Ela estava em um pedestal de pedra no centro, vestida com sedas brancas. A Joia da Lua, agora engastada em um colar de prata, repousava em seu pescoço, pulsando com um poder que não era dela.
Ela parecia uma deusa.
Eu parecia lixo.
O contraste era exatamente o que Lira queria.
Zeke, o líder da matilha, bateu seu cajado no chão. O som silenciou a multidão.
"Hoje," ele proclamou, sua voz ressoando com autoridade, "nós corrigimos um erro de cem anos! Hoje, damos as boas-vindas à nossa verdadeira futura líder, Elara!"
A matilha uivou em aprovação.
Lira subiu no pedestal ao lado de Elara, levantando as mãos.
"Obrigada, meu irmão. Obrigada a todos," ela disse, sua voz embargada de emoção falsa. "Meu coração se parte pela decepção que todos nós sofremos. Por cem anos, criamos uma impostora, uma fraca, uma vergonha para a nossa linhagem."
Seus olhos se fixaram em mim.
"Mas a linhagem verdadeira é forte! Minha neta, Elara, está pronta para receber sua bênção e liderar-nos para a glória!"
Ela se virou para Elara e colocou as mãos sobre a Joia da Lua.
"Com este artefato, recuperado com grande sacrifício," ela olhou para mim de relance, "seu poder será selado!"
Mas então, a dúvida começou a surgir na multidão.
"Como sabemos que ela está dizendo a verdade?" gritou um lobo do fundo.
"Sim!" outro concordou. "Elara foi criada por Luna! Ela pode ter sido enfraquecida pela bondade dela!"
"A aleijada foi criada na casa do líder! Talvez ela seja a mais forte!"
A lógica deles era torta, mas servia ao meu propósito. Eles questionavam a narrativa de Lira.
Elara ficou pálida. O poder dela, apesar de roubado, a tornava arrogante. A ideia de que alguém pudesse duvidar dela era um insulto.
"Como ousam?" ela gritou. "Eu sou a sua líder! Eu sou a mais forte!"
Zeke rosnou para os dissidentes. "Silêncio! A palavra da minha irmã é lei!"
No meio do caos, Luna, a esposa de Zeke, deu um passo à frente. Seu rosto estava devastado. Ela olhou para o marido, para Lira, e para as duas garotas no centro.
"Zeke... Lira... o que vocês fizeram?" ela sussurrou, o som se perdendo no barulho.
Ela olhou para mim, e algo em seus olhos se quebrou. A verdade do engano, a profundidade da crueldade, finalmente a atingiu.
Ela soltou um soluço e caiu de joelhos, o corpo tremendo de dor e traição.
Zeke olhou para sua esposa caída com puro desprezo.
"Levem-na daqui. Ela está estragando a cerimônia."
Ele se voltou para Lira. "Termine logo com isso, irmã. Antes que essa farsa se arraste ainda mais."
Sua raiva era palpável. Ele não estava com raiva da crueldade dela, mas da bagunça que ela criou.
A hora havia chegado.
Enquanto Lira começava a entoar o feitiço para selar o poder em Elara, eu me movi.
Com um gemido de dor forçado, eu me arrastei para a frente, estendendo uma mão trêmula.
"Parem..." eu sussurrei, minha voz rouca e fraca.
Todos se viraram para mim.
"É verdade," eu disse, um pouco mais alto. "Tudo o que ela disse é verdade."
Lira parou, surpresa com a minha confissão.
"Eu não sou sua filha," eu disse, olhando para Zeke e Luna. "Elara é a verdadeira herdeira."
Um sorriso presunçoso se espalhou pelo rosto de Lira. Eu estava tornando as coisas mais fáceis para ela.
Mas eu não tinha terminado.
"E para provar," eu continuei, minha voz ganhando uma força gelada que chocou a todos, "eu vou mostrar a vocês."
Eu levantei minha outra mão.
Do meu dedo, uma gota do meu próprio sangue se formou.
Com um movimento de energia, eu a lancei no ar.
A gota explodiu, não com violência, mas como um projetor.
Uma imagem se formou no ar acima de nós. Uma imagem do passado.
Mostrava Lira, cem anos mais jovem, me tirando do meu verdadeiro berço. Mostrava o rosto em pânico da minha verdadeira mãe, sua irmã, antes que Lira a silenciasse para sempre. Mostrava Lira colocando a pequena Elara nos braços de Luna.
A clareira ficou em silêncio mortal.
A imagem era inegável. Mágica de memória. Uma magia que eles achavam que estava extinta.
Lira olhou para a imagem, seu rosto se contorcendo de choque e fúria.
Eu me levantei.
Meu corpo aleijado se endireitou. A fraqueza desapareceu.
"Sim, nós fomos trocadas," eu declarei, minha voz agora ressoando com um poder que fez o chão tremer levemente.
"Mas a história que ela contou não é a história toda."
Eu apontei um dedo para Lira.
"E você, tia-avó, vai me contar o resto."
O desafio estava lançado.
A farsa acabou.
A vingança começou.
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