A Herdeira da Favela
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Capítulo 2

Eu precisava me livrar do suco e do colar. Deixá-los para trás seria suspeito. Foi então que vi minha rival, Camila, se exibindo para um grupo de outros competidores.

Camila era a personificação da arrogância. Rica, mimada e com um desprezo profundo por qualquer um que ela considerasse inferior, especialmente eu.

"Olhem só o que o gato trouxe," disse ela em voz alta quando me aproximei, garantindo que todos ouvissem. "A princesinha da favela. Suas roupas são feitas de lixo reciclado, Sofia?"

O grupo riu. Senti o sangue subir ao meu rosto, mas mantive a calma. Era a oportunidade perfeita.

Camila deu um passo à frente e, "acidentalmente", esbarrou em mim com força, fazendo-me tropeçar.

"Ops, desculpe," ela disse, com um sorriso maldoso. "Não te vi aí embaixo."

A humilhação era pública. Todos os olhares estavam em mim. Normalmente, eu teria baixado a cabeça e ido embora. Mas não hoje.

Eu me recompus e olhei diretamente para ela.

"Camila, você está certa," eu disse, para sua surpresa. "Eu estou um pouco nervosa. Talvez você possa me ajudar."

Peguei a caixa de veludo da minha bolsa.

"Meu irmão me deu este colar para dar sorte, mas... não combina com a minha coleção. Acho que ficaria perfeito em você. Considere um presente de paz."

A desconfiança brilhou em seus olhos, mas sua ganância foi mais forte. Ela abriu a caixa e seus olhos se arregalaram ao ver a pedra verde.

"É... interessante," ela disse, tentando parecer indiferente, mas eu vi o desejo em seu rosto.

"E este suco," continuei, pegando o copo que João havia deixado na mesa. "É uma bebida energética especial. Eu não gosto do sabor, mas ouvi dizer que faz milagres. Você parece um pouco pálida. Talvez precise de mais energia do que eu."

Eu estendi o suco para ela. A isca estava lançada. Ela me olhou, depois para o suco, depois para o colar. A ideia de receber algo de mim, algo que ela via como um símbolo da minha submissão, era irresistível.

"Bem," ela disse, pegando o colar e o colocando no pescoço. "Já que você insiste. Não quero que digam que não sou generosa com os... necessitados."

Ela pegou o suco e o virou de uma vez só.

"Delicioso," mentiu ela, fazendo uma careta discreta com o sabor excessivamente doce. "Agora, se me dá licença, tenho um concurso para ganhar."

Ela se virou e saiu desfilando, o colar amaldiçoado brilhando em seu pescoço, o suco adulterado correndo em suas veias. Suas amigas a seguiram, rindo e me lançando olhares de desprezo.

Eu fiquei ali, parada, enquanto o caos dos bastidores continuava ao meu redor. Um sorriso frio se formou em meus lábios. Eu não era uma santa. Eles queriam me jogar na lama, me ver rastejar. Mas eu aprendi a lutar no mesmo lugar que eles tanto desprezavam. E na favela, a gente aprende que, às vezes, para sobreviver, você precisa ser mais esperto e mais cruel que o seu inimigo.

Camila queria me humilhar. João e Lucas queriam me destruir. Eles me deram a arma. Eu apenas apontei para um novo alvo.

A primeira etapa do concurso estava prestes a começar. O tema era "Reinterpretação do Clássico". Todos os competidores estavam nervosos, reclamando da dificuldade e do pouco tempo.

Ouvi a voz de Camila, mais alta que todas as outras.

"Dificuldade? Por favor. Isso aqui é brincadeira de criança para mim. Meu pai conhece um dos juízes. A vitória já é minha."

Ela se vangloriava, exibindo seu design, que era uma cópia mal disfarçada de um famoso vestido de alta-costura. Mas o que mais me chamou a atenção foi o broche de ouro que ela usava em sua jaqueta.

Era o broche da minha mãe. O único objeto de valor que eu tinha dela, que havia sumido do meu pequeno apartamento há duas semanas. Eu o procurei por toda parte, desesperada. E agora, lá estava ele, enfeitando a roupa da minha maior inimiga.

A raiva me consumiu de uma forma que nunca senti antes. João e Lucas não apenas me traíram, eles me roubaram. Eles pegaram a única memória física que eu tinha da minha mãe e deram para aquela mulher como um troféu.

Camila percebeu meu olhar. Ela tocou o broche com um sorriso vitorioso.

"Gostou? Foi um presente. De alguém que sabe reconhecer o verdadeiro talento."

A mensagem era clara.

Ela se aproximou de mim, sua voz um veneno.

"Quando eu ganhar este concurso, vou comprar o seu morro inteiro e transformar em um estacionamento. E você vai assistir a tudo, do lixo de onde você veio."

Naquele momento, toda a minha dor, toda a minha tristeza, se transformaram em uma determinação de aço. Eles não iam apenas perder. Eu ia tirar tudo deles. Tudo.

            
            

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