O Lobo Que Me Torturou, Meu Destino
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Capítulo 1

No dia em que nasci, minha tia-avó, uma bruxa poderosa, invadiu o quarto.

Ela não veio para celebrar.

Ela me arrancou do berço, ignorando os gritos de minha mãe.

Minha mãe era sua irmã mais nova.

Com um feitiço, ela apagou a memória de todos, colocando no meu lugar sua própria neta recém-nascida.

Fui levada para a casa do líder da matilha de lobos. Minha tia-avó me apresentou como a filha dele, trocada no nascimento.

Ninguém desconfiou da mentira.

Nasci com poderes mágicos milenares, uma herança que minha tia-avó cobiçava, mas ela não sabia a real extensão deles.

Para sobreviver, eu fingi.

Fingi ser uma menina comum, fraca e inocente.

Por cem anos, a tortura foi minha rotina diária.

Minha tia-avó, que todos pensavam ser minha avó, vinha me visitar secretamente.

Ela trazia uma adaga de obsidiana.

Com um sorriso frio, ela cortava meu peito e colhia o sangue do meu coração. O sangue pulsava com uma luz dourada que só ela via.

"É para o bem da sua prima," ela dizia, com a voz gotejando um falso carinho. "Ela precisa ser forte."

O sangue era usado em rituais para fortalecer a filha dela, a garota que todos acreditavam ser eu.

Além do sangue, eu era a isca.

Ela me levava para as profundezas da floresta negra, me amarrava a uma árvore e fazia cortes profundos em meus braços e pernas.

O cheiro do meu sangue mágico atraía feras terríveis.

Enquanto as bestas me atacavam, rasgando minha pele e quebrando meus ossos, ela se esgueirava por trás e roubava as joias mágicas que elas guardavam.

Joias para aumentar o poder de sua filha.

Meu corpo se quebrava e se curava, de novo e de novo. Cada cura me deixava mais deformada, mais fraca na aparência.

Meus membros ficaram aleijados, meu rosto coberto de cicatrizes.

Tornei-me a "Chapeuzinho Vermelho" mais feia da aldeia.

As crianças jogavam pedras em mim. Os adultos me olhavam com desprezo.

"Olha a aleijada."

"A filha inútil do líder."

Ninguém entendia por que eu usava um capuz vermelho o tempo todo. Era para esconder as cicatrizes e o sangue que às vezes escorria dos ferimentos mal curados.

Enquanto isso, a verdadeira neta da minha tia-avó, criada como a filha da loba alfa, florescia.

Ela se tornou uma jovem linda, com cabelos prateados e olhos violeta. Seu poder, alimentado pelo meu sangue e pelas joias roubadas, era imenso.

Ela era o orgulho da matilha.

Hoje era o dia.

O dia em que o líder da matilha, meu "pai adotivo", anunciaria seu sucessor.

Todos estavam reunidos na clareira sagrada. A lua cheia brilhava no céu, iluminando os rostos ansiosos dos lobos.

Minha prima, Elara, estava no centro, radiante e confiante.

Então, minha tia-avó deu um passo à frente.

Lágrimas escorriam por seu rosto enrugado. Eram lágrimas de crocodilo, perfeitas e convincentes.

"Meu irmão," ela choramingou para o líder da matilha. "Eu guardei um segredo terrível por cem anos. Um segredo que queima minha alma."

O líder da matilha, um homem alto e autoritário, franziu a testa.

"Que segredo, irmã?"

Ela apontou um dedo trêmulo para mim, encolhida nas sombras, e depois para Elara.

"As bebês foram trocadas no nascimento!" sua voz soou, carregada de uma falsa dor. "Elara... Elara é minha neta! E essa... essa coisa," ela cuspiu a palavra, "é sua verdadeira filha."

Um silêncio chocado caiu sobre a clareira.

A esposa do líder da matilha, Luna, a única pessoa que já me mostrou alguma bondade, levou a mão ao peito. Seus olhos se arregalaram em puro horror e confusão.

Ela olhou para mim, para Elara, e então desmaiou.

A clareira explodiu em um caos de sussurros e acusações.

Todos os olhares se voltaram para mim. Olhares de nojo, de ódio.

Eu permaneci em silêncio, minha cabeça baixa sob o capuz vermelho.

Por dentro, eu zombava.

E daí que foram trocados?

A encenação dela era patética. Mas necessária. Era o primeiro passo do meu plano.

O líder da matilha rosnou, seus olhos brilhando com fúria. Ele não estava com raiva da irmã, mas de mim. Pela vergonha.

"Arrastem-na para o centro!" ele ordenou.

Dois lobos me agarraram pelos braços e me jogaram no chão de terra, aos pés de Elara.

Minha tia-avó se aproximou, seu rosto uma máscara de tristeza fingida.

"Para provar a linhagem de Elara," ela declarou para a multidão, "e para purificar a matilha dessa mancha, precisamos de um sacrifício. Um ritual de sangue."

Ela pegou a mesma adaga de obsidiana que usou em mim por um século.

Diante de todos, ela rasgou a manga do meu vestido e arrancou um pedaço da minha pele.

Eu não gritei. A dor era uma velha amiga.

Ela jogou o pedaço de carne ensanguentada em um caldeirão fervente. Uma fumaça roxa subiu, envolvendo Elara, que sorriu, sentindo o poder fluir para ela.

Meu corpo tremia, não de dor, mas de uma raiva contida por cem anos.

Eu sabia o verdadeiro motivo de tudo aquilo.

Não era apenas sobre poder.

Era sobre vingança.

Minha tia-avó, a bruxa Lira, amava o homem que se casou com Luna, a esposa do líder da matilha. Mas ele a rejeitou. O líder da matilha atual, irmão de Lira, a ajudou a se vingar. O homem que ela amava e sua esposa, meus verdadeiros pais, foram mortos. A troca de bebês foi o ápice de sua vingança contra Luna, a mulher que "roubou" seu amor.

Eles não sabiam quem eu era de verdade. Achavam que eu era filha de um lobo rival.

Eles não sabiam que eu não era uma loba.

Eu era humana. A última de uma linhagem de magos com poderes que fariam os deles parecerem brincadeira de criança.

Minha verdadeira mãe não era Luna. Minha verdadeira mãe era a irmã de Lira, a bruxa que ela mesma traiu e matou.

Lira, minha tia-avó, era a verdadeira mãe da garota que ela colocou no meu lugar.

O pânico que vi nos olhos de Luna quando ela desmaiou não era pela troca. Era um pânico antigo, uma memória reprimida tentando vir à tona.

O show estava apenas começando.

E eu seria a diretora do ato final.

Enquanto Lira preparava outro ritual, o líder da matilha se aproximou. Ele me chutou no estômago.

"Sua existência é um insulto," ele rosnou.

Uma magia antiga e sutil foi tecida em suas palavras. Uma mordaça mágica.

Ele pensou que me impediria de falar a verdade.

Ele não sabia que, para meus poderes, o feitiço dele era como uma teia de aranha tentando segurar uma avalanche.

Eu deixei que ele acreditasse que tinha o controle.

Paciência.

Cem anos de paciência.

O que eram mais algumas horas?

Lira se ajoelhou ao meu lado, seu hálito podre no meu rosto.

"Sua prima precisa de um coração forte para liderar," ela sussurrou, para que só eu ouvisse. "E o seu sempre foi tão... generoso."

Ela riu, uma risada seca e cruel.

"Curve-se diante dela. Peça perdão por ter roubado o lugar dela por tanto tempo."

A humilhação era a última gota.

A plateia esperava.

E eu... eu esperava também.

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