Conforme me aproximo da cozinha, meu corpo começa a ficar inquieto, a porta lateral da cozinha esta entreaberta fazendo o ressinto ficar gelado, ao me aproximar da bancada ouço ruídos altos vindo além da porta, ou seja, da floresta que rodeava a casa. Então ao ouvir um berro vindo daquele local, parecido como alguém sendo torturado, me escondo por trás da mesa.
Apesar da temperatura estar muito baixa, minhas mãos suam estendidas ao lado do meu corpo. Sinto no ar o cheiro mais doce que já sentira na vida, vindo das árvores bruxuleantes largadas a própria sorte naquela terra de ninguém. Minha boca começa a ficar seca e um gosto de ferro surge sobre a minha língua embrulhando o meu estômago. Ouvia agora o assovio longo e triste do vento passando entre meio as árvores, então do nada instalou-se um silêncio ensurdecedor. Resolvo levantar e caminhar até o balcão novamente e ao olhar para a porta vislumbro a silhueta de um homem, me movimento em pânico numa tentativa fútil de sair daquele local, infelizmente o garoto me nota ali em estado de choque, então me vejo mergulhando dentro de seus olhos verdes.
Minhas pernas tremem, e o suor começou a brotar em minha testa, um arrepio gelado percorre minha coluna, não consigo respirar... preciso de ar, minha visão embaça e sinto as mãos daquele garoto percorrerem meu corpo, deixando um rastro quente em minha pele, sua voz me acaricia ao me perguntar algo que não consigo entender, ele pressiona o corpo dele ao meu contra a pia da cozinha para eu não cair e também não poder escapar, sinto todos os seus músculos tensos sobre suas roupas pretas.
Porque ele está tenso? ele estava me encurralando, eu que deveria estar me sentindo tensa. Assim que me curvo para frente arquejando ao sentir uma onda forte de enjoo, a mão dele desliza de minha cintura e brinca com os cabelos em meu ombro e pescoço, ouço ele falar algo mais alto, mas os zumbidos em meus ouvidos não me deixam entender absolutamente nada do que ele está falando.
Então sinto outro toque, e todo aquele mal estar parece diminuir, porém, o dono daqueles olhos na qual me prenderam e me acariciaram parece estar relutante em me soltar, ele aperta minha cintura uma última vez e desaparece do meu campo de visão, assim como tudo a minha volta, então eu caio desmaiada ao chão.
Acordo deitada em meu quarto, confusa e com uma dor de cabeça latejante, o que será que aconteceu comigo? Então, lembro-me do ocorrido. De quem eram aqueles olhos? Aquele toque quente que mexeu comigo? Quem será que era essa pessoa? E aliás... como fui parar em meu quarto depois do desmaio? Ainda estava zonza, e meu coração ainda martelava em no peito, fui ao banheiro lavar o rosto para tentar me acalmar e clarear a mente.
Quando estava indo em direção ao quarto para me deitar novamente, começo a escutar as vozes dos convidados e de meus pais na sala, tento escutar o que conversavam.
-Sua filha está melhor senhora Owen? - pergunta o homem mais velho
-Claro, está ótima... só precisa de um descanso - diz Sharon, que pelo tom de voz parece estar com um sorriso nos lábios - ela já passou por coisas piores.
-É uma menina forte senhor Moore - Mike acrescenta em um tom mais reservado.
-Vejo que vocês têm somente a Ada - diz o senhor Moore- não pensaram em ter mais filhos?
-Já pensamos sim, porém, Deus não quis que tivéssemos ninguém mais além da Ada- Diz Mike tristemente.
Quando Mike e Sharon me adotaram, eles estavam tentando já havia algum tempo ter filhos, a primeira tentativa infelizmente não tinha dado certo, Sharon teve um abordo instantâneo, estávamos sozinhas e a casa foi invadida por vampiros, consegui chamar a polícia, mas infelizmente não consegui salvar o bebe. Na segunda tentativa, Sharon e Mike tinham conseguido o tão sonhado filho, porém, poucas semanas depois que ela e o bebe tinham voltado do hospital, eu fiquei doente e Sharon fez questão de ficar comigo no hospital, porque ela achava que na verdade eu estava com ciúmes do novo integrante da família, mas eu estava com a apêndice quase estourando. Mike havia saído para trabalhar e o bebe tinha ficado com uma conhecida dos meus pais, e quando voltamos para casa, o bebe estava amarrado ao lustre, sangrando como um pedaço inútil de carne, aquilo foi horrível. Sharon precisou de anos para se recuperar psicologicamente daquilo, a amiga de Sharon foi encontrada morta no quarto do bebe e a polícia nunca conseguiu achar os culpados. A maior parte do tempo eu ficava com os pais das minhas amigas, porque me sentia responsável pelo que acontecera, o enterro tinha sido rápido, pois precisei voltar ao médico porque eu tinha piorado e precisava passar por uma cirurgia urgente. Então assim que tudo melhorou, decidimos deixar aquela casa e abandonar aquelas lembranças horríveis, começando do zero em um novo lugar.
Caminho para meu quarto e sento na cama tentando não lembrar daqueles anos horríveis que passamos, respiro fundo e coloco uma música para relaxar enquanto leio meu livro.