Ela se sentou na cama, o coração batendo descontroladamente. Olhou para as próprias mãos, lisas e sem as rugas da velhice. Tocou o rosto, a pele firme. Levantou-se e correu até o espelho. A mulher que a encarava de volta tinha 27 anos, com longos cabelos escuros e olhos castanhos que, naquele momento, estavam arregalados de choque e um terror primordial.
Ela estava de volta. Tinha renascido. A memória da sua vida anterior a atingiu como uma onda avassaladora. A vida de dedicação cega a Lucas Costa, o magnata da tecnologia, e aos seus dois filhos, Pedro e Isabela. A vida de ver seu marido e filhos idealizarem outra mulher, Beatriz Lima, o primeiro amor de Lucas. A vida que terminou com ela, velha e sozinha, morrendo esquecida em um asilo, enquanto Beatriz vivia a vida que deveria ter sido sua, ao lado de sua família.
Um sorriso frio e determinado curvou os lábios de Sofia. Não desta vez. Desta vez, ela não seria a tola.
Ela pegou o telefone e discou um número que conhecia de cor, um número que a assombrou em seus pesadeles por décadas.
"Alô?" A voz do outro lado era suave, quase melódica. Era Beatriz Lima.
"Beatriz, é a Sofia," disse Sofia, sua voz surpreendentemente calma. "Preciso falar com você. Pode me encontrar no café da esquina em vinte minutos?"
Houve uma pausa. "Sofia? Aconteceu alguma coisa com o Lucas?"
"Não. É sobre você e ele. Esteja lá." Sofia desligou antes que Beatriz pudesse responder.
Vinte minutos depois, Sofia estava sentada em uma mesa no canto do café, um copo de água intocado à sua frente. Beatriz entrou, parecendo uma visão em um vestido branco de linho, seus cabelos loiros perfeitamente arrumados. Ela era a imagem da pureza e da elegância, a "dama de branco" que Lucas nunca esqueceu.
"Sofia, você me assustou," disse Beatriz, sentando-se. "O que é tão urgente?"
Sofia foi direto ao ponto. "Eu vou me divorciar do Lucas."
Beatriz congelou, seus olhos azuis se arregalando em choque. "O quê? Por quê? Vocês parecem tão felizes."
"Nós não somos felizes," disse Sofia, com uma franqueza brutal. "E eu sei que você o ama. Eu sei que ele nunca te superou. E sei que meus filhos te adoram mais do que a mim." Cada palavra era uma faca, mas Sofia as proferia sem vacilar. "Então, eu estou te oferecendo um acordo. Eu quero o divórcio, e eu entrego tudo para você. Lucas, as crianças, a casa. Tudo."
Beatriz ficou em silêncio por um longo momento, o choque em seu rosto dando lugar a uma incredulidade cautelosa, e depois, a um brilho inconfundível de ganância. Ela tentou disfarçar, compondo suas feições em uma máscara de preocupação.
"Sofia, isso é loucura. Você não pode estar falando sério. E as crianças?"
"As crianças preferem você," repetiu Sofia, a voz vazia de emoção. "Elas sempre preferiram. Você é a mãe que elas sempre quiseram."
A resistência de Beatriz desmoronou. Um pequeno sorriso vitorioso brincou em seus lábios antes que ela o reprimisse. "Se é isso que você realmente quer... Eu sempre me preocupei com o Lucas. Ele trabalha demais. E as crianças, elas são uns anjos. Eu faria qualquer coisa por eles."
Sofia sentiu um calafrio. A falsidade de Beatriz era tão óbvia, mas ninguém mais parecia ver. Eles só viam a fachada perfeita.
"Ótimo. Então está decidido."
Quando Sofia voltou para casa, a porta se abriu e seus filhos, Pedro, de seis anos, e Isabela, de cinco, correram para dentro. Mas eles não correram para ela. Eles correram para os braços de Beatriz, que havia chegado logo depois dela.
"Tia Bia!" eles gritaram em uníssono.
Lucas entrou atrás deles, seu rosto se suavizando ao ver Beatriz. "Bia, o que você está fazendo aqui? Que surpresa agradável." Ele nem olhou para Sofia.
"Sofia me convidou," disse Beatriz, abraçando as crianças com força. "Nós estávamos colocando o papo em dia."
"Ah, é?" Lucas finalmente olhou para a esposa, mas seu olhar era distante, quase entediado. "Tudo bem?"
Sofia não respondeu. Ela apenas observou a cena: seu marido, seus filhos, todos reunidos em torno de outra mulher, na sua própria casa. Eles eram uma família perfeita, e ela era a estranha.
Naquela noite, deitada na cama, a memória de sua morte na vida anterior voltou com uma clareza assustadora. Ela tinha setenta e sete anos. Seu corpo estava fraco e doente. Ela ligou para Lucas, para Pedro, para Isabela. Ninguém atendeu. Uma enfermeira lhe disse que eles estavam celebrando o aniversário de Beatriz em uma viagem à Europa. Naquele dia, sozinha e esquecida, Sofia Mendes morreu de coração partido.
Uma única lágrima escorreu por seu rosto. Ela a enxugou com raiva. Chega de lágrimas. Chega de dor.
No dia seguinte, Sofia começou a fazer as malas. Ela não estava pegando as roupas de grife ou as joias. Ela estava pegando seus pertences pessoais, os poucos itens que tinham valor sentimental: um livro antigo de sua mãe, seus cadernos de desenho de moda, uma pequena caixa de madeira com fotos de antes de se casar.
Pedro entrou em seu closet e a viu colocando os cadernos em uma caixa.
"O que você está fazendo, mamãe?" ele perguntou, a voz tingida de desconfiança.
"Estou arrumando algumas coisas," respondeu Sofia calmamente.
"Você não pode levar esses cadernos. A tia Bia disse que vai usar este espaço para guardar as coisas dela."
O coração de Sofia se apertou, mas seu rosto permaneceu impassível. "A tia Bia disse, é?"
"Sim. Ela disse que você não desenha mais mesmo," acrescentou Isabela, que apareceu na porta. "Ela vai fazer deste um quarto de brincar para nós."
A crueldade inocente de seus filhos era a pior parte. Eles não entendiam o quanto aquelas palavras a feriam.
Naquela noite, Sofia tentou conversar com Lucas. Ela o encontrou no escritório, o rosto iluminado pela tela do laptop.
"Lucas, precisamos conversar."
Ele suspirou, sem tirar os olhos da tela. "Estou ocupado, Sofia. Pode ser depois?"
"Não, não pode," ela insistiu. "É sobre as crianças. E sobre Beatriz."
"O que tem a Bia?" ele perguntou, a irritação clara em sua voz. "Ela é ótima com as crianças. Elas a amam. Você deveria ser grata por ela ajudar tanto."
A frieza dele era a confirmação final. Ele não via o sacrifício dela, a dor dela. Ele só via a conveniência de ter Beatriz por perto. Ele não a amava. Talvez nunca a tenha amado.
"Você tem razão," disse Sofia, a voz baixa e firme. "Eu deveria ser grata."
E naquele momento, a última brasa de amor que ela sentia por ele se extinguiu, deixando apenas cinzas frias. A decisão estava tomada. Ela iria embora. E ela nunca mais olharia para trás.