O Lobo Que Me Torturou, Meu Destino
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Capítulo 2

A ordem de Lira ecoou na clareira silenciosa.

"Curve-se!"

Os olhos de todos estavam em mim. Esperando. Julgando.

Lentamente, com os ossos rangendo em protesto, eu me movi.

Meu corpo aleijado e dolorido obedeceu.

Ajoelhei-me na terra fria, diante de Elara.

Levantei minha cabeça e olhei para ela. Seu rosto era a imagem da perfeição e do poder. Um poder roubado de mim, gota a gota, por um século.

Um sorriso de triunfo dançou em seus lábios.

Ela se deleitava com a minha humilhação.

"Isso mesmo, vira-lata," ela disse, sua voz clara e melodiosa, mas cheia de veneno. "É aí que você pertence. No chão."

Eu abaixei a cabeça, escondendo o fogo que ardia em meus olhos.

Nesse momento, Luna, a esposa do líder, recuperou a consciência.

Ela se levantou cambaleando, com a ajuda de outra loba. Seus olhos encontraram os meus, no chão.

Uma dor genuína cruzou seu rosto.

"Parem!" ela gritou, sua voz fraca, mas firme. "Isso é cruel. Ela pode não ser minha filha de sangue, mas eu a criei. Parem com isso!"

Ela correu em minha direção, tentando me levantar. Suas mãos eram quentes, o único calor que senti em muitos anos que não vinha da dor.

Ela sempre foi gentil.

Ela me dava cobertores extras no inverno. Deixava comida na minha porta quando meu "pai" me proibia de jantar. Ela nunca me olhou com nojo, apenas com uma tristeza confusa.

Ela era a única razão pela qual minha vingança ainda não havia queimado todos eles até as cinzas.

"Saia daqui, Luna!" Lira rosnou, empurrando-a para longe de mim. "Você é uma tola sentimental! Esta criatura sujou seu ninho por cem anos! Você deveria estar cuspindo nela, não a defendendo!"

Luna tropeçou para trás, seus olhos cheios de lágrimas.

"Ela é uma criança, Lira! Olhe para ela! Ela está machucada!"

"Machucada?" Lira riu. "Isso não é nada. É uma honra para ela sacrificar-se pelo bem da futura líder. Pelo bem da minha neta."

Lira se virou para Elara, seu rosto subitamente cheio de uma ansiedade febril. Ela alisou o cabelo de Elara, verificando-a como se fosse uma boneca de porcelana frágil.

"Você está bem, querida? O poder está se assentando? Não está sentindo nenhuma tontura?"

Elara afastou a mão dela, irritada. "Estou bem, vovó. Pare de me tratar como uma criança."

A preocupação de Lira era quase cômica. Ela roubava poder para a neta, mas temia que o mesmo poder a machucasse. Era uma obsessão doentia.

Luna, recuperando a compostura, enfrentou Lira novamente.

"Você está errada, Lira. O poder não vem da crueldade. Um verdadeiro líder não é construído sobre o sofrimento de outro."

Ela olhou para o irmão, o líder da matilha. "Zeke, diga a ela! Você não pode permitir isso!"

Zeke, o líder, desviou o olhar. Sua lealdade era para com a irmã e a linhagem de poder que ela prometia através de Elara, não para com os sentimentos de sua esposa.

"Luna, fique quieta. Lira sabe o que está fazendo."

A derrota no rosto de Luna foi total. Ela olhou para mim uma última vez, um pedido de desculpas silencioso em seus olhos, antes de recuar para a multidão.

O pequeno vislumbre de esperança se apagou.

Lira sorriu, vitoriosa.

O confronto com Luna pareceu dar-lhe uma nova ideia, uma nova maneira de me torturar.

Seu sorriso se alargou, mostrando os dentes amarelados.

"Você sabe," ela disse, voltando-se para mim. "Sua 'mãe' tem razão. O sofrimento por si só não é suficiente. Deve haver um propósito maior."

Ela estalou os dedos.

Duas vinhas espinhosas brotaram do chão e se enrolaram em meus tornozelos.

"Há um lugar, na Floresta Proibida, onde a própria terra sangra magia. Mas é guardado por uma besta que nem mesmo Zeke ousa enfrentar."

Seus olhos brilharam com uma malícia arrepiante.

"Mas a besta tem uma fraqueza. Ela é atraída por linhagens antigas e poderosas."

Ela me puxou para cima pelas vinhas. Os espinhos cravaram na minha pele.

"Seu sangue inútil finalmente servirá para algo grandioso. Você será a isca perfeita."

O medo percorreu a multidão. A Floresta Proibida era um lugar de morte certa.

Lira ia me levar para lá.

Ela ia me jogar para uma criatura lendária.

E ela parecia animada com a ideia.

Uma nova onda de dor e humilhação estava prestes a começar.

Mas por baixo do meu capuz, um sorriso se formou em meus lábios rachados.

Tudo estava indo exatamente como o planejado.

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