A Playboy e a Vingadora
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Capítulo 3

A cena na rua atraiu olhares curiosos dos vizinhos. Pedro Henrique, o promissor militar, sendo publicamente rejeitado pela noiva em favor do playboy local. O drama era palpável.

Pedro não se moveu. Ele ficou parado na calçada, observando enquanto Marcos segurava minha mão, os nós dos seus dedos brancos de raiva.

"Isso não vai ficar assim, Ana Lúcia", ele disse em voz baixa, mas a ameaça era clara.

Ignorei-o. Com Marcos ao meu lado, senti uma força que não sabia que possuía. Voltamos para a minha casa, deixando Pedro para trás, remoendo sua derrota.

Nos dias que se seguiram, a notícia do nosso noivado repentino se espalhou como fogo. Dona Clara, a mãe de Marcos, quase chorou de alegria. Ela sempre me adorou e me recebeu em sua casa com um abraço apertado e a promessa de me tratar como a filha que nunca teve. Era um contraste gritante com a falsidade de Dona Fátima.

E, falando nela, não demorou para que a mãe de Pedro entrasse em ação. Ela me ligou, a voz pingando uma preocupação fingida.

"Aninha, querida, o que aconteceu? Pedro está arrasado. Ele não come, não dorme. O que você fez com o meu filho?"

A hipocrisia dela era nauseante. Lembrei-me de como, na vida passada, ela me ligava com a mesma falsa preocupação sobre Pedro quando ele estava em "missão", enquanto na verdade ele estava com Sofia.

"Dona Fátima, eu e Pedro terminamos. Isso é um assunto nosso", respondi, mantendo a calma.

"Mas e o compromisso dele? E a carreira? Uma instabilidade dessas na vida pessoal pode prejudicar a promoção dele! Você não pensa nisso?"

Aí estava. A verdadeira preocupação dela. Não era o coração partido do filho, mas a carreira dele. A mesma carreira que eu ajudei a construir com meu sacrifício.

"Com todo respeito, a carreira dele não é mais minha responsabilidade", eu disse e, antes que ela pudesse continuar com sua manipulação, desliguei.

O confronto inevitável aconteceu alguns dias depois, no supermercado. Eu estava empurrando meu carrinho quando vi Pedro. E ele não estava sozinho. Sofia estava com ele.

Ela estava pendurada em seu braço, rindo de algo que ele disse. Ao me ver, o sorriso dela se alargou, tornando-se malicioso. Sofia, na vida renascida, continuava a mesma víbora. Ela não se lembrava da vida passada, o que a tornava ainda mais perigosa. Para ela, eu era apenas a ex-noiva que ela precisava tirar do caminho.

"Ora, ora, se não é a noiva do ano", disse Sofia, a voz cheia de sarcasmo. "Mudou de ideia rápido, não é, Ana Lúcia? Mal largou o Pedro e já pulou nos braços do primeiro que apareceu."

Pedro não disse nada. Apenas me olhou com aquela expressão de mágoa e arrependimento que ele havia aperfeiçoado. Ele estava usando Sofia para me provocar, para me fazer sentir ciúmes. O truque era tão antigo e transparente que chegava a ser patético.

"Sofia, acho que a vida amorosa alheia não é da sua conta", respondi com frieza, tentando passar por eles.

Mas Sofia se moveu, bloqueando meu caminho.

"Eu só estou preocupada com o Pedro. Ele ficou tão mal. E você parece tão... feliz. É um pouco insensível da sua parte, não acha?"

De repente, ela tropeçou em seus próprios pés, ou pelo menos fingiu tropeçar. Ela se desequilibrou e, para não cair, agarrou o meu carrinho de compras com força. O carrinho, pesado com as compras, foi empurrado violentamente contra mim.

Perdi o equilíbrio e caí para trás, batendo a cabeça com força no chão de cerâmica. Uma dor aguda e latejante explodiu na parte de trás do meu crânio. O mundo girou, pontos pretos dançando na minha visão.

"Ai, meu Deus! Ana Lúcia!", Sofia gritou, a voz cheia de um pânico falso. "Você está bem? Eu não te vi! Foi um acidente!"

Pedro correu para o lado dela, não o meu.

"Sofia, você se machucou?", ele perguntou, segurando os braços dela, examinando-a como se ela fosse a vítima. A preocupação em sua voz era tão diferente da indiferença que ele me mostrava.

Eu estava no chão, a cabeça doendo, o supermercado inteiro olhando, e a primeira reação dele foi cuidar da mulher que me derrubou. Aquela cena selou qualquer dúvida que eu pudesse ter. O arrependimento dele era uma farsa. Ele era o mesmo homem egoísta e cruel.

A dor na minha cabeça era intensa, mas a dor no meu coração era pior. Era a dor da confirmação. A prova de que eu tinha amado um monstro.

Ele só se virou para mim depois de ter certeza de que Sofia estava "bem".

"Ana, você... se levant-"

"Não toque nela!"

A voz de Marcos cortou o ar como um trovão. Ele surgiu do final do corredor, seu rosto uma máscara de fúria. Ele me viu no chão e, em dois segundos, estava ajoelhado ao meu lado, sua mão gentilmente apoiando minha cabeça.

"Você está bem? Consegue me ouvir?", ele perguntou, seus olhos cheios de uma preocupação genuína que contrastava dolorosamente com a negligência de Pedro.

"Minha cabeça...", murmurei, a dor me deixando tonta.

Marcos olhou para Pedro e Sofia com um desprezo tão profundo que os fez recuar um passo.

"Eu vi o que você fez", ele disse para Sofia, a voz baixa e perigosa. "Você a empurrou."

"Foi um acidente!", ela choramingou, agarrando-se a Pedro. "Eu juro!"

Marcos nem se deu ao trabalho de discutir. Ele me pegou nos braços com uma facilidade surpreendente, levantando-me do chão frio.

"Vamos para o hospital", ele disse, a voz suave novamente quando se dirigiu a mim.

Enquanto ele me carregava para fora do supermercado, passei por Pedro. Nossos olhos se encontraram. Vi pânico no rosto dele. Pânico porque seu plano, seja lá qual fosse, tinha dado terrivelmente errado. Ele tinha me subestimado. Tinha subestimado Marcos.

Encostei minha cabeça dolorida no ombro de Marcos, o cheiro familiar do seu perfume me acalmando. Naquele momento, no meio da dor e da humilhação, uma certeza me preencheu. Eu não estava mais sozinha nesta luta. E, desta vez, eu não iria perder. A queda no supermercado não me quebrou. Pelo contrário, cimentou minha resolução. Eu iria construir minha felicidade, e iria garantir que Pedro Henrique e Sofia pagassem por tudo, nesta vida e na outra.

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