Quando cheguei ao prédio do Grupo A&L, o lugar que eu considerava minha segunda casa por oito anos, senti um arrepio. As memórias estavam em toda parte: as noites em claro, as vitórias comemoradas, as crises gerenciadas. Tudo feito em nome dele.
A recepcionista me olhou com uma mistura de pena e curiosidade. A notícia do noivado de Arthur e da minha "cena" na festa já devia ter se espalhado como fogo.
"A Sra. Helena", ela disse, hesitante. "O Sr. Arthur está em uma reunião."
"Eu vou esperar no escritório dele", eu disse, passando por ela sem esperar por uma resposta.
Eu entrei no escritório de Arthur. Era um espaço amplo, com uma vista panorâmica da cidade. Minha antiga mesa ficava em um canto, menor, subserviente. Hoje, eu ignorei-a. Fui até a imponente mesa de mogno dele e coloquei a pasta bem no centro.
Então, eu esperei.
Quinze minutos depois, a porta se abriu e Arthur entrou, seguido por dois executivos. Ele parou abruptamente quando me viu. Os executivos perceberam a tensão e rapidamente se desculparam e saíram, fechando a porta atrás deles.
"O que você está fazendo aqui?", ele perguntou, a irritação clara em sua voz.
Ele olhou para a pasta na mesa dele, depois para mim. Um sorriso arrogante se espalhou por seu rosto.
"Ah, eu entendi", ele disse, caminhando até sua cadeira e se sentando, como um rei em seu trono. "Você veio se desculpar. Percebeu que não pode viver sem mim. Não se preocupe, Helena. Eu sou um homem generoso. Sua pequena birra de ontem à noite está perdoada."
Ele nem sequer tocou na pasta. Sua arrogância era inacreditável.
"Eu não vim me desculpar, Arthur. Eu vim formalizar minha saída. Os documentos estão aí."
Ele riu, uma risada genuína e condescendente. "Você é adorável quando tenta ser séria. Pare com o drama. Eu preciso que você ligue para a joalheria e verifique se a aliança personalizada da Lívia estará pronta até sexta-feira. E depois, quero que você agende provas de vestido para ela nas três melhores butiques da cidade."
A forma como ele me dava ordens, como se nada tivesse mudado, como se eu ainda fosse sua propriedade, fez meu sangue ferver. Mas eu mantive minha compostura.
Lembrei-me de todas as vezes que fiz coisas assim por ele. Uma vez, passei uma noite inteira na fila para comprar um ingresso de um show para uma de suas amantes passageiras. Outra vez, tive que escolher um presente de aniversário para a mãe dele porque ele estava "muito ocupado". Eu era sua secretária, sua assistente, sua gerente de crises e sua confidente, tudo em um. E tudo por nada.
"Eu não trabalho mais para você, Arthur", eu disse, minha voz nivelada.
Ele suspirou, a paciência se esgotando. "Helena, vamos ser práticos. Você está chateada, eu entendo. Foi um choque para você. Mas você é inteligente. Sabe que seu lugar é aqui, ao meu lado."
Ele se inclinou para a frente, seu tom se tornando conspiratório.
"Olhe, eu sei que você sempre quis mais. Mas as coisas são como são. Eu amo a Lívia. Nós vamos nos casar. Mas isso não significa que você precise ir embora. Você ainda pode ser minha mão direita. A pessoa mais importante na minha empresa."
Ele sorriu, como se estivesse me oferecendo o mundo.
"Na verdade, eu tenho uma nova função perfeita para você", ele continuou, seu sorriso se alargando. "Lívia vai precisar de ajuda com os preparativos do casamento, e depois, como minha esposa, ela terá muitas responsabilidades sociais. Ela vai precisar de uma dama de companhia, alguém de confiança para cuidar de sua agenda, de suas necessidades. Alguém como você."
Dama de companhia.
Ele estava me rebaixando de sua parceira de negócios para a serva de sua noiva. A humilhação era tão profunda, tão calculada, que me deixou sem fôlego por um segundo. Ele queria me manter por perto, mas em uma posição onde eu seria forçada a testemunhar a felicidade deles todos os dias, servindo a mulher que tomou meu lugar.
Eu ri. Não uma risada de alegria, mas uma risada seca, sem humor.
"Você é inacreditável", eu disse, balançando a cabeça.
"Não, eu sou prático", ele corrigiu. "É a posição perfeita. Você continua perto de mim, continua útil. O que mais você poderia querer?"
"Eu quero minha vida de volta", eu disse, minha voz finalmente mostrando uma ponta de aço. "Eu quero estar livre de você. Eu não serei a mão direita de ninguém, e certamente não serei a criada da sua noiva."
"Eu não aceito sua demissão", ele disse, sua voz endurecendo novamente. "Você assinou um contrato. Há uma cláusula de não concorrência de cinco anos. Você não pode trabalhar para mais ninguém nesta cidade."
"Eu sei o que eu assinei", eu respondi. "E eu também sei como anular esse contrato. Está tudo na pasta, se você se der ao trabalho de ler."
A raiva brilhou em seus olhos. Ele finalmente pegou a pasta, abriu-a e começou a folhear os papéis. Seu rosto se contorceu em uma carranca enquanto lia.
Então, ele fez algo que me chocou.
Ele começou a rasgar os papéis. Um por um. Ele rasgou minha carta de demissão, a rescisão do contrato, tudo. Ele rasgou-os em pedaços pequenos e os jogou no ar como confete.
"Está vendo?", ele disse, levantando-se e vindo para o meu lado da mesa. Ele me encurralou contra a parede. "Não há demissão. Não há rescisão. Você não vai a lugar nenhum."
Ele colocou as mãos na parede, uma de cada lado da minha cabeça, me aprisionando. Seu rosto estava a centímetros do meu.
"Você vai ficar aqui, Helena. Você vai fazer o que eu digo. Você vai ajudar a Lívia. E você vai aprender a gostar disso. Porque você não tem outra escolha."
Ele estava me ameaçando, usando sua presença física para me intimidar, como sempre fazia quando as palavras não funcionavam.
No passado, eu teria encolhido. Teria chorado. Teria cedido.
Mas eu olhei em seus olhos e, pela primeira vez, ele não viu medo. Ele viu desafio.
"Você pode rasgar os papéis, Arthur", eu disse, minha voz um sussurro perigoso. "Mas você não pode rasgar a minha decisão. Já acabou."
Eu me abaixei, deslizando por baixo do braço dele, e caminhei em direção à porta.
"Eu tenho um compromisso", eu disse, sem olhar para trás. "E não quero me atrasar para o meu próprio casamento."
Deixei-o ali, parado no meio dos pedaços de papel rasgado, sua expressão uma mistura de choque e fúria. A porta se fechou atrás de mim, encerrando simbolicamente oito anos da minha vida.
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