Liberdade Após a Dor
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Capítulo 2

A tontura da viagem no tempo desapareceu lentamente, substituída por um frio cortante que penetrava meus ossos.

A água gelada da enchente me envolvia, pesada e implacável. Eu sentia que estava prestes a morrer, meu corpo estava dormente e meus pulmões queimavam pela falta de ar.

Com um esforço sobre-humano, forcei meus olhos a se abrirem.

A visão turva focou, e eu o vi.

Pedro.

Ele estava em um pequeno barco de madeira, a poucos metros de distância, olhando para mim.

Seu rosto estava impassível, seus olhos frios, sem um pingo da preocupação ou do pânico que eu me lembrava da vida passada.

Nossos olhares se encontraram por um instante.

Naquele momento, não houve hesitação.

Ele não desviou o olhar por culpa ou por conflito. Ele simplesmente me viu, e então, deliberadamente, virou o barco.

Ele remou na direção oposta, em direção a uma casa semi-submersa onde Carla se agarrava desesperadamente ao telhado, gritando por socorro.

Ver aquilo de novo, mas com a clareza da memória de sete anos de sofrimento, foi diferente. Não doeu como uma traição, mas como uma confirmação.

A forte correnteza me puxou para baixo, tentando me arrastar para o fundo. Lutei contra o pânico, meus membros pesados e lentos.

Com as últimas forças, consegui me agarrar a um grande pedaço de madeira que flutuava perto de mim. Usei-o como boia e comecei a nadar, chutando com toda a força que me restava, em direção à margem segura.

A água era um turbilhão de detritos e lama, e cada metro era uma batalha.

Eu estava quase lá. A terra firme estava a apenas alguns metros de distância.

Foi quando o barco de Pedro passou por mim novamente, vindo em alta velocidade.

Carla, já a bordo, parecia instável. Ela tropeçou de repente e gritou, quase caindo na água.

Para segurá-la, Pedro largou os remos abruptamente.

O barco, sem controle, girou e veio direto na minha direção.

Eu não tive tempo de reagir.

A proa do barco colidiu violentamente com meu abdômen.

Uma dor aguda e lancinante explodiu dentro de mim, me fazendo perder o fôlego. Quase soltei o pedaço de madeira.

Eu olhei para Pedro, esperando qualquer reação. Um olhar de choque, de preocupação, qualquer coisa.

Mas ele agiu como se não tivesse visto.

Como se eu fosse apenas mais um obstáculo flutuante na água.

Ele se concentrou em acalmar Carla, que chorava assustada em seus braços, e remou com força até a margem, deixando-me para trás na água gelada.

A dor no meu abdômen era insuportável, uma queimação profunda que se espalhava por todo o meu corpo. Mas a determinação de sobreviver era mais forte.

Eu me agarrei à madeira e, ignorando a dor, nadei os últimos metros.

Finalmente, minhas mãos tocaram a lama da margem. Eu me arrastei para fora da água, exausta, e caí no chão, tossindo violentamente, expelindo a água suja que havia engolido.

Eu tremia incontrolavelmente, tanto de frio quanto da dor agonizante.

Foi só então que Pedro, depois de deixar Carla em um lugar seguro um pouco mais adiante, se aproximou de mim.

Ele ficou de pé, olhando para mim de cima, com uma expressão de desprezo.

Sua voz era fria como o gelo.

            
            

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