Maria Inocente Morreu: Renasci
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Capítulo 4

A visão do hematoma no braço da minha mãe e os olhares de condenação dos vizinhos foram como um soco no estômago, uma repetição dolorosa do passado. Mas desta vez, a dor se misturava com uma raiva gelada.

"Isso é mentira," eu disse, minha voz baixa, mas firme. "Eu não toquei em você."

"Mentira?", gritou João, entrando no papel de pai protetor. Ele se aproximou de mim, o rosto vermelho de fúria. "Você agride sua mãe e ainda tem a coragem de negar? Sua ingrata!"

E então, ele fez.

Na frente de todos, ele levantou a mão e me deu um tapa no rosto.

O som ecoou pelo corredor silencioso. Meu rosto ardeu. Os vizinhos ofegaram, alguns recuaram, chocados com a violência explícita.

O tapa não foi apenas um ato de raiva. Foi calculado. Ele me agrediu para se posicionar como a autoridade, o pai que estava "disciplinando" uma filha rebelde e violenta. Ele queria quebrar meu espírito ali, na frente de todos.

Ana, vendo a reação de choque dos vizinhos, imediatamente se jogou nos braços de João, chorando histericamente.

"Não, João, não faça isso! Ela ainda é nossa filha! Não podemos desistir dela!"

Era a performance de uma vida. O casal sofredor, tentando lidar com uma filha monstruosa.

Enquanto eles encenavam seu drama, João pegou o celular. Ele discou um número, colocando no viva-voz para que todos ouvissem.

"Alô? Tio Roberto? Sou eu, João... Estou te ligando porque a situação com a Maria ficou insustentável... Sim, ela agrediu a Ana... Estamos aqui na porta do apartamento dela, e ela acabou de nos expulsar... Não sei mais o que fazer. Precisamos de ajuda financeira para pagar as dívidas e talvez um tratamento para a Maria... Ela não está bem da cabeça... Sim, nós vamos cortar relações com ela, pelo nosso próprio bem... Qualquer ajuda seria bem-vinda."

Ele estava usando a cena que acabara de criar para extorquir dinheiro de outros parentes, pintando a si mesmo como uma vítima que precisava de amparo. E, ao mesmo tempo, me isolando ainda mais.

Meu sangue ferveu. Tirei meu próprio celular do bolso e comecei a discar o número da polícia.

"O que você está fazendo?", rosnou João, vendo o que eu ia fazer.

Ele avançou e arrancou o celular da minha mão com violência. O aparelho caiu no chão, a tela se estilhaçando.

"Você vai chamar a polícia para os seus próprios pais? Sua desgraçada! Você quer nos ver na cadeia?", ele sibilou, o rosto a centímetros do meu.

Eu estava encurralada. Fisicamente impedida, verbalmente atacada, e completamente desacreditada aos olhos de todos. Os vizinhos, que antes pareciam chocados com o tapa, agora me olhavam com desconfiança, convencidos pela performance dos meus pais de que eu era a verdadeira culpada.

A cena funcionou perfeitamente. Poucos minutos depois, o celular de João apitou. Uma notificação de transferência bancária. O Tio Roberto havia mordido a isca.

Com o dinheiro garantido, a missão deles ali estava completa.

"Nós vamos embora," disse João, com um ar de superioridade moral. "Mas saiba, Maria, que a partir de hoje, você não é mais nossa filha. Nós nos recusamos a ter qualquer ligação com alguém como você."

Eles se viraram e foram embora, de braços dados, como um casal de mártires se retirando do campo de batalha. Os vizinhos se dispersaram, lançando-me últimos olhares de desprezo.

A porta do meu apartamento se fechou, e eu fiquei sozinha no corredor, o eco do tapa ainda ardendo no meu rosto e o som do meu celular quebrado no chão.

Fui forçada a romper os laços. Completamente isolada.

Naquela noite, sentada no escuro do meu apartamento, as memórias vieram. Memórias de uma infância supostamente feliz. Lembrei-me de João me ensinando a andar de bicicleta, de Ana cantando para eu dormir, de Dona Clara fazendo meu bolo favorito.

Eles me amavam. Ou eu pensava que sim.

Como aquele "amor" pôde se transformar nesse ódio, nessa crueldade implacável?

Na minha vida passada, eu nunca entendi. Mas agora, com a mente clara, comecei a conectar os pontos. A mudança drástica no comportamento deles. A escalada das acusações. Tudo começou imediatamente após uma única ação minha.

A postagem daquela foto.

A foto de viagem não era apenas uma imagem de ostentação para eles. Era um gatilho. Ela significava algo mais. Significava que eu estava me tornando independente, bem-sucedida, visível. E, por algum motivo, isso os aterrorizava e, ao mesmo tempo, os motivava.

Eles não queriam me ver crescer. Eles queriam me podar, me manter pequena, sob controle. A foto foi o sinal de que estavam perdendo esse controle.

E a ganância deles encontrou na minha ascensão a desculpa perfeita para agir.

A suspeita começou a se formar, uma semente escura no fundo da minha mente. A crueldade deles não era aleatória. Era um plano. E eu estava determinada a descobrir o objetivo final desse plano.

                         

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