta fria, respirando fundo. O confronto o deixara exausto, mas também estranhamente calmo. A porta final para o seu antigo eu havia sido fechada.

            
            

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