"Não, você disse que eu te agredi. Isso é uma acusação séria", disse Sofia, tirando o celular do bolso. "Vamos deixar as autoridades decidirem. Eles podem verificar as câmeras de segurança do salão. Elas vão mostrar exatamente quem empurrou quem."
O pânico brilhou nos olhos de Ana Lúcia e sua mãe. Elas sabiam que as câmeras provariam a inocência de Sofia.
Pedro, percebendo o perigo para sua protegida, agiu por impulso. Ele avançou e arrancou o celular da mão de Sofia.
"Você não vai chamar ninguém!", ele gritou, o rosto contorcido de raiva. "Você já causou problemas demais esta noite!"
Com um gesto violento, ele atirou o celular de Sofia no chão. O aparelho bateu no piso de mármore com um barulho seco e se estilhaçou, a tela se apagando para sempre.
Sofia olhou para os cacos de seu telefone, depois para o rosto de Pedro. A última barreira de autocontrole dela se rompeu. A raiva, a humilhação e a traição de meses se concentraram em um único momento.
Com um grito, ela se lançou sobre ele. Não para machucá-lo, mas para humilhá-lo como ele a havia humilhado. Ela o empurrou com toda a força que tinha. Pedro, ainda instável e surpreso pela fúria dela, tropeçou para trás novamente. Desta vez, ele caiu sobre a mesa principal, derrubando pratos, taças e o que restava do bolo.
O caos explodiu.
Pedro se levantou, o terno caro agora uma bagunça de comida e bebida, a fúria em seus olhos se transformando em algo perigoso. "Sua... sua louca!"
Ele avançou sobre ela, e desta vez não havia hesitação. Ele a empurrou com força no peito. O empurrão foi brutal, desequilibrando-a completamente. Sofia caiu para trás, seus pés escorregando no creme do bolo espalhado pelo chão.
Sua cabeça bateu na quina de uma mesa de centro com um som oco e terrível.
Uma dor aguda explodiu em sua nuca. O mundo girou. Por um instante, tudo ficou branco, e depois, vermelho. Ela sentiu algo quente e pegajoso escorrendo por seu cabelo e pelo lado do rosto.
Ela levou a mão à cabeça. Seus dedos voltaram cobertos de sangue.
O salão ficou em um silêncio mortal. O som de uma gota de sangue pingando no chão de mármore branco parecia ecoar no silêncio.
Sofia ficou ali, caída, o vestido de festa manchado de creme e sangue, olhando para o teto. Flashes de memória passaram por sua mente. Sua mãe, antes de "adoecer", a abraçando naquele mesmo salão. Seu pai de verdade, que morreu quando ela era pequena, ensinando-a a dançar ali. Momentos felizes, de uma vida que parecia pertencer a outra pessoa. Uma vida antes de José Silva e seu filho entrarem em sua casa e roubarem tudo.
A dor em sua cabeça era intensa, mas a dor em seu coração era pior. A traição era um gosto amargo em sua boca.
"Viram o que ela fez?", gritou Pedro, tentando desviar a culpa. "Ela me atacou! Ela é instável! Temos que tirá-la daqui! Pai, mande-a para um internato, para qualquer lugar!"
Sr. Mendes, ou melhor, José, correu para o lado de Sofia, não por preocupação, mas por pânico. Sangue. Ferimentos. Isso poderia atrair o tipo errado de atenção, a atenção que ele e seus esquemas não podiam suportar.
"Sofia, levante-se, vamos...", ele começou, mas sua voz era fraca. Ele parecia perdido, incapaz de controlar a situação que saíra de seu controle.
Sofia apenas o encarou do chão, os olhos cheios de uma dor que ele nunca entenderia. Ela não disse nada. O sangue continuava a escorrer, misturando-se com as lágrimas silenciosas que agora rolavam por seu rosto. A festa de aniversário havia se tornado um pesadelo, e ela era a única ferida de verdade.