O Brilho Do Anel Quebrou
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Capítulo 1

Sofia Andrade olhou para o anel de noivado em seu dedo, a luz do escritório de arquitetura fazendo o diamante brilhar com uma promessa.

A promessa que Gabriel Costa havia feito há três anos, antes de embarcar para a África.

"Eu volto por você, Sofia. Assim que a minha missão com os Médicos Sem Fronteiras terminar, nós nos casamos."

Três anos. Mil e noventa e cinco dias de espera, de saudade, de noites em claro imaginando o reencontro.

Sofia, uma arquiteta renomada e herdeira de uma fortuna considerável, havia colocado sua vida em pausa. Ela administrava seus projetos, cuidava da família, mas seu coração estava a milhares de quilômetros de distância, com o seu noivo, o brilhante e carismático cirurgião cardíaco.

O relacionamento deles durava sete anos, um amor que parecia um conto de fadas para todos que os conheciam. E agora, o conto de fadas estava prestes a ter seu final feliz. Gabriel voltaria em dois dias.

O telefone tocou, era a assistente de Gabriel, Clara.

"Sofia? Desculpe incomodar, o Dr. Gabriel pediu para confirmar o jantar de boas-vindas no sábado. Ele está muito animado."

"Claro, Clara. Tudo confirmado", Sofia respondeu, sorrindo. "Mal posso esperar para vê-lo."

"Ele também. Ele não para de falar nisso."

Houve uma pausa, e Sofia ouviu um ruído de fundo, vozes abafadas. Ela estava prestes a desligar quando ouviu a voz de Clara novamente, mas desta vez, não era para ela. O tom era diferente, mais baixo, conspiratório.

"Ele já está no avião. Sim, falei com ela agora. Ela não suspeita de nada... Acha que ele é um herói."

Sofia franziu a testa. Com quem Clara estava falando?

Então, a outra voz respondeu, uma voz masculina que ela não reconheceu.

"Ótimo. Assim que ele se casar com a Andrade e colocar as mãos na fortuna, você e a Patrícia não precisarão mais se preocupar com dinheiro. Ele vai poder sustentar a filha dele com luxo."

A respiração de Sofia parou.

O telefone em sua mão pareceu pesar uma tonelada.

"Filha?", ela sussurrou para si mesma, o som quase inaudível.

A conversa continuou, cada palavra um golpe brutal.

"A menina já tem dois anos, certo? O Gabriel é esperto. Fingiu ir para a África por três anos, mas na verdade montou uma vida dupla aqui mesmo na cidade vizinha. A Sofia é a galinha dos ovos de ouro dele."

Um frio intenso subiu pela espinha de Sofia, gelando seu sangue. O escritório de repente pareceu girar. A planta de um prédio de luxo na sua frente ficou borrada, as linhas retas se transformando em rabiscos sem sentido.

Três anos.

Uma vida dupla.

Uma filha de dois anos.

Casar-se com ela pela fortuna da família.

A verdade a atingiu com a força de um trem desgovernado. A dor era física, uma pontada aguda em seu peito que a deixou sem ar. Ela se apoiou na mesa, as pernas bambas, o suor frio brotando em sua testa.

O amor de sua vida era uma farsa. Sua espera fiel, uma piada. Sua dedicação, o alvo de um golpe meticulosamente planejado.

Ela desligou a chamada, o clique do botão soando como um tiro no silêncio do seu escritório.

O mundo que ela conhecia havia desmoronado em menos de um minuto. Humilhação, dor, raiva, desilusão. Um turbilhão de emoções a engoliu. Ela correu para o banheiro, vomitando tudo o que havia comido no almoço.

Apoiada na parede fria, tremendo, ela olhou seu reflexo no espelho. Viu uma mulher pálida, com os olhos arregalados de horror. Uma tola. Uma completa idiota.

Gabriel não a amava. Ele a usou.

E em dois dias, ele voltaria, esperando encontrar sua noiva ingênua e apaixonada, pronta para entregar-lhe seu coração e sua fortuna.

Um pensamento desesperado, insano, formou-se em sua mente. Ela não podia simplesmente confrontá-lo. Isso seria dar a ele a chance de manipular, de mentir mais uma vez. Ela precisava escapar. Precisava destruir o plano dele de uma forma que ele nunca esperaria.

Ela precisava se casar.

Mas com outro homem.

O nome de Lucas Mendes surgiu em sua mente, um eco de conversas de negócios de seu pai e irmão. Um magnata do setor imobiliário, misterioso, recluso, que vivia em uma mansão isolada. Os boatos diziam que ele era cadeirante, desfigurado por um acidente, e que não via ninguém. Um homem quebrado, que talvez precisasse de um casamento de conveniência tanto quanto ela.

Era uma loucura. Um ato de puro desespero. Mas era a única saída que ela conseguia enxergar.

Trêmula, ela pegou o celular novamente e discou o número do seu irmão, Pedro.

"Sofia? O que aconteceu? Você está chorando?"

A voz preocupada de Pedro do outro lado da linha foi a única coisa que a ancorou à realidade. Ela tentou falar, mas apenas soluços saíram. As palavras estavam presas em sua garganta, sufocadas pela dor da traição.

"Pedro...", ela conseguiu dizer, a voz embargada. "Eu... eu preciso de você."

"Estou a caminho. Não saia daí."

Enquanto esperava, as memórias a assaltaram. O dia em que Gabriel a pediu em noivado, na praia, sob um céu estrelado. Ele se ajoelhou, dizendo que ela era a única mulher que ele amaria pelo resto da vida. Ele disse que mesmo que o mundo acabasse, o amor dele por ela permaneceria.

Lágrimas de raiva e tristeza escorriam pelo seu rosto. Cada lembrança doce agora estava envenenada pela mentira. O herói que ela idolatrava era um monstro manipulador.

Quando Gabriel ligou mais tarde, da sala de embarque do aeroporto, sua voz soando animada e cheia de amor, Sofia sentiu o estômago revirar.

"Meu amor, estou quase embarcando. Contando os segundos para te ver. Você não imagina a saudade que eu estou."

Ela respirou fundo, forçando a voz a sair calma, embora seu interior estivesse em ruínas.

"Eu também estou com saudades, Gabriel. Mal posso esperar."

Seu tom era perfeito. Doce, apaixonado. O tom que ele esperava ouvir.

"Prepare-se, porque quando eu chegar, não vou te soltar nunca mais", ele disse, a voz carregada de uma falsa ternura que agora a enojava.

"Estarei esperando", ela respondeu, sentindo o gosto amargo da mentira em sua própria boca.

Depois de desligar, ela ficou encarando o telefone. A calma gélida da resolução tomou conta dela. O jogo dele havia acabado. Agora, era a vez dela de jogar.

Ela caminhou até a janela, olhando para a cidade que se estendia abaixo. Seu futuro com Gabriel era uma ilusão. Uma mentira.

Ela olhou para o telefone novamente, a voz dele ainda ecoando em sua mente. A raiva lhe deu uma nova força. Ela não seria a vítima na história dele. Ela seria a protagonista da sua própria vingança.

Ela respirou fundo mais uma vez. O confronto era inevitável. Ela precisava ouvir da boca dele.

Quando a porta do apartamento se abriu e Gabriel entrou, sorrindo, bronzeado e com a mesma aparência carismática de sempre, Sofia sentiu seu coração se transformar em uma pedra de gelo.

Ele a abraçou com força. "Meu amor, finalmente."

Sofia não o abraçou de volta. Permaneceu rígida em seus braços.

Ele se afastou, o sorriso diminuindo um pouco. "O que foi? Aconteceu alguma coisa?"

Sofia o encarou, os olhos secos, a voz firme e cortante.

"Gabriel, você está escondendo alguma coisa de mim?"

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