Com um gesto deliberado, abri a bolsa e comecei a tirar os itens um por um. Carteira, chaves, um batom, meu celular.
Então, Ana se adiantou e enfiou a mão dentro da minha bolsa. Depois de remexer por um segundo, ela puxou um recibo. Não era um recibo qualquer. Era um recibo de uma joalheria de luxo, no valor de quinze mil reais.
"O que é isso, Maria?", ela gritou, agitando o papel no ar. "Quinze mil reais em joias! E você diz que não tem dinheiro para ajudar sua avó doente? Sua mentirosa!"
O recibo era falso. Na vida passada, eu não sabia como ele tinha ido parar ali. Agora, eu tinha certeza de que Sofia, minha colega de quarto, o havia colocado na minha bolsa naquela manhã, a pedido dos meus pais.
Meus colegas ofegaram. O Sr. Almeida olhou para o recibo e depois para mim, a decepção clara em seu rosto.
"Eu não comprei isso," eu disse, minha voz ainda calma. "Isso não é meu."
"Não é seu?", zombou João. "Está na sua bolsa! Você vai negar a evidência que está bem na nossa frente? Sr. Almeida, essa é a funcionária exemplar de vocês? Uma mentirosa e ladra!"
Minha voz foi abafada pelos gritos deles. Ninguém acreditava em mim. A "prova" era concreta demais. O contexto que eles criaram era perfeito demais.
Eu olhei para o Sr. Almeida, meu último pingo de esperança.
"Sr. Almeida, eu juro que não sei como isso foi parar aí."
Ele suspirou, um suspiro cansado e resignado.
"Maria... dadas as circunstâncias... acho que a discussão sobre a promoção está encerrada por agora. Na verdade, acho melhor você tirar o resto do dia de folga para resolver seus... problemas familiares."
A decisão estava tomada. A promoção estava perdida. Na minha vida passada, a demissão veio logo em seguida.
"Obrigada, Sr. Almeida," agradeci, minha voz vazia. "O senhor está certo. Acho melhor eu resolver isso de uma vez por todas."
Peguei minhas coisas e saí da sala de reuniões, sob os olhares de pena e desprezo dos meus colegas. Meus pais me seguiram, sorrisos vitoriosos mal disfarçados em seus rostos.
No corredor, Ana agarrou meu braço.
"Viu só o que você fez? Você nos forçou a isso! Você destruiu sua própria carreira por causa do seu egoísmo!"
Eu parei e olhei para ela.
"Não. Vocês destruíram. E vocês vão se arrepender."
Eu me desvencilhei de seu aperto e continuei andando. Eles não me seguiram mais. A primeira parte do plano deles estava completa.
Como esperado, dois dias depois, recebi um e-mail do RH. Meu contrato estava sendo rescindido. A justificativa era "reestruturação da empresa", mas eu sabia o verdadeiro motivo. Minha reputação estava manchada.
Fui forçada a pedir demissão para não ter uma demissão por justa causa no meu histórico.
Em minha vida passada, eu caí em desespero. Desta vez, senti um alívio sombrio. Estar livre daquele emprego significava estar livre para me concentrar na minha vingança.
Enquanto eu arrumava minhas coisas no apartamento, meus pais apareceram na minha porta. Desta vez, com expressões de falsa preocupação.
"Oh, minha filha, nós soubemos o que aconteceu!", disse Ana, tentando me abraçar. Eu me afastei. "Não se preocupe, nós vamos te ajudar. Você pode voltar para casa. Nós cuidaremos de você."
Eles queriam me levar de volta para a cidade pequena, para me manter sob seu controle total, longe de qualquer chance de recomeçar.
"Obrigada, mas não preciso da ajuda de vocês," respondi friamente.
A máscara de preocupação de João caiu.
"Não seja ingrata, Maria! Depois do que você fez, ninguém mais vai te dar um emprego nesta cidade. Nós somos sua única opção!"
Naquele momento, o plano deles para a próxima humilhação pública começou a se desenrolar. Enquanto discutíamos na porta do meu apartamento, vários vizinhos começaram a sair de seus apartamentos, atraídos pela gritaria.
Era exatamente o que eles queriam. Um público.
"Você está nos expulsando?", gritou Ana, começando seu teatro novamente. "Depois que viemos até aqui para te oferecer ajuda? Que tipo de filha é você?"
Ela então levantou a manga da blusa, revelando um grande hematoma roxo em seu braço.
"Olhem!", ela chorou para os vizinhos curiosos. "Olhem o que ela fez comigo ontem, quando eu só pedi ajuda para a avó dela! Ela me empurrou! Ela é violenta!"
O hematoma era real. Mas não fui eu quem o causou. Na vida passada, eu descobri tarde demais que ela mesma havia se machucado, batendo o braço contra a quina de uma mesa, tudo para me incriminar.
A multidão olhou para mim com horror. Uma jovem bem-vestida, que morava sozinha na capital, agredindo a própria mãe. A história se encaixava perfeitamente na narrativa que eles estavam construindo.
Eu era o monstro. Eles eram as vítimas.
E no meio da multidão de vizinhos, eu vi um rosto familiar. Sofia, minha colega de quarto. Ela me olhava com uma expressão de falsa pena, balançando a cabeça em desaprovação. A cúmplice perfeita.
A armadilha estava se fechando ao meu redor, exatamente como antes. Mas desta vez, eu estava ciente de cada fio da teia.