Renascimento Após a Partida
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Capítulo 2

"Eu preciso ir para lá" , Lucas disse, finalmente desviando os olhos da televisão e olhando para mim, mas sem realmente me ver.

Ele já estava com o celular na mão, discando um número com uma urgência que eu nunca tinha visto nele. Nem mesmo quando descobrimos que eu estava grávida.

Uma nova contração me atingiu, e eu me curvei, apoiando as mãos nos joelhos e tentando controlar a respiração.

"Lucas, você está me ouvindo? O bebê vai nascer. Nós precisamos ir para o hospital."

"Eu sei, eu sei" , ele respondeu, impaciente, andando de um lado para o outro. "Eu vou chamar um carro para você. Minha mãe pode ir junto."

A frieza da sua proposta me chocou mais do que a dor física. Ele não estava apenas se ausentando. Ele estava me descartando, me terceirizando no momento mais importante das nossas vidas.

"Chamar um carro? Sua mãe? Lucas, é a sua filha. Nossa filha. Você vai me deixar ir para a maternidade sozinha?"

Ele finalmente parou e me olhou. Havia desespero em seus olhos, mas não era por mim. Era pela mulher na televisão, pela causa que ela representava, pelo passado que ele nunca conseguiu abandonar.

"Sofia, você não entende. É uma emergência. Isabela... O projeto dela... Eles estão em perigo. Eu preciso ajudar."

Ele admitiu. Ele disse o nome dela. A confirmação foi como um soco no estômago.

Eu me endireitei, a dor da contração diminuindo, sendo substituída por uma determinação gélida.

"Eu entendo perfeitamente, Lucas. Eu entendo que a sua ex-namorada é mais importante que o nascimento da sua filha."

"Não é isso!" , ele gritou, passando as mãos pelo cabelo. "É diferente! Eu sou o único que pode ajudar, eu financiei parte disso! Eu tenho contatos!"

Ele já estava pegando uma mochila, jogando coisas dentro de forma desordenada. Um carregador portátil, uma jaqueta, a carteira.

Eu caminhei lentamente até a porta do quarto, bloqueando sua passagem. Meu corpo tremia, não de fraqueza, mas de uma raiva contida.

"Eu vou te dizer uma coisa, Lucas" , falei, minha voz baixa e firme, cada palavra cuidadosamente escolhida. "Eu estou sentindo as dores do parto. Eu estou vulnerável. Estou prestes a trazer ao mundo a criança que fizemos juntos. E eu estou pedindo para você ficar."

Fiz uma pausa, olhando fundo nos seus olhos.

"Se você sair por essa porta agora, eu quero que você entenda bem as consequências. Não haverá volta. Quando você decidir retornar dessa sua missão heroica, não vai encontrar uma esposa te esperando. Não vai encontrar uma família. Você vai encontrar um apartamento vazio e um pedido de divórcio."

Ele parou, a mochila na mão, o rosto contorcido em um misto de culpa e frustração. Por um segundo, eu pensei que ele fosse ficar. Um pingo de esperança surgiu em meu peito.

Mas então, seu celular tocou. Ele olhou para a tela. O nome de Isabela devia estar brilhando ali.

A hesitação em seu rosto desapareceu, substituída por uma resolução sombria.

"Eu sinto muito, Sofia" , ele murmurou, sem conseguir me encarar.

Ele me contornou, sem me tocar, como se eu fosse um obstáculo físico, um móvel no caminho. Ele abriu a porta.

"Lucas!" , eu chamei uma última vez, a voz embargada.

Ele não se virou.

A porta da frente bateu com uma força que fez as paredes tremerem.

O silêncio que se seguiu foi absoluto. Eu estava sozinha. Completamente sozinha. A próxima contração veio, rasgando meu corpo. Eu me apoiei na parede, deslizando até o chão. Por um instante, o desespero ameaçou me engolir.

Mas então, eu senti um pequeno movimento dentro de mim. Um chute. Clara.

Não. Eu não estava sozinha.

Levantei a cabeça. As lágrimas que ameaçavam cair foram engolidas. A dor física era imensa, mas minha mente estava clara. Ele fez a escolha dele. Agora eu precisava fazer a minha.

Com dificuldade, peguei meu celular. Não liguei para a minha sogra. Não liguei para meus pais. Liguei para a ambulância. E, enquanto esperava, enviei uma única mensagem para o meu advogado.

"Prepare os papéis do divórcio."

Eu mesma me salvei. Eu mesma me levaria para o hospital. Eu mesma traria minha filha ao mundo. E eu mesma construiria uma vida para nós duas, longe da sombra do homem que acabara de sair por aquela porta.

            
            

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