Meu pai, João, um homem que sempre se preocupou com as aparências, foi o primeiro a me ligar. Sua voz, que antes era de orgulho, soava estranhamente severa.
"Maria, que foto é essa? Você não tem vergonha de ostentar assim? Sabe quanto custa uma viagem dessas? Em vez de gastar dinheiro com bobagens, por que não ajuda sua família?"
Depois veio minha mãe, Ana, com seu drama habitual. Ela me acusou de ser egoísta, de abandonar os pais que tanto se sacrificaram por mim.
"Filha, estou com tantas dívidas, e você aí, esbanjando. Você partiu meu coração."
A situação escalou rapidamente. Eles começaram a espalhar boatos entre os parentes e vizinhos, me pintando como uma filha ingrata e perdulária que negava ajuda à família necessitada.
A humilhação pública foi apenas o começo.
Eles foram até meu trabalho, uma empresa de prestígio onde eu estava prestes a ser promovida. Fizeram um escândalo no saguão, acusando-me de roubar dinheiro da família para financiar minha "vida de luxo".
Fui demitida. Minha carreira, construída com tanto esforço e noites sem dormir, foi destruída em um instante.
O golpe final veio da minha avó, Dona Clara, a matriarca que eu sempre respeitei e amei. Ela me acusou publicamente de tentar assassiná-la para receber o dinheiro de um seguro de vida.
Foi uma acusação tão absurda, tão cruel, que paralisou a todos. Mas a frieza em seus olhos era real.
Minha colega de quarto e melhor amiga da faculdade, Sofia, que deveria ser meu apoio, também me traiu. Ela secretamente forneceu informações à minha família, ajudando a construir o caso contra mim.
Eu perdi tudo. Meu emprego, minha reputação, meus amigos e, finalmente, minha família.
Desamparada e desacreditada, fui expulsa de casa e acabei em um abrigo. Mas eles não pararam. Em sua ganância, eles me expuseram a extremistas, pessoas perigosas com quem eles tinham algum tipo de ligação obscura.
Minha vida foi tirada por eles.
Enquanto eu dava meu último suspiro, a única pergunta em minha mente era: por quê? Por que a família que me criou com tanto "amor" me destruiria com tanta crueldade por dinheiro?
Eu morri com esse mistério não resolvido.
Até que abri os olhos novamente.
A luz do sol entrava pela janela do meu apartamento na capital. Meu celular vibrava na mesa de cabeceira.
Na tela, o nome "Mãe" piscava.
Eu estava viva.
O calendário no celular confirmava. Era o dia em que postei a fatídica foto de viagem. O dia em que a primeira traição aconteceu.
Eu renasci.
Uma onda de ódio frio percorreu meu corpo. Desta vez, não haveria ingenuidade. Não haveria lágrimas inúteis.
Eles me acusaram de crimes que não cometi. Nesta vida, eu vou garantir que eles paguem por cada um deles.
Eu atendi o telefone.
"Alô, mãe."
A voz dramática e chorosa de Ana soou do outro lado, exatamente como na minha memória.
"Maria, minha filha! Você viu as notícias? Sua avó está no hospital! Ela caiu e quebrou a perna!"
Na minha vida passada, eu entrei em pânico, acreditei em cada palavra e corri para o hospital, apenas para cair em sua primeira armadilha de extorsão.
Mas agora, eu sabia a verdade.
"É mesmo?", respondi, com uma calma que surpreendeu até a mim mesma. "Que pena. Espero que ela melhore logo."
Houve um silêncio chocado do outro lado da linha. Minha mãe não esperava essa reação.
"Maria! Como você pode ser tão fria? Sua avó está sofrendo! Precisamos de dinheiro para a cirurgia, e você é a única que pode ajudar!"
"Dinheiro?", repeti lentamente, saboreando a palavra. "Claro. Mas antes, por que você não me diz a verdade, mãe? Por que vocês realmente precisam de dinheiro?"
O jogo havia começado. E desta vez, eu ditava as regras.