Sofia: A Escolha
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Capítulo 3

Em menos de uma semana, Beatriz Lima se mudou para a mansão dos Costa. Ela não chegou discretamente, com poucas malas. Ela chegou com um caminhão de mudanças, como se estivesse reivindicando um território que sempre foi seu por direito.

A primeira coisa que ela fez foi redecorar. As cores neutras e elegantes que Sofia havia escolhido foram substituídas por tons vibrantes e móveis modernos que não combinavam em nada com a arquitetura clássica da casa. O jardim de rosas que Sofia cuidava com tanto carinho foi arrancado para dar lugar a uma área de lounge com sofás brancos e uma fogueira de design.

Sofia observou tudo de seu quarto, o único espaço que Beatriz ainda não havia invadido. Ela via os funcionários carregando caixas, removendo os vestígios de sua existência. O golpe mais doloroso foi quando viu um dos jardineiros carregando uma pilha de seus cadernos de desenho para o lixo. Eram os mesmos cadernos que seus filhos disseram que Beatriz usaria o espaço. Aparentemente, Beatriz não tinha interesse algum em seu trabalho. Era apenas uma questão de apagar Sofia completamente.

Cada objeto descartado era uma parte de sua identidade sendo jogada fora. As cortinas de linho que ela mesma costurou. O vaso de cerâmica que fez em uma aula de arte. A pequena estante de livros que continha seus romances favoritos. Tudo foi substituído, apagado.

Beatriz se encaixou na família com uma facilidade assustadora. Ela ria das piadas de Lucas, brincava com as crianças no jardim recém-destruído e organizava jantares com os amigos deles. Lucas parecia mais leve, mais feliz. Ele olhava para Beatriz com uma adoração que Sofia nunca havia recebido. As crianças a seguiam por toda parte, chamando-a de "Tia Bia" com uma afeição que raramente demonstravam pela própria mãe.

O mais impressionante era como todos pareciam cegos aos defeitos de Beatriz. Ela não cozinhava; pedia comida cara de restaurantes todas as noites. As crianças comiam muito mais doces e passavam horas na frente da TV, algo que Sofia sempre limitou. Beatriz não os ajudava com a lição de casa nem lia para eles antes de dormir. Ela lhes dava um tablet e os deixava sozinhos.

Mas Lucas e as crianças não se importavam. Eles estavam encantados pela novidade, pela diversão que Beatriz representava. Para eles, ela era a mãe legal, a mulher divertida, em contraste com a mãe "chata" e "controladora" que era Sofia.

Sofia ouvia as conversas dos empregados. Eles cochichavam nos corredores sobre como a "nova senhora" estava no comando. "A senhora Mendes parece uma fantasma nesta casa", disse uma das faxineiras. "É só uma questão de tempo até o senhor Costa pedir o divórcio e se casar com a outra."

Eles não sabiam que era Sofia quem queria o divórcio. Para o mundo, ela era a esposa trocada, a figura trágica. Ninguém via a gaiola dourada em que ela vivia.

A situação atingiu um ponto crítico em uma tarde de sábado. Sofia estava em seu quarto quando ouviu um choro agudo vindo do andar de baixo. Ela desceu e encontrou Pedro e Isabela no meio da sala, os rostos vermelhos e inchados, cobertos de urticária. Eles estavam chorando e se coçando desesperadamente.

"O que aconteceu?" perguntou Sofia, correndo até eles.

Beatriz estava sentada no sofá, olhando para as unhas. "Ah, eu dei a eles um pouco de bolo de amendoim. Acho que eles podem ser alérgicos."

Sofia ficou horrorizada. "Você deu bolo de amendoim para eles? Beatriz, eu te disse um milhão de vezes que eles têm alergia a amendoim! Está escrito em todos os lugares, na geladeira, na agenda deles!"

"Ah, eu esqueci," disse Beatriz com um dar de ombros. "Não deve ser tão grave."

Naquele exato momento, Lucas entrou em casa. Ele viu as crianças chorando, a pele coberta de erupções, e sua primeira reação não foi de preocupação, mas de raiva. E sua raiva foi dirigida a Sofia.

"Sofia! O que você fez com eles?" ele gritou, correndo para pegar Isabela no colo.

"Eu não fiz nada! Foi a Beatriz! Ela deu bolo de amendoim para eles!"

Beatriz imediatamente assumiu um ar de vítima. Lágrimas brotaram em seus olhos. "Lucas, foi um acidente. Eu não sabia. Sofia nunca me disse que era tão sério."

Era uma mentira descarada. Sofia tinha certeza de que havia contado a ela. Mas a palavra dela não valia nada contra a de Beatriz.

"Papai," soluçou Pedro, "a mamãe ficou brava com a tia Bia. Ela gritou com ela. A tia Bia só queria nos dar um presente."

Isabela, no colo de Lucas, apontou um dedo acusador para Sofia. "Má! Mamãe má!"

Sofia sentiu o chão desaparecer sob seus pés. Seus próprios filhos, manipulados por Beatriz, estavam mentindo para protegê-la e culpá-la. Eles a estavam traindo da maneira mais cruel possível.

Lucas a fuzilou com o olhar, um olhar de pura decepção e raiva. "Eu não posso acreditar em você, Sofia. Como você pode ser tão mesquinha? Beatriz comete um pequeno erro e você a ataca? E na frente das crianças?"

Ele não esperou por uma resposta. Virou-se, pegou Pedro pela mão e levou as duas crianças para cima, consolando-as e lançando olhares de desculpas para Beatriz.

Sofia ficou sozinha na sala, o eco das acusações de seus filhos ressoando em seus ouvidos. Ela olhou para Beatriz, que agora tinha um sorriso sutil e triunfante no rosto.

Naquele momento, Sofia entendeu. Beatriz não era apenas negligente. Ela era cruel. E ela estava usando seus filhos como armas para feri-la. A guerra não era mais passiva. Tinha se tornado aberta e brutal.

                         

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