"Mariana", disse Sofia, sua voz clara e firme, cortando o choro dela. "O que você está fazendo?"
"O que eu estou fazendo?", Mariana repetiu, como se estivesse ofendida. "Eu estou lutando pelo meu amor! Você roubou o Lucas de mim!"
Sofia desceu um degrau. "Eu roubei o Lucas de você? Que interessante. Pelo que eu saiba, eu era a noiva dele. O noivado foi cancelado hoje. Se você o ama tanto, deveria estar feliz. Ele está livre agora. Vocês podem ficar juntos."
A lógica simples de Sofia deixou Mariana sem palavras por um segundo. A multidão de curiosos começou a murmurar. A história não parecia ser tão simples quanto a mulher chorosa fazia parecer.
"Mas... mas você o humilhou! Você o descartou!", gaguejou Mariana, tentando recuperar o controle da narrativa. "E você me humilhou! Mandando um presente como se eu fosse uma qualquer!"
"Eu não o descartei, eu o libertei", corrigiu Sofia. "E o presente foi um gesto de boa vontade. Pensei que você ficaria feliz em receber algo do homem que ama. Mas parece que sua intenção aqui não é lutar pelo amor, e sim criar um escândalo."
O rosto de Mariana ficou vermelho. Ela não esperava essa reação calma e calculada. Ela esperava gritos, acusações, uma briga que a colocaria no papel de vítima.
"Você é uma mulher cruel e sem coração!", gritou Mariana, como último recurso.
"Talvez", concordou Sofia, com um leve sorriso. "Mas eu não sou uma mentirosa. Agora, se me der licença, você está fazendo uma cena na frente da minha casa. Por favor, vá embora."
Sofia se virou e entrou, fechando a porta atrás de si, deixando Mariana do lado de fora, exposta aos olhares e sussurros do público. A humilhação era palpável.
No dia seguinte, Sofia recebeu um bilhete de Lucas. Ele queria encontrá-la. Queria "esclarecer as coisas". Ele marcou o encontro para o dia seguinte, em um restaurante caro. Sofia sabia que dia era aquele. Era o aniversário dela. Na vida passada, ele se esqueceu completamente.
Ela aceitou o convite.
Quando chegou ao restaurante, Lucas e Mariana já estavam lá. Ele a fez esperar. Claramente, a intenção era mostrar que Mariana era a prioridade.
"Sofia, você chegou", disse Lucas, com um tom de reprovação.
"Você me convidou, Lucas. Eu vim", ela respondeu, sentando-se.
"Eu não acredito no que você fez com a Mariana ontem", ele começou, pulando qualquer tipo de gentileza. "Ela é uma mulher sensível. Você a humilhou publicamente."
Sofia olhou para ele, depois para Mariana, que tinha uma expressão de sofrimento ensaiado no rosto. "Eu não a humilhei, Lucas. Eu apenas disse a verdade. Ela foi até a minha casa para fazer um escândalo, e eu não entrei no jogo dela. A verdade, às vezes, é desconfortável."
"Você não sabe de nada!", ele disse, irritado. "Eu estava apenas ajudando Mariana como um velho amigo!"
"Um velho amigo que segura a mão dela em cafés, que a consola em detrimento da própria noiva, que compra presentes caros para ela?", Sofia rebateu, sua voz ainda calma.
Lucas ficou sem fala. Ele não sabia que ela sabia tanto.
"Não vamos discutir isso agora", ele disse, tentando mudar de assunto. "Vamos almoçar."
Ele fez o pedido para os três. Sofia observou em silêncio. Ele pediu todos os pratos favoritos de Mariana. E para ela, ele pediu um prato com frutos do mar.
Sofia era alérgica a frutos do mar. Uma alergia grave, que a levava para o hospital. Em dois anos de relacionamento, ele nunca percebeu. Ou nunca se importou em saber.
A comida chegou. O prato de Sofia foi colocado na sua frente, o cheiro forte de camarão enchendo o ar. Na sua vida passada, ela teria ficado em silêncio, apenas afastando a comida, para não criar problemas.
Mas esta não era a vida passada.