A humilhação pública destruiu tudo. Meu pai, um homem de negócios orgulhoso, sofreu um ataque cardíaco fulminante ao ouvir a notícia. Minha mãe, já com a saúde frágil, não suportou o luto e o escândalo, e sua doença a consumiu em poucos meses.
Meu namorado, Lucas, futuro astro em ascensão, me abandonou publicamente, dizendo que sentia vergonha de um dia ter me amado.
Eu perdi tudo. Meus pais, minha reputação, meu futuro.
Então, do alto do prédio mais alto da cidade, eu me joguei.
Mas a dor da queda não veio.
Abri os olhos de repente.
A luz do sol da tarde entrava pela janela, iluminando as partículas de poeira que dançavam no ar. O cheiro de giz e de livros velhos encheu minhas narinas. O som familiar de uma caneta riscando o papel ecoava pela sala silenciosa.
Eu estava sentada em uma carteira de madeira, vestindo o uniforme azul e branco da minha escola.
Olhei para o quadro-negro. A data estava escrita com uma caligrafia caprichada: 15 de março.
O dia do primeiro simulado do ensino médio.
Eu renasci.
Voltei no tempo, para três anos antes da minha desgraça.
Um arrepio frio percorreu minha espinha. A alegria de ter uma segunda chance foi imediatamente substituída por uma fúria gelada. Eu não ia deixar a história se repetir.
A professora, a senhora Martins, caminhava pelos corredores da sala, distribuindo as provas. Ela era uma mulher dedicada, que em minha vida passada tentou me ajudar, mas acabou sendo enganada por Sofia e Lucas.
Ela colocou a folha de papel na minha mesa com um sorriso encorajador.
"Boa sorte, Maria. Sei que você vai se sair muito bem."
Na minha vida anterior, eu sorri de volta, agradeci e preenchi cada questão com a precisão de um relógio. Eu era a melhor aluna, a mais promissora. E foi exatamente essa perfeição que me destruiu.
Desta vez, eu não peguei a caneta.
Apenas fiquei ali, parada, encarando a prova em branco.
Meu coração martelava no peito, não de nervosismo, mas de uma determinação sombria. Desta vez, eu não seria a vítima. Eu seria a caçadora.
A senhora Martins parou ao lado da minha carteira novamente, sua expressão mudando de encorajamento para preocupação.
"Maria? Aconteceu alguma coisa? Você não está se sentindo bem?"
Sua voz era gentil, cheia de uma preocupação genuína que, na minha vida passada, eu não soube valorizar.
Eu levantei a cabeça e olhei para ela.
"Professora, eu não vou fazer a prova."
Minha voz saiu calma, mas firme. A sala, que antes era preenchida pelo som de canetas, ficou em silêncio. Todos os olhos se viraram para mim.
A senhora Martins franziu a testa, confusa.
"O que você quer dizer com não vai fazer a prova? Este é o simulado mais importante do ano."
"Eu sei. E eu decidi não fazer."
Antes que ela pudesse responder, meus olhos se fixaram em uma figura do outro lado da sala.
Sofia.
Ela estava sentada, com uma postura perfeita, o cabelo longo e sedoso caindo sobre os ombros. Ela escrevia furiosamente, sem sequer levantar a cabeça, como se já soubesse todas as respostas de cor.
Seu rosto era a imagem da doçura e da inocência, mas eu via através da máscara. Via a inveja, a maldade que se escondia por trás daquele sorriso perfeito.
Ao lado dela, Lucas me olhava com uma expressão de desaprovação. Ele balançou a cabeça sutilmente, como se estivesse decepcionado comigo. O mesmo Lucas que, no futuro, me apunhalaria pelas costas sem hesitar.
Sofia parou de escrever por um instante, como se sentisse meu olhar. Ela ergueu a cabeça e nossos olhos se encontraram. Ela me deu um pequeno sorriso, um sorriso que deveria ser de incentivo, mas que para mim, era a confirmação de tudo.
Ela já estava tramando. O jogo já havia começado.
E desta vez, eu estava pronta.
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