Minha Segunda Vida, Nosso Fim
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Capítulo 4

O refeitório estava barulhento, cheio de alunos almoçando e conversando. Era o lugar perfeito.

Eu peguei minha bandeja e caminhei diretamente para a mesa onde Sofia estava sentada, rindo com seus amigos e, claro, com Lucas ao seu lado.

Parei na frente da mesa, e o barulho ao redor pareceu diminuir.

"Sofia", eu disse, com a voz clara e alta. "Eu pensei na sua oferta. Eu gostaria de uma aula. Agora. Explique para todos nós, por favor, a lógica por trás da sua resolução da questão 28."

O refeitório ficou em silêncio. Todos os olhares se viraram para nós. O rosto de Sofia ficou pálido.

Antes que ela pudesse responder, Lucas se levantou abruptamente, derrubando sua cadeira.

"Maria, o que você está fazendo? Deixa a Sofia em paz!" ele rosnou, o rosto vermelho de raiva. "Você não consegue aceitar que ela é melhor que você? Está com tanta inveja que precisa humilhá-la publicamente?"

Suas palavras me atingiram, mas não da forma que ele esperava. A dor da traição da vida passada foi substituída por uma clareza fria. Eu olhei para ele, o garoto que eu um dia amei, e só vi um covarde oportunista.

"Isso não tem nada a ver com você, Lucas", eu disse, sem desviar o olhar de Sofia.

Sofia, recuperando a compostura, se levantou com uma expressão magoada. Lágrimas brotaram em seus olhos.

"Maria... por que você está fazendo isso comigo? Eu só queria te ajudar."

Então, ela fez algo que eu não esperava. Ela se virou para a multidão e começou a recitar, palavra por palavra, a explicação padrão do livro didático para resolver aquele problema. Uma explicação perfeita, que não tinha absolutamente nada a ver com o que ela escreveu na prova.

"A força resultante é calculada pela segunda lei de Newton, e a aceleração pode ser derivada usando as equações de cinemática..."

Ela falou com confiança, sua voz soando inteligente e segura. Para todos no refeitório, parecia que ela estava provando seu conhecimento de forma brilhante. A multidão começou a sussurrar a favor dela.

"Uau, ela realmente sabe."

"A Maria está sendo ridícula."

"Que invejosa."

Eu fiquei ali, paralisada. Ela era mais esperta do que eu pensava. Ela se preparou. Ela memorizou a resposta certa para se defender, mesmo que não a entendesse. Eu a subestimei.

A humilhação me engoliu. Eu parecia uma louca ciumenta.

Sem dizer mais uma palavra, eu me virei e saí correndo do refeitório, com os olhares de pena e desprezo de todos queimando nas minhas costas.

Corri para o único lugar onde sabia que estaria sozinha: o antigo ginásio, abandonado desde a construção do novo. A poeira pairava no ar, e o silêncio era pesado.

A raiva, a frustração, a impotência de duas vidas explodiram dentro de mim. Soltei um grito, um som cru e animalesco que rasgou minha garganta. Eu chutei um banco de madeira velho, que se partiu com um estalo alto. Soquei a parede acolchoada até meus nós dos dedos ficarem vermelhos e doloridos.

Eu não chorei. As lágrimas não vinham. Era apenas uma fúria pura e avassaladora.

"Eu odeio você, Sofia!", gritei para o ginásio vazio. "Eu odeio todos vocês!"

A porta do ginásio rangeu, abrindo-se. Lucas estava parado ali, com uma expressão de reprovação no rosto.

"Você enlouqueceu de vez?", ele disse, sua voz ecoando no espaço vazio.

Eu me virei para ele, respirando com dificuldade.

"O que você quer, Lucas?"

"Eu vim ver se você estava bem, mas obviamente você perdeu o controle. O que foi aquilo no refeitório, Maria? Você fez papel de boba."

"Você a defendeu", eu disse, a voz baixa e perigosa.

"Claro que defendi! Você a estava atacando sem motivo! Só porque ela tirou uma nota melhor que a sua!"

Finalmente, eu o vi como ele realmente era. Superficial. Egoísta. Atraído pelo sucesso e pela popularidade como uma mariposa pela chama.

"Nós terminamos, Lucas."

Ele riu, um som de escárnio.

"Você está terminando comigo? Por causa disso? Não seja ridícula."

"Eu nunca estive tão séria na minha vida", eu disse, caminhando em sua direção, passando por ele sem olhar para trás. "Acabou. Fique com sua garota perfeita. Vocês se merecem."

Deixei-o parado no meio do ginásio empoeirado, um fantasma de um passado que eu estava determinada a apagar.

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