Casamento de Dor, Destino de Vingança
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Capítulo 3

Subi para o apartamento, a chave fria na minha mão. A porta se abriu para um lugar que deveria ser um lar, mas que para mim era o prelúdio de uma câmara de tortura.

Minha primeira reação foi fugir. Peguei minha bolsa, que continha apenas meus documentos e um pouco de dinheiro, e corri para a porta. Eu não ficaria ali nem mais um minuto. Eu iria para a estação rodoviária, pegaria um ônibus para o mais longe possível e esperaria minha tribo me encontrar na estrada.

Mas quando girei a maçaneta, a porta não abriu.

Tentei de novo. Trancada.

Do lado de fora.

Dois homens altos e fortes, vestidos de preto, estavam parados no corredor. Eles não eram seguranças do prédio. Eram homens de Pedro.

Um deles falou, a voz sem emoção.

"O Sr. Pedro pediu para garantir que a senhora descanse e não saia. Ele se preocupa com a sua segurança."

Preocupação. Que piada. Isso era controle. Ele não confiava em mim tanto quanto pensava. Ele previu que eu poderia tentar algo, então me trancou.

A raiva e o desespero subiram pela minha garganta. Eu bati na porta.

"Me deixem sair! Eu não sou uma prisioneira!"

Nenhuma resposta. Eles eram como estátuas.

Voltei para o meio da sala, o coração disparado. Ele tinha pensado em tudo. Ele ia se casar com sua prima e me manter aqui, trancada, até que ele decidisse que era hora de eu ser útil novamente.

A impotência era sufocante. Eu estava presa de novo.

Andei pelo apartamento, tocando os móveis caros, as cortinas de seda. Tudo parecia falso, uma cenografia para uma vida que nunca foi real.

Fui até a janela e olhei para a cidade abaixo. Carros passavam, pessoas andavam apressadas. Ninguém sabia que, naquele apartamento de luxo, uma mulher estava sendo mantida contra a sua vontade.

Sentei-me no sofá e as memórias da minha vida passada vieram com força total.

Lembrei-me do dia em que contei a Lucas que estava apaixonada por um forasteiro e que não podia me casar com ele. Lucas, o cacique forte e silencioso, apenas me olhou com uma tristeza profunda nos olhos. Ele não brigou, não me prendeu. Ele apenas disse: "Se essa é a sua felicidade, Luana, que os espíritos do rio te protejam."

Para fugir com Pedro, eu precisei enganar meu povo. E a parte mais difícil foi suprimir o amuleto.

O amuleto rastreador é um presente dado a cada mulher da nossa tribo na puberdade. Ele nos conecta à terra, ao rio e ao nosso povo. Se estamos em perigo, ou se nos afastamos por muito tempo, a energia dele chama os guardiões. Para viver na cidade com Pedro, eu tive que lutar contra essa energia todos os dias.

Fechei os olhos, lembrando da dor. Era como ter mil agulhas perfurando minha pele de dentro para fora, uma febre constante que me deixava fraca e enjoada. Pedro achava que eu estava sempre doente por causa da poluição da cidade. Ele nunca soube o sacrifício que eu fazia para ficar ao seu lado. Eu suportei aquela agonia por anos, enfraquecendo a mim mesma, quebrando meu espírito, tudo para que ele não desconfiasse e para que meu povo não me encontrasse e me levasse de volta.

E qual foi a minha recompensa? Uma cova de água sob o sol impiedoso.

Uma empregada, contratada por Pedro, entrou na sala. Era uma senhora de meia-idade com um sorriso gentil, alheia a tudo.

"Senhorita, o almoço está servido. O Sr. Pedro ligou e pediu para que se alimente bem."

Eu a encarei, o rosto sem expressão.

Na vida passada, essa mesma mulher, a Sra. Ana, me serviu com a mesma gentileza, enquanto seu patrão planejava minha morte. Ela nunca soube, nunca viu nada.

"Não estou com fome" , respondi, a voz vazia.

"Mas, senhorita, precisa comer..."

"Eu disse que não estou com fome."

Ela se encolheu com a minha frieza e saiu da sala em silêncio.

Eu me levantei e fui para o quarto. Deitei na cama macia, o cheiro dos lençóis limpos me sufocando. Era a mesma cama onde eu concebi meus filhos. A mesma cama onde chorei por eles depois que Pedro os levou de mim.

Desta vez, não haveria lágrimas. Apenas espera.

O amuleto em meu peito estava quente. Era um calor reconfortante.

Eles estavam vindo.

Três dias. Talvez menos.

Eu só precisava aguentar firme. Desta vez, eu não estava suprimindo o poder. Eu o estava chamando. Eu estava chamando por Lucas, pelos meus guardiões, pela minha casa.

Eu voltaria para o Pantanal. Eu me casaria com o homem que a tradição escolheu para mim. Desta vez, eu escolheria a tradição. Eu escolheria a segurança. Eu escolheria o respeito.

Eu escolheria a mim mesma.

                         

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