Cem Dias Para Mudar o Destino
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Capítulo 4

Quando cheguei em casa, meus pais estavam na sala, a preocupação estampada em seus rostos. A cena no cartório tinha claramente os abalado.

"Ana, finalmente!" minha mãe, Dona Helena, se levantou do sofá, vindo em minha direção. "Onde está o João? O que aconteceu? Ele nos ligou dizendo que você não estava se sentindo bem, mas depois sumiu."

"Ele teve um imprevisto," eu disse, evitando o olhar dela.

Meu pai, Seu Roberto, um homem geralmente calmo, parecia furioso.

"Imprevisto? Que tipo de imprevisto é mais importante do que o próprio casamento?" ele perguntou, a voz alta. "Ele deixou você sozinha no dia do seu casamento! Vou ligar para esse moleque agora mesmo!"

Ele pegou o telefone, os dedos já discando o número de João.

"Não, pai, por favor," eu pedi, colocando a mão sobre o telefone. "Não foi culpa dele, foi uma emergência, a... a mãe dele passou mal."

Era uma mentira fraca, mas foi a primeira coisa que me veio à mente. Qualquer coisa para evitar que eles despejassem sua raiva em João. Ele já tinha problemas suficientes.

Minha mãe me olhou com desconfiança, mas meu pai pareceu aceitar a desculpa, embora a contragosto. Ele colocou o telefone de volta no gancho com força.

"Mesmo assim, isso não é jeito de tratar a minha filha," ele resmungou, sentando-se novamente.

Minha mãe me puxou para o sofá, segurando minhas mãos.

"Filha, o que está acontecendo com você? Primeiro aquela cena no cartório, agora isso."

A briga habitual deles começou. Minha mãe defendendo a necessidade de manter as aparências, meu pai falando sobre honra e respeito. Eu me encolhi no sofá, observando-os. Era sempre assim. Na minha vida passada, eu vivi no meio desse fogo cruzado, sempre tentando apaziguar os dois.

Uma lágrima silenciosa escorreu pelo meu rosto. Lembrei-me do funeral do meu pai, anos depois. Minha mãe chorava histericamente, enquanto João estava ao meu lado, uma rocha silenciosa no meu mar de dor. Ele cuidou de tudo, do velório ao enterro, enquanto eu mal conseguia ficar de pé. Ele cumpriu sua promessa, mesmo quando eu não merecia. A memória era tão vívida, a dor tão fresca, que meu peito doeu.

"Eu não me casei com ele," eu disse, interrompendo a briga deles.

Ambos pararam e se viraram para mim, seus rostos uma mistura de choque e incredulidade.

"O quê?" minha mãe sussurrou.

"Eu não assinei os papéis," eu expliquei, a voz embargada. "Eu recusei."

O silêncio na sala era pesado.

"Você... você o quê?" meu pai gaguejou. "Você está louca, Ana? Depois de tudo que fizemos, de tudo que combinamos?"

"Eu não posso, pai," eu disse, as lágrimas agora fluindo livremente. "Eu não posso me casar com ele."

"Mas por quê?" minha mãe perguntou, os olhos cheios de pânico. "Ele é um bom rapaz, de uma boa família, ele te ama!"

"Ele não me ama," eu respondi, a verdade saindo como um veneno. "E eu não posso mais viver essa mentira."

Em um impulso de desespero, sabendo que era a única maneira de cortar os laços que nos prendiam, eu disse as palavras que selariam meu destino.

"Eu vou embora."

"Embora? Para onde?" meu pai perguntou, levantando-se.

"Vou estudar no exterior, vou fazer aquele mestrado em artes que eu sempre quis," eu anunciei, uma decisão que tomei naquele exato momento. Era um dos meus sonhos abandonados, um que eu sacrifiquei para ser a esposa perfeita para João.

Meus pais me olharam como se eu fosse uma estranha. O choque em seus rostos era quase cômico, se não fosse tão trágico. Eu sabia que estava partindo o coração deles, mas era necessário. Era o único jeito de libertar a mim e, mais importante, de libertar João.

            
            

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