De repente, senti uma mão agarrar meu braço com força, me virando bruscamente.
Era Arthur. Seu rosto estava vermelho de raiva, a máscara de calma e superioridade tinha rachado.
"Onde você pensa que vai?", ele sibilou, seus dedos apertando meu braço com força suficiente para deixar marcas. "Que joguinho é esse, Helena?"
"Me solta, Arthur", eu disse, minha voz baixa e fria.
"Você não vai a lugar nenhum", ele rosnou, me puxando para mais perto. "Você trabalha para mim. Você é minha. Você não me deixa. Eu sou quem decide quando acabou."
Sua arrogância era sufocante. Mesmo depois de renascer, mesmo depois de tudo, ele ainda acreditava que me possuía. Ele não conseguia conceber um mundo onde eu não girasse em torno dele.
"Você está me machucando", eu disse, olhando para a mão dele em meu braço.
"Eu vou fazer mais do que te machucar se você não parar com essa palhaçada", ele ameaçou, seus olhos faiscando. "Você acha que pode simplesmente ir embora? Depois de tudo que eu fiz por você? Eu te dei uma carreira, um propósito! Você não seria nada sem mim!"
Eu olhei nos olhos dele, os mesmos olhos que eu amei tão desesperadamente por oito anos. Agora, eu não sentia nada. Nem amor, nem ódio. Apenas um vazio gelado. A mulher que ele estava gritando não existia mais. Ela morreu naquele salão de festas, no futuro que só nós dois conhecíamos.
"Você não fez nada por mim, Arthur", eu respondi, minha voz firme. "Eu fiz tudo por você. E acabou."
Eu não lutei contra o aperto dele. Eu não gritei. Eu apenas fiquei lá, quieta, deixando sua raiva se quebrar contra a minha calma. Meu silêncio parecia enfurecê-lo ainda mais do que qualquer palavra.
Lívia se aproximou, colocando uma mão delicada no braço de Arthur.
"Arthur, querido, deixe-a ir", ela disse com sua voz doce e venenosa. "Ela está apenas fazendo uma cena para chamar atenção. Não vamos estragar nossa noite por causa dela."
Ele olhou para Lívia, e por um momento, a raiva em seu rosto diminuiu. Ele a amava. Ele a ouvia.
Ele me soltou com um empurrão. "Vá embora. Mas não pense que isso acaba aqui."
Ele se virou para a multidão, levantando sua taça de champanhe.
"Um brinde!", ele anunciou, forçando um sorriso de volta ao rosto. "A um novo começo! A mim e à minha futura esposa, Lívia!"
A multidão, ansiosa para esquecer o momento de tensão, aplaudiu e brindou. Eles me deixaram para trás, uma nota de rodapé esquecida em sua celebração.
Enquanto caminhava para fora do hotel, peguei meu telefone novamente. Eu não hesitei. Disquei o número de Gael.
Ele atendeu no primeiro toque.
"Já decidiu?", ele perguntou, sua voz calma como sempre.
"Sim", eu disse, o ar frio da noite batendo no meu rosto. "Arthur também renasceu. Ele acabou de propor a Lívia na frente de todos."
Houve uma pequena pausa. "Isso complica as coisas."
"Não", eu respondi, minha determinação se solidificando. "Isso simplifica. Ele me subestima. Ele acha que eu sou a mesma Helena fraca e obediente. Ele não espera que eu revide."
Parei na calçada, olhando para o tráfego da cidade. Na minha vida passada, eu vivia em uma bolha criada por Arthur. Agora, o mundo parecia vasto e cheio de possibilidades.
"Eu cometi tantos erros, Gael", eu disse, mais para mim mesma do que para ele. "Eu apostei tudo em um homem que me via como um objeto. Eu ignorei todos os sinais, todas as mentiras. Eu me anulei por ele."
"As pessoas cometem erros, Helena."
"Este não foi um erro", eu disse, minha voz endurecendo. "Foi uma sentença de morte. E eu não vou cometê-la novamente."
Lembrei-me de todas as vezes que lutei contra Gael, defendendo Arthur com unhas e dentes. Eu o via como um predador, um vilão tentando destruir o homem que eu amava. Agora, eu via a ironia. O verdadeiro predador estava ao meu lado o tempo todo.
"Sua oferta de casamento... ainda está de pé?", perguntei, a pergunta soando absurda e necessária ao mesmo tempo.
"Eu não faço ofertas que não pretendo cumprir", ele respondeu simplesmente. Sua confiança era um contraponto gritante à instabilidade de Arthur. "Onde você está?"
"Na frente do Grand Hotel Imperial."
"Não se mova. Estou a cinco minutos daí."
Ele desligou.
Eu esperei, meu coração batendo em um ritmo constante. Eu não estava nervosa. Eu estava focada. Esta era uma transação de negócios. A mais importante da minha vida. Eu estava trocando minha lealdade e meu conhecimento interno do império de Arthur por uma aliança poderosa.
Um sedan preto elegante parou em frente a mim. O vidro traseiro desceu, revelando Gael. Ele era exatamente como eu me lembrava das reuniões de diretoria: cabelo escuro, olhos penetrantes e uma expressão que nunca revelava o que ele estava pensando.
"Entre", ele disse.
Eu entrei no carro. O interior cheirava a couro e poder.
"Cartório do centro. Amanhã, às nove da manhã", eu disse, olhando diretamente para ele.
Ele me estudou por um momento, seu olhar intenso. Eu não desviei o meu.
"Você realmente o odeia, não é?", ele perguntou.
"Odiar requer energia emocional que eu não estou mais disposta a gastar com ele", respondi friamente. "Isso é sobre sobrevivência. E justiça."
Gael acenou com a cabeça lentamente, um pequeno sorriso se formando no canto de seus lábios.
"Justiça. Eu gosto disso." Ele pegou seu telefone e fez uma ligação rápida. "Prepare os papéis para uma certidão de casamento. Para amanhã de manhã. Sim, isso mesmo. E cancele minha agenda inteira para o dia. Tenho um compromisso inadiável."
Ele desligou e se virou para mim.
"Amanhã, às nove", ele confirmou. "Não se atrase."
O carro acelerou, me levando para longe do meu passado e em direção a um futuro incerto, mas que, pela primeira vez, seria de minha própria autoria.
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