Fomos para uma parte da floresta que eu nunca tinha visto, nem mesmo nas minhas piores expedições como isca.
Um pântano fétido borbulhava no centro de uma clareira morta. A água era negra e oleosa, e bolhas de gás metano subiam à superfície com um som sibilante.
No meio do pântano, em uma pequena ilha de terra seca, crescia uma única flor.
Ela brilhava com uma luz prateada, pulsando suavemente. A Joia da Lua. Uma fonte de poder imenso, capaz de solidificar a reivindicação de Elara à liderança.
"Lindo, não é?" Lira sussurrou, seu hálito quente e azedo no meu ouvido. "A fonte do poder elemental. Guardada pelo Basilisco do Pântano."
Ela me empurrou para a beira da água negra.
"O Basilisco só aparece quando sente o cheiro de sangue nobre. O seu sangue."
Ela sorriu. "Eu poderia simplesmente te jogar aí. Mas seria um desperdício."
Sem aviso, ela agarrou meu braço esquerdo. Com uma força sobrenatural, ela o torceu.
Um estalo alto e doentio ecoou na floresta silenciosa.
A dor foi uma explosão branca atrás dos meus olhos. Meu osso se partiu.
Eu caí de joelhos, ofegando.
"Ah, isso mesmo. A dor libera a essência mágica no sangue," ela disse, como uma professora explicando uma lição.
Ela pegou sua adaga de obsidiana.
Ela não fez um corte limpo. Ela arrastou a lâmina pela minha perna, abrindo um sulco profundo e irregular da minha coxa até o tornozelo.
O sangue jorrou, vermelho e brilhante, caindo na água escura do pântano.
Eu mordi o lábio para não gritar. Não por orgulho, mas por estratégia. Meus gritos apenas a satisfariam.
A água começou a borbulhar violentamente onde meu sangue tocou.
Uma forma enorme começou a se mover sob a superfície.
"Veja," Lira sibilou, excitada. "Ele está vindo."
Uma cabeça reptiliana, coberta de escamas iridescentes, emergiu da água. Seus olhos eram fendas amarelas, cheias de uma inteligência fria e faminta. O Basilisco.
Ele me ignorou e se concentrou em Lira. Ele era o guardião da Joia da Lua, não um monstro irracional.
Lira recuou, surpresa.
"O que...? Ele deveria atacar a fonte do sangue!"
O Basilisco sibilou, e eu entendi suas palavras em minha mente, uma linguagem antiga que os lobos haviam esquecido.
Bruxa ladra. Você perturba o equilíbrio.
Lira não entendeu. Ela só viu a ameaça.
"Droga inútil!" ela gritou para mim. "Seu sangue não é forte o suficiente!"
Ela me chutou, me fazendo rolar para mais perto da água.
Então, ela fez algo que não fazia há décadas. Ela enfiou a mão no meu peito, através das roupas e da pele, e agarrou meu coração pulsante.
A agonia foi absoluta.
O mundo ficou preto por um instante.
Ela apertou.
Meu coração bombeou sangue mágico diretamente de sua fonte, um jorro dourado que se misturou ao vermelho na água.
Desta vez, o Basilisco reagiu.
O cheiro era irresistível. Era o cheiro da própria criação.
Ele se virou para mim, seus olhos amarelos fixos no meu corpo quebrado.
Com um rugido, ele avançou.
Lira aproveitou a distração. Enquanto o monstro se arrastava para fora da água em minha direção, ela correu para a pequena ilha, arrancou a Joia da Lua do chão e fugiu para a segurança das árvores.
Eu fiquei sozinha, com meu braço quebrado, minha perna mutilada, e um monstro gigante vindo para me devorar.
As presas do Basilisco se fecharam em meu ombro.
A dor foi indescritível. Senti meus ossos sendo esmagados, meus músculos rasgados.
Mas algo mais aconteceu.
No momento em que a criatura me mordeu, meu poder, suprimido por um século, encontrou uma saída.
Uma onda de energia pura fluiu de mim para o Basilisco.
Ele congelou. Seus olhos amarelos se arregalaram.
Ele soltou meu ombro e recuou, sibilando em confusão e medo.
Você... O que é você? a voz ecoou em minha mente. Você não é um lobo... Você é... antiga.
Lentamente, diante dos olhos da besta, meu ombro começou a se consertar.
A pele se uniu. Os músculos se teceram. Os ossos se fundiram.
A dor diminuiu, substituída por um zumbido de poder.
Essa era a minha verdadeira natureza. Cura acelerada. Poder bruto.
Eu escondi isso por cem anos. Cada osso quebrado, cada corte, eu curava lentamente, dolorosamente, para manter a farsa.
Mas aqui, longe de olhos curiosos, eu não precisava me segurar.
O Basilisco me observou, não mais com fome, mas com reverência.
Ele se curvou, abaixando sua cabeça massiva até o chão.
Perdão, Anciã. Eu não sabia.
Eu me levantei, meu corpo ainda dolorido, mas inteiro.
Lira voltou, saindo de trás de uma árvore. A Joia da Lua pulsava em sua mão.
Ela me viu de pé. Inteira.
Um choque genuíno cruzou seu rosto, seguido de desprezo.
"Você é uma barata difícil de matar, não é?" ela zombou, embora houvesse um novo pingo de nervosismo em sua voz. "Não importa. Você cumpriu seu propósito."
Ela agarrou meu cabelo, me forçando a olhar para ela.
"Agora, vamos voltar. O grande final de Elara a espera. E você terá um assento na primeira fila."
Ela me arrastou de volta pela floresta.
Eu a segui, meu rosto uma máscara de submissão.
Mas por dentro, a contagem regressiva havia começado.
Ela tinha a joia.
O cenário estava montado.
A hora da vingança estava muito, muito próxima.
---