Maria: A Segunda Chance
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Capítulo 3

A coletiva de imprensa de Sofia foi um espetáculo.

Ela se posicionou como a salvadora da cidade, a única luz na escuridão, enquanto habilmente me pintava como uma relíquia do passado.

"Eu sei que minha irmã, a Capitã Maria, também estava trabalhando no caso", disse Sofia, com uma falsa humildade que me revirava o estômago. "Seus métodos tradicionais são valiosos, é claro, mas em casos como este, precisamos de uma nova perspectiva, de uma abordagem mais... intuitiva."

A mensagem era clara: eu era o velho, ela era o novo. Eu era o método, ela era a magia.

A opinião pública engoliu a isca sem mastigar.

As redes sociais foram inundadas com memes: meu rosto ao lado de um dinossauro, o rosto de Sofia ao lado de um foguete. Os artigos de jornais elogiavam a "nova era da investigação policial", liderada pela jovem prodígio.

A pressão se infiltrou nas paredes da delegacia.

Um dia, Ricardo e outros dois membros da minha antiga equipe me encurralaram no corredor.

"Capitã", começou Ricardo, o desconforto visível em seu rosto. "Nós só queremos entender... Por que você está dificultando as coisas para a Sofia?"

Eu os encarei, incrédula. "Dificultando?"

"Você apresentou um relatório cheio de pistas falsas", disse outra detetive, Ana. "Se não fosse pela Sofia, o sequestrador ainda estaria lá fora. O que está acontecendo com você?"

A traição deles doía mais do que a zombaria anônima da internet. Eles, que trabalharam ao meu lado por anos, que viram minha dedicação, agora me acusavam de sabotagem.

"Eu tinha meus motivos", respondi, a voz fria como gelo.

"Que motivos, Maria?", a voz do Chefe de Polícia soou atrás de mim. Ele havia ouvido a conversa. "Seus 'motivos' quase custaram a vida de uma criança e mancharam a reputação deste departamento. Estou tirando você de todos os casos ativos. Vá para casa. Tire uma licença. Pense no que você fez."

Ele não estava me protegendo. Estava me descartando. Eu era um problema de relações públicas, uma peça defeituosa em sua máquina bem oleada de imagem pública.

A humilhação final veio na forma de um convite dourado.

Sofia estava organizando um "Banquete de Celebração da Vitória", para comemorar a captura do "Fantasma". E ela fez questão de me convidar pessoalmente.

"Por favor, venha, irmã", ela disse por telefone, a voz pingando doçura venenosa. "É importante para mim que você esteja lá. Para mostrar a todos que estamos unidas."

Ela não queria união. Ela queria um troféu.

Ela queria que eu estivesse lá, na plateia, assistindo à sua coroação, validando sua farsa com a minha presença derrotada.

Recusar seria visto como mesquinhez, como inveja. Aceitar seria caminhar para a minha própria execução pública.

Eu não tinha escolha.

Na noite do banquete, vesti meu uniforme de gala pela última vez. Cada medalha no meu peito parecia um peso, uma lembrança do que eu já fui.

O salão estava deslumbrante, cheio de políticos, empresários e a elite da cidade. Todos queriam ser vistos ao lado da nova heroína.

Sofia brilhava em um vestido caro, rindo e recebendo elogios. Quando me viu, seu sorriso se alargou.

Ela caminhou até mim, as câmeras a seguindo como mariposas para uma chama.

"Maria! Que bom que você veio!", ela disse em voz alta, para que todos ouvissem. "Eu estava com tanto medo que você não viesse."

Ela me abraçou, um abraço frio e calculado.

Eu não a abracei de volta.

Ela me soltou, o sorriso ainda no lugar, mas seus olhos continham um brilho de irritação.

O momento que ela tanto esperava havia chegado. Ela subiu ao palco, o silêncio caindo sobre o salão. Era a hora do confronto.

A hora de ela me destruir de uma vez por todas.

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