Casamento de Dor, Destino de Vingança
img img Casamento de Dor, Destino de Vingança img Capítulo 1
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Capítulo 1

O cheiro de papel novo e a tinta fresca da caneta pairavam no ar do cartório. Eu estava prestes a assinar o documento que me uniria a Pedro para sempre, o papel que, na minha vida passada, selou meu destino trágico.

Minhas mãos tremiam, não de felicidade, mas pelo eco da dor que ainda vibrava em minha alma.

Lembrei-me do sol escaldante, da pele queimando, da sede que rachava meus lábios. Lembrei-me de estar presa em uma jangada no meio do rio Pantanal, uma prisioneira sob o olhar sádico de Pedro. Ele me torturou até a morte, dia após dia, culpando-me por uma tragédia que eu não causei.

Lembrei-me dos meus três filhos, bebês que mal tiveram tempo de respirar, mortos pelas mãos do próprio pai, um ato de crueldade para me fazer sofrer.

E tudo porque a prima dele, Sofia, com quem ele teve um caso acidental, se afogou no rio no dia do nosso casamento. Ele me culpou. Ele me destruiu.

Agora, renascida, eu estava aqui de novo, no mesmo momento, no mesmo lugar. O ciclo estava prestes a se repetir.

Pedro pegou a caneta, mas em vez de assinar, ele a pousou. Seus olhos, que um dia eu amei com toda a minha alma, agora me olhavam com uma determinação fria que eu conhecia muito bem.

"Luana."

Sua voz era calma, mas carregada de uma urgência que me gelou o sangue.

"Não podemos assinar isso agora."

Eu o encarei, o coração martelando contra minhas costelas. Ele também renasceu.

"Luana, vou me casar com minha prima primeiro para salvá-la."

As palavras saíram da boca dele como se fossem a coisa mais razoável do mundo.

"Depois de sete dias, vou me divorciar e me casar com você."

Ele sorriu, um sorriso charmoso e manipulador que um dia me enganou.

"De qualquer forma, sua comunidade só virá te procurar daqui a sete dias."

Ele achava que me conhecia. Ele achava que eu era a mesma Luana ingênua, a jovem ribeirinha que fugiu de sua tribo, que desafiou a tradição de se casar com o cacique Lucas, tudo por ele.

Na vida passada, ele estava certo. Eu esperei. Para me casar com ele, para não ser encontrada pela minha comunidade, eu usei toda a minha força para suprimir o poder do amuleto rastreador que carregava no pescoço. A dor foi lancinante, uma agonia constante que rasgava minha energia vital, mas eu aguentei, tudo por amor a ele.

Desta vez, a dor que senti não era do amuleto. Era a dor da memória, da traição, do ódio.

Ele queria compensar seu arrependimento com Sofia, casando-se com ela para impedir sua morte. E eu? Eu era apenas um prêmio a ser coletado depois, uma posse garantida. Ele não sentia remorso por mim, pelos nossos filhos, pela minha morte horrível. Seu único arrependimento era por Sofia.

Ele se virou, confiante, pronto para ir embora e executar seu plano egoísta.

Nesse exato momento, enquanto suas costas se voltavam para mim, eu levei a mão ao amuleto em meu peito. Era uma pequena peça de madeira e sementes, quente contra a minha pele.

Fechei os olhos e, em vez de lutar contra seu poder, eu o libertei.

Uma onda de energia fluiu de mim, uma mensagem silenciosa enviada pelas águas do rio, um chamado para casa.

Não em sete dias.

Em no máximo três dias, os guardiões da minha comunidade, os pescadores leais a Lucas, me encontrariam.

E então, eu voltaria para a minha comunidade. Eu me casaria com Lucas, o homem que sempre me amou em silêncio, o homem que me protegeria.

Nesta vida, Pedro, não haverá mais um amanhecer e um anoitecer para nós dois.

Eu abri os olhos. A dor em meu coração era imensa, uma ferida aberta, mas pela primeira vez em muito tempo, eu senti o gosto da liberdade.

Aquele casamento, aquela união civil, era uma certidão do inferno. E eu não ia assiná-la de novo.

            
            

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