Ele caminhava com a autoconfiança de um homem que se acreditava o rei do mundo, vestindo uma camisa de linho cara e calças brancas, seu rosto, no entanto, exibia uma expressão de irritação.
"O que está acontecendo aqui? Que gritaria é essa?"
Ao ver João, Patrícia imediatamente mudou sua postura, a raiva deu lugar a uma expressão de vítima magoada, ela correu para o lado dele, agarrando seu braço.
"João, meu amor! Ainda bem que você chegou! Essa sua esposa louca atacou o Sr. Ricardo! Ela está arruinando tudo!"
João olhou de Patrícia para o Sr. Ricardo, que massageava o pulso com uma cara de poucos amigos, e depois para Maria, que estava parada com Sofia nos braços, a menina chorando silenciosamente em seu ombro.
O olhar de João para Maria era frio, desprovido de qualquer afeto ou preocupação.
"Maria, o que você fez?", ele perguntou, o tom de acusação claro em sua voz.
"Eu estava protegendo nossa filha", respondeu Maria, sua voz firme, embora seu coração estivesse se partindo.
Patrícia zombou.
"Protegendo? Ela foi grosseira e agressiva! O Sr. Ricardo só fez um elogio à menina, e ela surtou! Ela quase estragou nosso maior negócio do ano!"
João não questionou a versão de Patrícia, ele nem sequer olhou para Sofia para ver se ela estava bem, seu único foco era o negócio, o investidor.
Ele se aproximou de Maria, seu rosto a centímetros do dela.
"Peça desculpas ao Sr. Ricardo, agora", ele ordenou em um sussurro ameaçador.
Maria o encarou, a decepção e a dor dando lugar a uma clareza gelada, naquele momento, ela viu João pelo que ele realmente era: um homem fraco, um oportunista que sacrificaria sua própria família por poder e dinheiro.
"Não", ela disse, a palavra simples, mas inabalável.
Sofia, sentindo a tensão entre os pais, apertou ainda mais o pescoço da mãe.
"Papai...", ela murmurou, a voz trêmula. "Aquele homem é mau."
João ignorou a filha completamente, seu olhar furioso fixo em Maria.
"Você não entende o que está em jogo aqui? A sua teimosia vai nos custar milhões! Pare de agir como uma criança e faça o que eu digo!"
Ele se virou para o Sr. Ricardo com um sorriso forçado e bajulador.
"Sr. Ricardo, peço mil desculpas pela minha esposa, ela anda muito estressada ultimamente, não sabe o que faz."
Então, ele se virou para Maria novamente, e o que ele disse em seguida selou seu destino para sempre.
"Talvez a Patrícia tenha razão, Maria, talvez a Sofia devesse fazer algo para compensar, uma pequena dança, o que acha? Os senhores iriam adorar, não é?"
O mundo de Maria parou por um segundo, a traição era tão profunda, tão absoluta, que transcendia a dor, era uma profanação.
Ele não estava apenas traindo-a, estava vendendo a inocência de sua própria filha.
Ela olhou para o homem com quem se casou, o pai de sua filha, e não viu nada além de um estranho, um monstro.
Enquanto ele falava, uma lembrança veio à mente de Maria, seu pai, no leito de morte, entregando-lhe o controle do império da família. "Você é mais forte do que pensa, minha filha", ele havia dito. "Nunca deixe ninguém subestimar você."
Por anos, ela havia escondido essa força, permitido que João acreditasse que ele era o poderoso, por amor, por paz, para dar a Sofia uma família aparentemente normal.
Mas a paz havia sido quebrada.
O amor, destruído.
E a família, uma farsa.
Ela finalmente entendeu, ela não era a esposa de João Mendes.
Ela era Maria Silva, a herdeira e chefe de uma das famílias mais poderosas do Brasil.
E eles haviam cruzado a única linha que ela jamais perdoaria.