Maria: A Segunda Chance
img img Maria: A Segunda Chance img Capítulo 1
2
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

"Eu, Maria, capitã da polícia criminal, declaro minha aposentadoria antecipada."

Minha voz soou firme no microfone, ecoando pelo salão de banquetes lotado.

Um silêncio chocado durou apenas um segundo, antes de ser rompido por uma onda de aplausos ensurdecedores. Os cidadãos, os repórteres, todos batiam palmas, alguns até se levantaram, os rostos cheios de uma alegria mal disfarçada.

Para eles, minha aposentadoria era uma celebração.

Apenas uma pessoa no meio da multidão não aplaudia.

Minha irmã mais nova, Sofia, a nova estrela da polícia, a detetive que alegava ser capaz de "compartilhar a visão do assassino", me olhava com pânico puro. Seu rosto ficou pálido, e seus lábios tremiam levemente.

Ela sabia o que minha aposentadoria significava para ela.

No banquete de celebração que a cidade preparou em sua homenagem, ela subiu ao palco, ignorando os próprios louvores para me procurar publicamente.

"Tudo o que sou hoje, devo à minha irmã mais velha, Maria", disse ela, com a voz embargada, perfeitamente ensaiada para a câmera. "Espero que todos me ajudem a encontrá-la, para que ela possa retornar à força policial. Nós precisamos dela."

Eu assisti à transmissão de um pequeno café do outro lado da cidade, um sorriso frio no meu rosto.

Ignorei seu apelo patético.

Isso porque, na minha vida anterior, eu era essa mesma capitã de polícia criminal, famosa e respeitada. Mas cada pista que eu encontrava, cada avanço que eu fazia, de alguma forma era sempre anunciado primeiro por ela, Sofia, que mal havia entrado na força policial.

No começo, achei que era coincidência, talvez um talento nato que eu não conhecia.

Mas depois de várias vezes, o padrão se tornou inegável. Todos começaram a zombar de mim pelas costas.

"O talento da Capitã Maria se esgotou."

"Ela não é mais a mesma."

"A irmã mais nova é um gênio, a mais velha virou passado."

Para provar a mim mesma, para calar as vozes, mergulhei de cabeça no caso mais perigoso da minha carreira: uma rede de traficantes de pessoas que aterrorizava a cidade. Trabalhei incansavelmente por três meses, mal dormia, mal comia. Minha vida era aquele caso.

Finalmente, localizei o esconderijo deles, uma fazenda abandonada nos arredores da cidade.

Eu estava exultante, a adrenalina correndo nas minhas veias. A redenção estava próxima.

Quando cheguei ao local com minha equipe, prontos para a invasão, encontramos o lugar vazio.

Não, pior que vazio.

O local já havia sido completamente limpo por ela. Sofia estava lá, cercada por repórteres, os criminosos já algemados, as vítimas resgatadas.

Ela se tornou a nova estrela detetive, a heroína da cidade.

E eu? Fui ferozmente criticada pelo público, crucificada como incompetente. "Lenta demais", "deixou a irmã mais nova fazer todo o trabalho", "um fracasso".

Meu chefe me repreendeu. Meus colegas me olhavam com pena e desprezo. O professor que nos orientou, que sempre me elogiou, agora só tinha olhos para Sofia.

A pressão do trabalho e da opinião pública me quebrou. Minha saúde mental se deteriorou. Fiquei obcecada em encontrar os remanescentes da quadrilha, em provar que eu ainda era capaz.

Foi uma armadilha.

Enquanto perseguia uma pista falsa, sozinha, fui brutalmente assassinada. A última coisa que vi foi o rosto zombeteiro de um dos criminosos que Sofia "prendeu".

Mas o universo, ou talvez o inferno, me deu uma segunda chance.

Ao reabrir os olhos, eu não estava morta.

Eu estava no meu escritório, o suor frio escorrendo pela minha testa, o telefone tocando.

Era o dia do cerco ao esconderijo dos traficantes de pessoas.

A mesma cena, o mesmo momento. A minha equipe estava na porta, esperando minhas ordens para invadir a fazenda.

"Capitã, estamos prontos. Qual é o plano?", perguntou meu subordinado mais leal, Ricardo.

Na vida passada, eu disse: "Vamos entrar com tudo!"

Desta vez, olhei para o mapa na minha mesa, para as anotações detalhadas que só eu poderia ter feito. Eu sabia que Sofia já estava lá. Eu sabia que, se eu fosse, encontraria apenas sua glória e a minha humilhação.

Respirei fundo, a dor fantasma do meu assassinato ainda presente.

Minha voz saiu mais calma do que eu esperava.

"Cancelem a operação."

Ricardo me olhou, confuso. "O quê? Capitã, mas nós temos certeza. As informações são sólidas."

"Eu disse, cancelem a operação", repeti, minha voz agora gélida. "Recolham tudo. Voltamos para a delegacia. Agora."

Eles não entendiam. Murmuravam entre si, olhares de desapontamento e confusão. Mas obedeceram.

Enquanto voltávamos em silêncio, meu celular vibrou. Notícias de última hora.

"Detetive novata Sofia prende chefão do tráfico de pessoas em operação solo brilhante!"

No dia seguinte, a humilhação foi exatamente como eu me lembrava. Fui chamado na sala do Chefe de Polícia.

"Maria, o que aconteceu? Por que você recuou? Sofia agiu sozinha e resolveu o caso que você investigou por três meses! Você tem ideia da imagem que isso passa para o departamento?"

O Professor, nosso antigo mentor, também estava lá. Seu olhar era de pura decepção.

"Maria, eu esperava mais de você. Sofia mostrou coragem e instinto. Você mostrou... hesitação. Talvez os boatos sejam verdadeiros. Seu tempo já passou."

Eu não discuti. Não tentei me defender.

Apenas aceitei a repreensão com uma calma que os perturbou.

Eles esperavam lágrimas, desculpas, raiva. Não tiveram nada.

Na minha mente, um único pensamento se formava, claro e afiado.

Isso não é mais sobre provar meu valor.

É sobre expor uma fraude. É sobre vingança.

E para fazer isso, eu precisava primeiro sair do tabuleiro.

Foi por isso que, na celebração de Sofia, eu pedi a palavra e anunciei minha aposentadoria.

Para o mundo, era a confissão da minha derrota.

Para Sofia, era o início do seu pesadelo.

E para mim, era o primeiro movimento em um jogo que, desta vez, eu venceria.

---

            
            

COPYRIGHT(©) 2022