Cem Dias Para Mudar o Destino
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Capítulo 2

"Você tem cem dias."

Uma voz etérea, sem corpo, ecoou na minha mente no momento em que a caneta tocou o papel no cartório, um instante antes de eu escrever minha recusa. A mesma voz que me deu as boas-vindas quando a escuridão da morte me envolveu na vida passada.

"Cem dias para realizar todos os desejos não cumpridos de João Pedro," a voz continuou, solene e imutável. "Se você tiver sucesso, a linha do tempo será reescrita, e a tragédia dele será evitada, mas se você falhar, tudo acontecerá como antes, e a morte dele no seu décimo aniversário de casamento será inevitável."

Cem dias. Um prazo cruel. Como eu poderia consertar uma década de erros e tristezas em pouco mais de três meses?

Na minha vida passada, depois da morte de João, encontrei um diário escondido no fundo do seu armário, um caderno simples onde ele desabafava a sua dor. As páginas estavam cheias de arrependimentos, de sonhos que ele abandonou por minha causa. A lista era longa e dolorosa.

Primeiro, seu maior arrependimento era não ter tido a coragem de ficar com Ana Clara, o amor da sua vida. Ele a amava desde a faculdade, mas a pressão da minha família e a doença do meu pai o forçaram a me escolher.

Segundo, ele odiava o trabalho no escritório de advocacia da minha família, um emprego que meu pai arranjou para ele. O sonho dele era ser arquiteto, desenhar prédios que tocassem o céu, não redigir contratos que o prendiam à terra.

Terceiro, ele queria consertar o relacionamento rompido com seus pais, que nunca aprovaram nosso casamento e o acusaram de se vender por dinheiro e status.

E o último, e talvez o mais doloroso para mim, ele desejava nunca ter me conhecido. Essa frase, escrita com a caligrafia tremida de quem chora, foi o que me quebrou por completo na vida passada.

Cada um desses desejos era um soco no meu estômago. A culpa me consumia. A morte dele foi o resultado direto da vida que eu o forcei a viver. O acidente de carro não foi um acidente, foi uma libertação para ele. E eu era a sua prisão.

Agora, eu tinha cem dias para dar a ele tudo o que eu tirei.

Quando saí do cartório, deixando meus pais em estado de choque e João lívido de raiva, senti um alívio estranho. O primeiro passo estava dado. Eu tinha recusado o casamento. Mas a certidão de casamento, que eu deveria ter rasgado, ainda estava na minha bolsa. Quando a peguei, vi que minha recusa tinha sumido, e no lugar, estava a minha assinatura, perfeita e caligráfica. A voz ecoou de novo: "O destino não pode ser mudado tão facilmente, você deve desfazer os nós, não apenas cortá-los."

Isso significava que, aos olhos da lei e das nossas famílias, nós ainda estávamos casados. A tarefa era muito mais difícil do que eu pensava.

Voltei para o nosso apartamento. João já estava lá, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado.

"Você pode me explicar o que foi aquilo, Ana?" ele explodiu assim que eu entrei. "Você humilhou a mim e aos seus pais, fez uma cena ridícula!"

Eu não respondi, apenas o encarei, tentando encontrar o homem que eu amei por trás daquela máscara de raiva. Ele ainda não entendia.

"Eu vou ligar para os seus pais e dizer que foi um mal-entendido," ele disse, pegando o celular.

"Não," eu disse, minha voz calma. "O casamento acabou, João."

Ele parou e me olhou, seus olhos escuros tentando decifrar os meus. Ele viu algo diferente ali, uma determinação que eu nunca tive.

Passei por ele e fui até a varanda. A cidade se estendia abaixo de nós, cheia de vida e de possibilidades que ele nunca pôde explorar. Perto dali, casais saíam de mãos dadas de um restaurante, rindo. Eles planejavam futuros, enquanto eu tentava consertar um passado quebrado. A solidão me atingiu com força. Eu estava sozinha nessa missão, lutando contra o tempo e contra o amor que ainda sentia por ele.

Eu estava perdida em meus pensamentos quando ele apareceu ao meu lado, mais calmo agora.

"Eu sei que você ainda está de luto," ele disse, a voz mais suave. "Mas a gente pode fazer isso dar certo."

Eu balancei a cabeça.

"Não, não podemos."

Ele suspirou, derrotado. Ficamos em silêncio por um tempo, apenas observando a cidade.

Então, para minha surpresa, ele disse: "Lembra daquela vez que a gente disse que iria ver a chuva de meteoros no observatório? Vai ter uma hoje à noite, a maior em dez anos."

Meu coração deu um pulo. Ver a chuva de meteoros com ele era um dos meus maiores desejos na vida passada, um que nunca se realizou. Nós sempre tínhamos uma desculpa, um compromisso, uma briga.

Era uma armadilha ou um vislumbre de esperança? Eu não sabia. Mas era uma oportunidade, e eu não podia desperdiçá-la.

"Sim," eu respondi, olhando para ele pela primeira vez com um pingo de esperança. "Eu me lembro."

            
            

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