O Brilho Do Anel Quebrou
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Capítulo 4

Gabriel agarrou o braço de Patrícia com força e a arrastou para fora da sala de estar, em direção a um dos quartos de hóspedes.

"Você não tinha o direito de falar nada!", ele sibilou, a voz cheia de veneno.

A porta se fechou com um baque. A pequena Lúcia, finalmente acordada pelo barulho, começou a chorar no sofá. Um choro assustado e solitário.

Sofia ficou parada no meio da sala, ouvindo o choro da criança e a discussão abafada vinda do quarto. Ela se sentia oca por dentro. A dor tinha atingido um nível tão profundo que se transformou em uma estranha dormência. Ela não sentia nada pela criança, nem raiva, nem pena. A menina era apenas mais uma peça no tabuleiro doentio de Gabriel.

Minutos depois, a discussão no quarto cessou. O choro da menina diminuiu para um soluço baixo. E então, um novo som começou. Um som que fez o sangue de Sofia gelar novamente.

Risadas. Sons de beijos. Um gemido baixo e inconfundível.

Sofia caminhou lentamente, como uma sonâmbula, em direção ao corredor. A porta do quarto de hóspedes, que Gabriel havia batido, não estava completamente fechada. Havia uma fresta.

Uma fresta deixada de propósito.

Ela olhou através dela. A luz do abajur iluminava a cena. Gabriel e Patrícia estavam na cama. Ele a beijava, as mãos percorrendo o corpo dela. E Patrícia, por cima do ombro dele, olhava diretamente para a fresta.

Diretamente para Sofia.

Havia um sorriso de triunfo em seus lábios. Um olhar que dizia: "Ele é meu. Você perdeu."

A humilhação final. Deliberada. Cruel.

Qualquer resquício de sentimento que Sofia pudesse ter por Gabriel, qualquer dúvida, qualquer pingo de compaixão, evaporou naquele instante.

Com uma calma que a assustou, ela estendeu a mão e empurrou a porta, fechando-a suavemente. O clique da fechadura foi o som do fim definitivo.

Ela se virou e voltou para a sala, pegou a criança que ainda soluçava no sofá, e a levou para o seu próprio quarto, o mais longe possível daquele som nojento. Deitou a menina na sua cama e a cobriu. Depois, trancou a porta.

Ela passou a noite em uma poltrona, sem dormir, apenas esperando o amanhecer.

Na manhã seguinte, a casa estava silenciosa. Sofia preparou o café da manhã. Quando Patrícia apareceu na cozinha, com ares de dona da casa, ela serviu uma porção de camarões grelhados para a criança, que devorou tudo com apetite. Sofia não disse uma palavra.

Meia hora depois, a menina começou a passar mal. Manchas vermelhas apareceram em sua pele, e sua respiração ficou difícil.

Patrícia começou a gritar.

"O que você fez com a minha filha? Você a envenenou!"

Gabriel saiu correndo do quarto, já vestido com seu uniforme de médico.

"Ela é alérgica a frutos do mar! Sofia, como você pôde fazer isso?", ele gritou, o pânico e a acusação em sua voz.

"Eu não sabia...", começou Sofia, mas ele a interrompeu.

"Não me interessa! Saia da frente!"

Ele pegou a criança nos braços e correu em direção à porta. Patrícia o seguiu, mas antes de sair, ela se virou para Sofia. Com um movimento rápido e deliberado, ela empurrou Sofia com toda a força.

Sofia perdeu o equilíbrio e caiu, seu pulso batendo com força na quina da mesa de centro. Uma dor aguda e lancinante subiu pelo seu braço.

Gabriel olhou para trás. Ele viu Sofia no chão, segurando o pulso, o rosto contorcido de dor. Ele a viu. E não fez nada. Apenas se virou e saiu, fechando a porta atrás de si, deixando-a caída no chão da sua própria casa.

A dor física era intensa, mas nada comparada à dor de ser tratada como lixo pelo homem a quem dedicara sete anos de sua vida.

Ali, no chão, com o pulso latejando, ela pegou o celular com a outra mão. Havia uma mensagem não lida de seu irmão, Pedro.

"Estou aqui embaixo. Quando estiver pronta, me avise."

As lágrimas escorreram pelo seu rosto, mas desta vez, eram de alívio. Estava acabado.

Com o polegar da mão boa, ela digitou uma mensagem para Gabriel. Curta, direta, final.

"Acabou, Gabriel. Estou pedindo o fim do nosso noivado."

Ela apertou 'enviar'.

Em seguida, respondeu a Pedro.

"Pode subir. Estou pronta."

Ela se levantou, a dor no pulso uma lembrança constante da brutalidade que havia sofrido. Olhou ao redor do apartamento que um dia chamou de lar, um lugar cheio de promessas agora manchado por mentiras e crueldade.

Ela não olhou para trás.

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