"Eu não estou acusando ninguém, mãe. Só estou fazendo uma pergunta," respondi, mantendo meu tom neutro. "Você disse que a vovó quebrou a perna. Em qual hospital ela está? Eu posso ligar para verificar e talvez transferir o dinheiro diretamente para a conta do hospital."
Silêncio. Um silêncio longo e pesado. Eu podia quase ouvir as engrenagens na cabeça dela girando, tentando encontrar uma nova mentira.
"Não precisa se preocupar com isso! É um processo complicado," ela finalmente disse, a voz cheia de uma falsa urgência. "Apenas transfira o dinheiro para a minha conta. Eu cuido de tudo. Preciso de dez mil reais. Agora."
Dez mil reais. A mesma quantia que eles me extorquiram da primeira vez.
"Dez mil reais é muito dinheiro, mãe. Eu não tenho tudo isso agora. Acabei de pagar o aluguel."
"Não minta pra mim, Maria! Eu vi a foto da sua viagem! Se você tem dinheiro para passear e se exibir, tem dinheiro para ajudar sua família! Ou você prefere ver sua avó aleijada para o resto da vida?"
A chantagem emocional. Clássico.
"Vou ver o que posso fazer," eu disse, encerrando a conversa antes que ela pudesse continuar. "Tenho uma reunião importante agora. Tchau."
Desliguei o telefone antes que ela pudesse protestar. Meu coração batia forte, não de medo, mas de uma raiva fria e calculista. Eles não haviam perdido tempo.
Fui para o trabalho. Era um dia crucial. A reunião que mencionei era real, e nela, meu chefe anunciaria a nova gerente de projetos. Na minha vida passada, esse cargo era meu.
Mas foi naquele mesmo dia que meu pai e minha mãe apareceram na empresa para fazer seu primeiro escândalo.
Eu cheguei ao escritório e fui direto para a minha mesa. Meus colegas me cumprimentaram com sorrisos, alguns me parabenizando antecipadamente pela promoção. Eu sorri de volta, um sorriso vazio.
A reunião começou. Meu chefe, Sr. Almeida, elogiava meu trabalho, meu comprometimento. Eu podia sentir o olhar de inveja de alguns colegas. Tudo estava acontecendo exatamente como antes.
Então, a porta da sala de reuniões se abriu com um estrondo.
Meu pai, João, e minha mãe, Ana, entraram. As expressões em seus rostos eram uma mistura de fúria e sofrimento encenado.
"Maria!", gritou meu pai, apontando um dedo acusador para mim. "Como você tem coragem de ficar aqui, tranquila, enquanto sua família está passando por necessidades?"
Todos na sala se viraram para mim, chocados. O Sr. Almeida franziu a testa, confuso.
"Senhor, senhora, aqui é um local de trabalho. Se tiverem algum problema pessoal, por favor, resolvam lá fora."
Ana começou a chorar, um choro alto e desesperado.
"Problema pessoal? Minha filha, a quem demos tudo, nos abandona! Ela gasta rios de dinheiro com luxos, mas se recusa a nos ajudar! Nós criamos um monstro!"
Eu me levantei. Na vida passada, eu estava tremendo, humilhada, sem saber o que dizer.
Desta vez, eu os encarei diretamente.
"Pai, mãe, o que vocês estão fazendo aqui? Eu disse que ia ver o que podia fazer."
"Ver o que podia fazer?", zombou João. "Isso não é suficiente! Nós precisamos do dinheiro agora! Ou será que você gastou tudo em suas roupas caras e jantares chiques? Quem sabe o que mais você faz para conseguir esse dinheiro todo?"
A insinuação era clara e venenosa. Ele estava sugerindo que eu estava me prostituindo.
O ar na sala ficou pesado. Meus colegas me olhavam com uma mistura de pena e suspeita. A promoção, que estava ao meu alcance, agora parecia se dissolver no ar.
"Eu trabalho duro pelo meu dinheiro," eu disse, minha voz firme. "Cada centavo que eu tenho foi ganho com meu próprio suor. Vocês sabem disso."
"Trabalho duro?", Ana riu em meio às lágrimas. "Nós sabemos que seu salário não é tão alto assim. Como você consegue pagar um apartamento caro na capital e ainda viajar? Você está nos escondendo alguma coisa, Maria. E nós, como seus pais, temos o direito de saber!"
Eles estavam me encurralando, destruindo minha credibilidade na frente do meu chefe e de todos. Eles queriam me quebrar, me humilhar, para que eu ficasse dependente deles e fosse mais fácil de controlar e extorquir.
"Essa empresa deveria ter mais cuidado com quem contrata," disse João, olhando diretamente para o Sr. Almeida. "Uma pessoa com uma moral tão questionável não deveria ocupar um cargo de responsabilidade."
O Sr. Almeida, que antes me apoiava, agora me olhava com desconfiança. A semente da dúvida havia sido plantada.
"Talvez devêssemos dar uma olhada nas suas coisas, Maria," disse Ana, sua voz subitamente maliciosa. "Verificar sua bolsa, seu computador. Tenho certeza que encontraríamos provas de como você realmente consegue seu dinheiro."
Era o mesmo roteiro da minha vida passada. A humilhação final. Os olhares de todos se voltaram para mim, esperando minha reação. Eles queriam que eu negasse, que eu chorasse, que eu parecesse culpada.
Mas eu não era mais aquela garota.
Eu olhei para minha mãe, para meu pai, e depois para o Sr. Almeida.
"Tudo bem," eu disse, com uma calma assustadora. "Podem verificar. Eu não tenho nada a esconder."