Decepção Amarga, Amor Verdadeiro
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Capítulo 4

A viagem para Portugal não era um capricho. Ricardo tinha um antigo professor da faculdade, Afonso, que se mudara para Lisboa anos atrás e se tornara uma referência em arquitetura sustentável, a área que Ricardo sempre quis explorar mas que Camila considerava "pouco lucrativa". Ele havia entrado em contato com Afonso, que o convidou para conhecer seu escritório e discutir uma possível parceria.

Afonso o recebeu no aeroporto com um abraço caloroso.

"Ricardo! Que bom te ver, meu rapaz! Mas você está com uma aparência terrível."

Ricardo sorriu, um sorriso cansado.

"Longa história, professor."

Nos dias seguintes, Ricardo mergulhou no trabalho de Afonso. Ele visitou projetos, conheceu a equipe e passou horas discutindo ideias. Sentiu uma paixão pela arquitetura que não sentia há anos.

"Você tem um talento nato para isso, Ricardo", disse Afonso, durante um almoço. "Sua visão é inovadora. Por que você ficou tanto tempo projetando prédios comerciais sem alma em São Paulo?"

"Era o que a empresa da Camila fazia", respondeu Ricardo, a menção ao nome dela soando distante.

"Ah, a Camila", disse Afonso, com um sorriso. Ele pegou seu celular. "Falando nela, ela me mandou uma mensagem outro dia, perguntando como você estava. Disse que não conseguia falar com você. Vocês parecem muito apaixonados, ela até te chama de 'Meu Amor' no contato."

Afonso mostrou a tela do celular para Ricardo. O apelido "Meu Amor" ao lado da foto de Camila fez o estômago de Ricardo revirar. Era o mesmo apelido que ela usava para Lucas.

"Professor", disse Ricardo, sério. "Eu e a Camila não estamos mais juntos. Estamos nos divorciando."

Afonso ficou chocado.

"Meu Deus, Ricardo. Eu sinto muito. Não fazia ideia."

"Está tudo bem. Na verdade, é o melhor a fazer", disse Ricardo, com firmeza. "Eu só peço que não comente mais nada com ela. É um assunto encerrado para mim."

Afonso, um homem sensível e perspicaz, entendeu a mensagem.

"Considere o assunto encerrado. Agora, vamos falar do futuro. Eu tenho uma proposta para você. Quero abrir uma filial do meu escritório no Porto, e quero que você seja meu sócio e a lidere."

Ricardo ficou sem palavras. Era a oportunidade de sua vida. Uma chance de recomeçar, profissional e pessoalmente, em um lugar novo, fazendo o que amava.

"Eu... eu aceito", ele disse, a emoção tomando conta de sua voz pela primeira vez em semanas.

Naquela mesma tarde, seu celular tocou. Era um número desconhecido. Ele atendeu.

Era Camila. A voz dela era um grito.

"RICARDO SILVA, O QUE VOCÊ FEZ?"

Ele se afastou do telefone, o volume era ensurdecedor.

"Do que você está falando, Camila?"

"Do meu sistema! Do meu trabalho! Por que você bloqueou seu acesso? O departamento de TI disse que foi um pedido seu! Como você ousa fazer isso sem falar comigo? Eu preciso de uns arquivos do seu drive para uma apresentação urgente!"

A emergência dela, como sempre, era a única coisa que importava.

"Problema seu", ele respondeu, a voz fria como gelo.

"Problema meu? Ricardo, nós somos um time! A empresa é nossa!"

"Não, Camila. A empresa é sua. Da sua família. Eu era apenas um acessório conveniente. E sobre os arquivos, peça para o seu novo 'fornecedor'. Tenho certeza que Lucas adoraria te ajudar."

O sarcasmo em sua voz era palpável. Ele podia ouvir a respiração ofegante dela do outro lado da linha.

"Isso é por causa do Lucas? Você está misturando as coisas! Isso é profissional!"

"Você misturou o pessoal com o profissional quando me traiu com ele na viagem de aniversário que deveríamos fazer juntos!" A voz de Ricardo se elevou, a calma finalmente se quebrando. "Você usou a empresa, nossa vida, como desculpa para as suas mentiras. Então, sim, agora é pessoal. E profissional. Resolva seus próprios problemas."

"Você não pode fazer isso comigo!", ela gritou, a voz beirando a histeria.

"Eu já fiz."

Ricardo sentiu uma onda de raiva tão intensa que suas mãos tremeram. Ele entrou no carro alugado e bateu com força no volante. Uma, duas, três vezes. A dor em sua mão era um alívio bem-vindo para a dor em seu peito. Era a raiva de anos de dedicação jogados fora. A raiva por ter sido tão cego.

Ele respirou fundo, tentando se acalmar. Camila ainda gritava no telefone.

Ele não disse mais nada. Apenas levou o celular à orelha, apertou o botão vermelho e desligou. Em seguida, desligou o aparelho completamente.

O silêncio no carro era absoluto. Ele olhou para a vista de Lisboa pela janela. Uma cidade antiga, cheia de história, pronta para um novo futuro. Assim como ele.

                         

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