O queixo de Pedro caiu.
"Irmão? Que piada é essa, Sofia? Você enlouqueceu?"
Ele olhou para a criança em meus braços com uma mistura de choque e nojo. O cérebro dele parecia incapaz de processar a cena.
"Você teve um filho com algum empregado? Um amante qualquer? E ousa chamá-lo de meu irmão?"
Sua voz subiu de tom, atraindo a atenção de alguns convidados próximos.
Eu permaneci calma, acariciando os cabelos de João, que se encolheu um pouco em meu colo, assustado com os gritos.
"Ele não é filho de um empregado, Pedro. Ele é João Mendes. Meu filho."
"Mendes?", Ana sibilou ao lado dele, seus olhos se arregalando. "Não se atreva a usar esse sobrenome. Você não tem esse direito!"
Ela agarrou o braço de Pedro, tentando puxá-lo para longe.
"Pedro, querido, ela está mentindo. É óbvio que é um truque para te atingir. Ela deve ter tido esse filho de qualquer um para tentar se prender a esta família."
Um dos mordomos mais antigos da casa, o Sr. Alves, que servia a Ricardo há mais de trinta anos, se aproximou com cautela.
"Jovem Mestre Pedro, por favor, acalme-se. O menino João é..."
"Cale a boca, Alves!", Pedro gritou, interrompendo-o. "Você não se mete nisso! Volte para a cozinha onde é o seu lugar!"
O Sr. Alves recuou, o rosto magoado com a grosseria do jovem patrão que ele viu crescer.
A verdade é que meu casamento com Ricardo foi uma decisão mútua de manter em sigilo. Ricardo estava cansado dos holofotes e eu precisava de paz para me reconstruir. Apenas o círculo mais íntimo sabia. Para o resto do mundo, incluindo Pedro, eu era apenas a afilhada ou protegida de Ricardo. Ele nunca imaginaria que seu pai, um homem quase trinta anos mais velho que eu, se casaria com a ex-noiva do próprio filho.
A mente de Pedro, sempre egocêntrica, buscou a explicação mais lógica para ele.
Eu estava com o coração partido, desesperada, e tive um filho com outro homem para tentar garantir meu lugar na mansão Mendes. Era uma história que se encaixava perfeitamente em sua visão de mim como uma mulher fraca e dependente.
Sua confusão rapidamente se transformou em fúria. A ideia de que eu havia "seguido em frente" de uma forma que ele não controlava era insuportável.
Ele deu um passo à frente, o dedo apontado para o meu filho.
"Tire essa criança daqui," ele rosnou. "Eu não quero olhar para a prova da sua traição."
João começou a chorar, assustado com o rosto raivoso e a voz alta de Pedro.
"Ele não é uma 'coisa', Pedro. Ele é uma criança. E ele é seu irmão," eu disse, minha voz firme, segurando João com mais força contra meu peito.
"Mentira!", ele gritou. "Você está mentindo! Você acha que pode me enganar com essa farsa? Você e esse... bastardo!"
A palavra "bastardo" ecoou no ar.
Minha calma se esvaiu, substituída por uma onda de fúria protetora.
"Não se atreva a chamar meu filho assim," eu disse, minha voz baixa e perigosa.
"Eu chamo como eu quiser!", ele retrucou, o rosto vermelho de raiva. "Ele não pertence a esta família! Ele não pertence a esta casa!"
Ele deu outro passo, os olhos fixos em João, como se a simples existência do meu filho fosse um insulto pessoal.
"Pedro, pare," eu o avisei, dando um passo para trás.
Mas ele não estava ouvindo. A humilhação de descobrir que eu tinha um filho, a recusa em acreditar na verdade, tudo se misturou em uma raiva cega.
"Eu vou tirar esse problema daqui eu mesmo," ele disse, seus olhos brilhando com uma luz feia.
Ele começou a caminhar em nossa direção, e eu soube, com um terror gelado, que ele era capaz de machucar meu filho.