Esse sistema era um pesadelo, uma corrente invisível que me prendia a Sofia. Tudo o que eu compunha, toda a minha inspiração, era sugado de mim e transferido para ela.
Eu via minhas músicas, nascidas da minha alma, serem apresentadas por Sofia em grandes palcos. Ela recebia os aplausos, a fama, o reconhecimento, enquanto eu era chamada de fraude, de plagiadora, a sombra invejosa da "genial" Sofia Silva.
A humilhação e a traição me destruíram. Eu desisti da música, me isolei do mundo e morri em silêncio e desespero.
Mas agora, eu estou de volta.
Meus olhos se abriram e eu estava no salão de festas luxuoso da mansão Silva. Era o aniversário de dezoito anos de Sofia, o mesmo dia em que meus pais anunciaram publicamente a existência do "gênio musical" deles.
Desta vez, não haverá desespero. Haverá vingança.
Eu me levantei, minha cadeira arrastando no chão polido, o som agudo cortando a música ambiente e as conversas educadas. Todos os olhares se viraram para mim.
Sofia estava no centro do salão, radiante em um vestido de alta costura, ao lado de João. Ela me olhou com desprezo.
Meus pais, Ricardo e Laura Silva, me fuzilaram com o olhar, a vergonha evidente em seus rostos.
Eu ignorei todos eles. Com um sorriso calmo, peguei uma taça de champanhe da bandeja de um garçom que passava.
"Hoje é um dia especial", eu disse, minha voz clara e firme, ecoando pelo silêncio repentino. "E para comemorar, eu gostaria de fazer um anúncio."
Eu olhei diretamente para Sofia, cujo sorriso vacilou.
"Eu, Maria, a filha recém-encontrada e supostamente sem talento, vou entrar na melhor universidade de música do país este ano."
Um silêncio chocado encheu o salão, seguido por risadinhas abafadas.
Sofia foi a primeira a rir alto, uma risada forçada e debochada.
"Maria, você enlouqueceu? Você? Entrar na Academia de Música Imperial? Suas notas mal são suficientes para passar de ano. De que buraco você tirou essa confiança toda?"
Laura, minha mãe biológica, aproximou-se rapidamente, seu sorriso forçado não escondendo a raiva em seus olhos.
"Maria, querida, não seja boba. Beba um pouco de água e vá descansar. Você deve estar cansada."
Ela tentou me puxar pelo braço, mas eu me afastei.
"Eu não estou cansada", respondi, minha voz ainda calma. "Estou apenas declarando um fato."
Na minha vida passada, eu acreditei neles. Acreditei que era inferior, que meu talento era uma ilusão. Eu me esforcei tanto para agradá-los, para provar meu valor, estudando dia e noite, compondo em segredo, apenas para ver tudo ser roubado.
Eles me diziam que era para o bem da família, que Sofia precisava desse impulso para garantir o casamento com João, e que depois, eles me compensariam.
Era uma mentira. Eles nunca se importaram comigo. Eu era apenas uma ferramenta para polir a imagem da filha falsa que eles amavam. Eu era uma fonte de talento a ser explorada até secar.
Sofia se aproximou, agarrando o braço de João com possessividade. Seu rosto se contorceu em uma careta de desprezo.
"Ouça, sua caipira. Não sei que tipo de fantasia você está vivendo, mas é melhor acordar. João é meu noivo. A família Silva sou eu. Você não é nada."
Ela se inclinou, sua voz um sussurro venenoso que só eu podia ouvir.
"E só para você saber, qualquer coisa que você criar, qualquer melodia que você sonhar, vai acabar sendo minha de qualquer maneira. O sistema garante isso. Você é minha mina de ouro particular, e nada mais."
Eu olhei para ela, e pela primeira vez, não senti dor, nem humilhação. Apenas um desprezo gelado.
Eu sorri lentamente.
"É mesmo?", murmurei de volta, meu tom zombeteiro. "Bem, vamos ver o quanto vale uma mina de ouro que decide parar de produzir."
O rosto dela empalideceu por um segundo, uma pitada de pânico em seus olhos antes que ela o escondesse com mais arrogância.
Eu me virei, deixando-a ali, paralisada. Deixei o salão cheio de sussurros e olhares de pena e zombaria.
Desta vez, eu não vou lutar contra o sistema. Eu vou quebrá-lo. E vou garantir que todos vejam Sofia pelo que ela realmente é: uma fraude vazia e sem talento. A queda deles será espetacular.