"Eu lembro-me da sua cunhada," disse ela em voz baixa. "Ela era muito... insistente."
"Insistente como?" perguntei, o meu coração a bater mais depressa.
"Ela queria ver a sua bebé. Disse que era a tia e que tinha o direito. Eu disse-lhe que apenas os pais eram permitidos no berçário, mas ela não quis ouvir. Ela fez uma cena."
"O que aconteceu depois?"
"A enfermeira-chefe teve de intervir. A Sofia saiu furiosa. Mas... eu vi-a a falar com outra pessoa mais tarde."
"Com quem?"
"Com uma das nossas auxiliares de limpeza. A Lúcia. Elas estavam a conversar num canto, pareciam muito secretas."
O nome Lúcia não me dizia nada. Mas era uma pista.
"Onde posso encontrar a Lúcia?" perguntei.
"Ela já não trabalha aqui," disse a Ana. "Ela despediu-se no dia seguinte à... à morte da sua filha. Disse que tinha uma emergência familiar."
Demasiada coincidência.
Agradeci à Ana e saí do hospital com um novo alvo. Lúcia, a auxiliar de limpeza.
Conseguir o endereço dela não foi fácil. Tive de usar um pouco do dinheiro que a minha mãe tinha guardado para subornar um funcionário dos recursos humanos do hospital.
A Lúcia vivia num bairro pobre nos arredores da cidade. Um prédio de apartamentos degradado.
Bati à sua porta. Ninguém respondeu. Bati outra vez, com mais força.
Finalmente, a porta abriu-se uma fresta. Uma mulher de meia-idade, com o rosto cansado e assustado, espreitou.
"Quem é você?" perguntou ela.
"O meu nome é Helena. Eu preciso de falar consigo sobre o que aconteceu no hospital."
O seu rosto ficou pálido. "Eu não sei do que está a falar."
Ela tentou fechar a porta, mas eu coloquei o meu pé no caminho.
"Por favor," disse eu, a minha voz a tremer um pouco. "A minha filha morreu. Eu sei que você falou com a minha cunhada, a Sofia."
Os olhos da Lúcia encheram-se de lágrimas. "Eu não posso falar sobre isso. Ela vai matar-me."
"Quem vai matá-la? A Sofia?"
Ela abanou a cabeça, aterrorizada. "Por favor, vá-se embora."
"Eu não vou a lado nenhum até me dizer a verdade," insisti. "Quanto é que ela lhe pagou? Pagou-lhe para entrar no berçário? Pagou-lhe para magoar a minha bebé?"
A Lúcia começou a soluçar, o seu corpo a tremer.
"Eu não queria fazer mal a ninguém," chorou ela. "Eu precisava do dinheiro. O meu filho está doente, ele precisa de uma cirurgia cara."
"O que é que a Sofia lhe pediu para fazer?" perguntei, a minha voz dura como aço.
"Ela deu-me um frasco pequeno," sussurrou a Lúcia. "Disse que era apenas uma vitamina. Para colocar no biberão da bebé. Disse que a bebé era fraca e precisava de ajuda."
Uma vitamina. A mentira era tão simples, tão cruel.
"Ela disse que me daria dez mil euros. Eu não acreditei nela, mas ela deu-me metade adiantado. Eu estava desesperada."
"E você fez isso?"
A Lúcia olhou para o chão, cheia de vergonha. "Sim. Eu entrei no berçário quando ninguém estava a olhar. Eu coloquei o líquido no biberão. Eu não sabia que era veneno. Juro por Deus, eu não sabia."
A raiva e a dor lutaram dentro de mim. Esta mulher, por desespero, tinha ajudado a matar a minha filha.
Mas o verdadeiro monstro era a Sofia.
"Você tem de contar isto à polícia," disse eu.
"Não posso," choramingou ela. "A Sofia disse que se eu abrisse a boca, ela faria mal ao meu filho."
"A polícia pode protegê-la," disse eu. "Eles podem proteger o seu filho."
"Você não a conhece. Ela é má."
Eu sabia. Eu conhecia-a demasiado bem.
"Então ajude-me," disse eu, mudando de tática. "Ajude-me a apanhá-la. Dê-me uma prova. Algo que a ligue a isto."
A Lúcia hesitou. Depois, ela entrou em casa e voltou com um pedaço de papel.
Era um recibo de uma transferência bancária. Cinco mil euros. Da conta da Sofia para a conta da Lúcia.
A data era o dia em que a Eva morreu.
Era a prova de que eu precisava.