Sentei-me na beirada da cama, o robe de cetim escorregando com naturalidade pelos meus ombros, expondo a curva delicada do pescoço, a linha macia do colo e o topo dos seios que tremiam com a frescura da manhã e o calor da lembrança do que acontecera. O aroma do café fresco chegava da cozinha em ondas, misturando-se ao cheiro do lençol e da seda, mas meu pensamento estava longe, longe da segurança da rotina, preso naquele fogo que Athos acendia dentro de mim, invisível, insistente, e perigosamente vívido.
Eu me sentia como uma mulher dividida: por um lado, a Isadora que conhecia - cautelosa, contida, silenciosa; e por outro, a mulher que começava a emergir ali, uma criatura selvagem, pronta para explorar, sentir e desafiar os próprios limites.
Quando ele apareceu, não havia pressa nem palavras vazias. Nada além de um olhar profundo, aquele mesmo que parecia decifrar cada parte oculta da minha alma, como se pudesse enxergar as sombras, as dores, mas também o desejo ardente que eu tentava esconder de mim mesma. Seu gesto foi simples, quase sutil, mas carregado de significado: ele indicou com a cabeça um cômodo à direita.
- Hoje, você vai se olhar - disse ele, a voz baixa, quase uma promessa sussurrada ao meu corpo. - E se tocar. Vou estar aqui, mas você é dona do seu prazer.
Aquelas palavras vibraram dentro de mim, quebrando qualquer resquício de resistência. O convite para olhar-me, sentir-me e descobrir o que há em mim que ainda estava adormecido era um desafio e um conforto ao mesmo tempo.
Pisei no quarto que Athos chamava de "O Santuário dos Espelhos". Ao cruzar a soleira, uma mistura de nervosismo e excitação me arrebatou. O espaço era amplo, revestido de espelhos do chão ao teto, que refletiam e multiplicavam minha imagem em todas as direções, como se quisessem me aprisionar em um labirinto infinito de pele e olhos, desejos e segredos.
Eu me vi refletida dez vezes, vinte vezes, uma multiplicidade de Isadoras, cada uma com um olhar diferente, um desejo diferente, um segredo diferente. Algumas pareciam confiantes e desafiadoras, outras tímidas e inseguras. Aquelas imagens me desarmavam e me confrontavam, expunham tudo que eu tentava esconder de mim mesma.
O choque inicial foi me perceber nua diante de tantas versões de mim mesma. Nu, vulnerável, mas também poderosa, pois ali, despida de máscaras e defesas, eu começava a ser inteira pela primeira vez em muito tempo.
Athos se aproximou e, sem me tocar, começou a falar. Sua voz era um fio de seda que se enroscava dentro do meu corpo, guiando-me com palavras que eram ao mesmo tempo ordens e carícias.
- Olhe-se - disse ele, e cada sílaba fazia vibrar uma corda sensível dentro do meu peito. - Veja sua força. Seu desejo. O quanto seu corpo merece prazer.
Respirei fundo, tentando absorver cada palavra, cada emoção que se agitava em mim como uma tempestade contida. Meus olhos percorriam as dezenas de reflexos que me devolviam uma imagem que eu mal reconhecia, não mais a mulher reprimida, mas alguém que parecia despertar para um mundo novo e assustadoramente tentador.
Minhas mãos começaram a se mover, hesitantes a princípio, tocando a própria pele diante dos espelhos. Eu explorava cada curva, cada cicatriz - aquelas marcas que a vida e o tempo haviam gravado em mim - cada ponto que o sol beijava através das janelas, revelando brilhos e sombras que faziam meu corpo parecer uma paisagem viva, repleta de histórias e segredos.
A sensação era estranha e deliciosa - como se estivesse descobrindo um território proibido e ao mesmo tempo ancestral, um espaço sagrado onde eu era ao mesmo tempo a oferenda e a sacerdotisa.
Então, sob seu olhar atento, comecei a me tocar.
No começo, foi lento. Meus dedos deslizavam pela pele com reverência, como se cada toque fosse um ritual. Minhas palmas percorriam os contornos do meu ventre, subiam pelas costelas, acariciavam a curva do quadril. Cada movimento me fazia estremecer, não só de prazer, mas de algo mais profundo, uma reconexão comigo mesma, uma redescoberta da mulher que habitava aquele corpo.
Meus olhos se fixaram no reflexo de uma das Isadoras diante de mim. A imagem que me devolvia um olhar intenso, ardente, desesperado por se libertar. E ali, naquele instante, eu decidi me entregar.
Meus dedos começaram a descer com mais confiança, acariciando o ventre, descendo até o centro pulsante do desejo. O toque ficou mais firme, mais determinado, e senti meu corpo responder com uma urgência que me assustava e me excitava em igual medida.
Um gemido escapou, baixo, rouco, carregado de vontade. Aquele som rompeu o silêncio do quarto e fez meus ouvidos queimarem de vergonha e prazer.
Athos sorriu, e pela primeira vez, não havia mistério em seus olhos, apenas aprovação. Um convite silencioso para que eu me entregasse, que eu me amasse sem culpa nem medo.
E eu me deixei ir.
Descobri que a maior das seduções começa quando a mulher aprende a se amar em sua totalidade com suas falhas, seus medos, seus desejos mais profundos.
Minhas mãos foram mais além, explorando cada centímetro, cada curva e cada sombra, enquanto minha respiração se tornava um sussurro, um hino ao prazer que eu finalmente me permitia sentir.
Os espelhos me multiplicavam, mas eu não via mais fragmentos. Via uma mulher inteira, em chamas, livre.
Meu corpo arqueou diante da intensidade do prazer que se espalhava como fogo em cada célula. As mãos tremiam, as pernas se apertavam, e a onda que me invadia parecia não ter fim.
Quando o ápice finalmente chegou, foi uma explosão avassaladora - uma liberação que ultrapassava o físico, tocando minha alma e abrindo portas trancadas há muito tempo.
Fiquei ali, ofegante, suada, os olhos marejados, olhando para mim mesma com uma nova reverência.
Athos se aproximou, silencioso, e me envolveu num abraço que não era só físico, mas uma promessa de que aquele despertar era apenas o começo.
Ele sussurrou ao meu ouvido:
- Nunca esqueça: seu prazer é seu poder.
E eu sabia que ele tinha razão.
Aquela manhã no Santuário dos Espelhos não foi apenas sobre toque ou prazer. Foi sobre renascimento. Sobre assumir a mulher que eu era, inteira, intensa, desejante.
E aquela mulher jamais seria a mesma.