Eu estava ao lado dele, não como a ex-noiva de seu filho, mas como sua esposa.
Ninguém sabia do nosso casamento, exceto pelos empregados mais leais da casa. Para o resto do mundo, eu era apenas a protegida de Ricardo, uma jovem que ele acolheu após a tragédia pessoal que sofri.
Eu segurava uma taça de champanhe, observando os convidados, quando os portões principais da mansão se abriram e um carro de luxo que eu não via há muito tempo entrou.
Meu coração parou por um segundo.
Pedro saiu do carro.
Ele não parecia um monge. Pelo contrário, usava um terno caro, sapatos brilhantes e um sorriso arrogante que eu conhecia muito bem.
Ao lado dele, uma mulher desceu do carro, igualmente deslumbrante.
Ana Silva.
A filha do ex-sócio do meu pai, um homem que foi preso por corrupção, levando minha família à ruína.
Eles caminharam pelo jardim como se fossem os donos do lugar, atraindo todos os olhares. Pedro me viu de longe e seu sorriso se alargou. Ele veio direto na minha direção, com Ana em seu braço.
"Sofia, quanto tempo," ele disse, sua voz cheia de uma falsa familiaridade. "Você está ótima. A vida tem te tratado bem, pelo visto."
Eu mantive meu rosto calmo, sem expressão.
"Pedro. Você voltou."
"Eu voltei," ele confirmou, olhando ao redor com desdém. "A vida na floresta não era para mim. Percebi que meu lugar é aqui. E voltei para buscar o que é meu."
Seus olhos fixaram nos meus.
Ana, que até então estava em silêncio, deu um passo à frente, sua mão repousando protetoramente sobre a barriga levemente saliente.
"Sofia, querida," ela disse com uma voz doce e venenosa. "Espero que não haja ressentimentos. O que aconteceu entre mim e Pedro... foi inevitável. O amor verdadeiro sempre encontra um caminho."
Ela tentava parecer frágil, uma mulher apaixonada que não podia lutar contra seus sentimentos. Mas eu via a malícia em seus olhos.
Pedro então se aproximou, baixando a voz como se estivesse me confidenciando um segredo.
"Olha, Sofia, eu sei que o que eu fiz foi... complicado. Mas eu nunca deixei de pensar em você. Ana está grávida, como você pode ver. Nós vamos nos casar. Mas isso não significa que você precise ficar de fora."
Eu o encarei, sem acreditar na audácia.
"O que você quer dizer com isso?"
"Eu quero que você seja minha amante," ele disse sem rodeios. "Ana sabe que você sempre terá um lugar especial no meu coração. Ela é compreensiva. Nós podemos ter tudo, Sofia. Uma família oficial e nosso... relacionamento especial. Você continuaria vivendo aqui, sob a proteção do meu pai. Ninguém precisa saber."
A proposta era tão absurda, tão humilhante, que por um momento eu perdi o fôlego.
Minha mente voltou três anos no tempo. A dor, a humilhação do abandono. As noites em que chorei até não ter mais lágrimas. Foi Ricardo, o pai de Pedro, quem me encontrou em pedaços. Ele me ofereceu apoio, um ombro para chorar e, com o tempo, um amor sólido e respeitoso que eu nunca imaginei ser possível. Nós nos casamos em segredo um ano depois, uma cerimônia simples, apenas nós dois. Ele me deu uma nova vida, uma nova família.
E agora, o homem que me destruiu estava de volta, me oferecendo as migalhas de sua vida, esperando que eu aceitasse de bom grado.
Eu respirei fundo, forçando um pequeno sorriso.
"Pedro, essa é uma proposta... inesperada. Acho que precisamos conversar sobre isso com mais calma. E, claro, precisamos falar com o seu pai."
Pedro sorriu, convencido de que eu estava cedendo.
"Claro, claro. Meu pai sempre gostou de você. Ele vai entender."
Ana olhava para mim com um ar de vitória, como se estivesse me permitindo generosamente um lugar secundário em suas vidas.
Foi nesse exato momento que uma pequena figura veio correndo pelo gramado.
"Mamãe!"
Um menino de quase dois anos, com os cabelos escuros de Ricardo e meus olhos, correu em minha direção e abraçou minhas pernas.
Eu o peguei no colo, beijando sua bochecha.
"Oi, meu amor. Você se divertiu com a vovó?"
Pedro e Ana congelaram. Seus sorrisos desapareceram, substituídos por uma confusão chocada.
"Mamãe?", Pedro repetiu, a voz fraca. "Que criança é essa, Sofia? Você teve um filho?"
Eu olhei diretamente para ele, meu sorriso agora genuíno.
"Sim, Pedro. Eu tive um filho."
Então, me virei para o meu pequeno.
"João, meu querido, diga 'oi' para o seu irmão mais velho."